terça-feira, 15 de novembro de 2011

A nova pele de Almodóvar.


O que se tem comentando amplamente a partir de A pele que habito (La piel que habito) é que Almodóvar tem se parecido cada vez menos com Almodóvar. E isso não é bom nem ruim, apenas diferente.
Pipocam por aí comentários de que o cineasta “amadureceu”. Ora, ele já não estava maduro ao filmar Fale com ela, Tudo sobre minha mãe e Volver? Com certeza que estava. Esse “novo Almodóvar” que os críticos têm anunciado trata-se apenas de uma nova faceta que o diretor começou a explorar com Abraços partidos. E que faceta!

As tramas mirabolantes e o exagero, que levam o enredo ao limite do verossímil, ainda estão lá. A diferença maior está no uso das cores (menos vermelho, ah, muito menos) e no tom do filme, deixando o melodrama para entrar no drama (com suspense, no caso de A pele).

Antonio Banderas e Elena Anaya em cena de A pele que habito.

Um famoso cirurgião plástico (Antonio Banderas) mantém presa em sua mansão uma paciente belíssima (Elena Anaya), com a cumplicidade de sua governanta (Marisa Paredes). Apesar de bizarra, a situação parece estar em equilíbrio, até que um sujeito vestindo uma esdrúxula fantasia de tigre (Roberto Álamo) lhes faz uma visita. A fantasia de tigre e os trejeitos do homem que a porta destoam do restante da concepção de direção de arte do filme. É como se Pepe, Luci, Bom visitasse Abraços Partidos, como se um toque do “velho Almodóvar” fizesse uma ponta no filme do “novo Almodóvar”.

A visita do homem-tigre desencadeia uma série de flashbacks que contam as tragédias pessoais do Dr. Robert (Banderas), como a perda da esposa e da filha. As pontas soltas vão se interligando até um desfecho surpreendente.

Almodóvar sabe compor enquadramentos maravilhosos, e as imagens que cria em A pele que habito são simplesmente magníficas. Essa habilidade visual aliada a um roteiro que cutuca o espectador, propondo-lhe questionamentos sobre a essência humana, tem como resultado um filme belíssimo tanto na forma quanto no conteúdo.

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