segunda-feira, 21 de julho de 2014

Do Cinema para a TV

A relação entre cinema e televisão vem se modificando e se adaptando desde que os meios passaram a coexistir, a partir da segunda metade da década de 1930. A princípio, os estúdios cinematográficos renegaram a televisão, rotulando-a como uma novidade passageira, mas no fundo tinham receio de perder seu espaço no mercado do entretenimento. Quem gostaria de sair para ir ao cinema quando poderia ficar em casa assistindo a programação gratuita na TV? Para combater esse concorrente, os estúdios se recusaram a vender seus filmes para compor as programações dos canais. Com o tempo, a mentalidade mudou, e muitos perceberam que não apenas vender seus filmes, mas também possuir seus próprios canais, poderia ser sua salvação.

O cinema definitivamente não morreu com o advento da televisão, mas sua lucratividade certamente diminuiu. Atualmente, são raros os filmes que saem do vermelho apenas com a projeção cinematográfica; é a vida de um filme após o circuito de cinemas que o salva da bancarrota: DVDs, video on demand (VOD) e exibições na televisão. A programação dos canais televisivos, contudo, tem se tornado mais sofisticada e atraído mais público. O equilíbrio conquistado com a cooperação está mudando gradativamente, com a balança pendendo para a televisão e com o cinema sofrendo sua maior ameaça desde a invenção desta.

Mudança de padrões e de comportamento

Diversos fatores podem ser apontados para explicar a preferência do público pela televisão em detrimento do cinema. Aparelhos cada vez maiores e com melhor qualidade de imagem a um menor preço contribuem, o fato de uma entrada de cinema custar em torno de dez dólares (ou mais, dificilmente menos), também. No Brasil ainda podemos contar com a meia entrada estudantil, entre outros benefícios; nos Estados Unidos, a meia entrada fica a critério do cinema, que pode ofertá-la em apenas um dia da semana, ou definitivamente não tê-la.

Além do custo, o “ritual” de se assistir a algo em casa é diferente de no cinema. Em casa é possível tirar os sapatos, aumentar ou abaixar o volume, conversar ou atender o telefone durante programação. No entanto, o advento que revolucionou a televisão nos últimos anos foi a possibilidade de pausar a programação e recomeçá-la quando conveniente, como permitem alguns provedores de TV a cabo e sistemas como Netflix, Hulu e Amazon. Estes últimos saltaram mais um passo a frente: permitiram ao usuário escolher sua programação a seu bel-prazer, com milhares de filmes e seriados disponíveis sem a necessidade de se deslocar até a locadora ou depender da programação dos canais.

A mudança do formato, porém, não é a única responsável pela mudança do comportamento. O conteúdo dos programas de televisão, em especial os seriados, vem se tornando cada vez melhores e atraindo cada vez mais fãs que, com a possibilidade de assistirem a temporadas seguidas no Netflix, se tornam verdadeiros “viciados”.

O ritmo rápido das séries de TV, que apesar de se arrastarem por anos, temporada após temporada, ainda precisam apresentar em cada episódio um enredo com inicio, meio e fim, e com momentos de virada dramática e clímax, cativa o espectador. Enquanto um filme consiste em aproximadamente duas horas de uma única historia que ao terminar não permite ao espectador continuar seguindo aqueles personagens, a série de TV apresenta em cada episódio uma historia acabada, mas que pertence a um universo maior do que o que cabe em um filme, e que é construído de pedaços coletados aos poucos. A série de TV precisa cativar novamente o espectador e deixa-lo querendo mais a cada episódio, e isso requer um esforço extra que, quando bem-feito, é certamente apreciado.

Aaron Paul e Bryan Cranston em Breaking Bad, série que atingiu 10.3 milhões de espectadores em seu último episódio.


Intercâmbio entre Cinema e TV

Não são apenas os usuários que estão preferindo a televisão, muitos profissionais já renomados no cinema vem diversificando seu trabalho para abranger também a telinha. Entre eles temos Martin Scorsese, que é produtor de Boardwalk Empire, além de ter dirigido um episódio da série; Robert Rodriguez, que adaptou para a TV seu filme From Dusk Till Dawn em formato de série, e já fala também em uma versão seriada de Sin City; e os atores John Malkovich, atuando em Crossbones, Eva Green, em Penny Dreadful, e Halle Berry, em Extant, entre outros. Se antigamente ser um ator de televisão era considerado um trabalho de segunda categoria, esse pensamento com certeza está mudando.

No entanto, em se tratando de diversificar sua área de atuação ninguém bate Steven Spielberg. Adiantado, ele já vem empregando seu nome a produções televisivas há mais de vinte anos, tendo recentemente produzido The Pacific, United States of Tara, Smash, Falling Skies e Under the Dome, entre outros. O mais novo lançamento televisivo com a marca Steven Spielberg de produção é Red Band Society, um drama sobre a vida de adolescentes que vivem em um hospital, com estreia prevista para setembro nos EUA.

 Game of Thrones: o sucesso que trouxe milhares de assinantes à HBO.

Um pouco de matemática financeira ajuda a explicar o crescimento da televisão. Cada episódio de Game of Thrones, por exemplo, custa entre $6 e $10 milhões, o que deixa o custo por temporada na casa dos $100 milhões de dólares, o que é considerado altíssimo em termos de televisão. O orçamento de O Grande Gatsby (2013), de Baz Luhrmann, foi de $105 milhões de dólares, o que para Hollywood é considerado normal. Em se tratando de cinema, porém, ainda é preciso acrescentar os custos com marketing e distribuição, que para um filme desse escopo não ficam por menos de $50 milhões. Sendo assim, para ser lucrativo, O Grande Gatsby precisaria arrecadar mais de $150 milhões. O acordo dos estúdios com as cadeias de cinema gira em torno dos 50%, ou seja, metade do arrecadado em bilheteria fica para os cinemas, metade retorna para o estúdio. Para pagar seus custos de produção, portanto, o filme precisaria de uma bilheteria na casa dos $300 milhões. Acabou atingindo $350, o que a grosso modo significa um retorno de $25 milhões para o estúdio, que ainda precisa distribuir esse montante entre seus investidores.

A HBO, por outro lado, precisa conquistar e manter assinantes. Ao investir em uma programação de qualidade, da qual Game of Thrones é o seriado mais assistido, o canal conseguiu atingir a marca de 40 milhões de clientes, que pagam cerca de $10 dólares por mês pelo serviço, gerando um ganho mensal de $400 milhões de dólares. Custos operacionais e de marketing à parte, o fluxo de capital é imenso.

Por fazer parte dos canais chamados “prime cable”, a HBO é mais exceção do que regra, mas acaba servindo para ilustrar a tendência da produção televisiva americana: mais dinheiro investido e mais qualidade de programação. Os canais abertos dos EUA, como a CBS, que produz NCIS e Under the Dome, e a NBC, com Crossbones e Hannibal, estão buscando “qualidade HBO” para poderem competir com a TV a cabo. Amazon e Netflix também tem investido na criação de conteúdo original, priorizando o formato TV perante o formato filme.


Com uma dificuldade cada vez maior dos estúdios em recuperarem o dinheiro investido em filmes, e com as produtoras de televisão mirando em uma qualidade mais cinematográfica (em cenários, figurinos, atuação, iluminação, direção, etc), e recebendo um alto lucro como conseqüência, a industria do cinema se vê mais ameaçada pela televisão do que nunca. 

terça-feira, 8 de julho de 2014

Comédias – temporadas 2013-2014

Fazer comédia é reconhecidamente difícil. O que é engraçado para uns não necessariamente o é para outros, e quando agradar a um vasto publico é essencial para o sucesso, o desafio aumenta. Justamente por isso que quando uma série nos faz dar aquela gargalhada aberta e genuína, sabemos imediatamente que ela é preciosa. Aqui vai a meu resumo do que foi mais precioso e vale a pena ser acompanhado (e o que vai deixar saudades) entre novatas e veteranas nessa mais recente leva de comédias.

As que surpreenderam

Mom – 1ª temporada

Christy (Anna Faris) é uma mãe solteira que trabalha como garçonete em um restaurante de luxo e luta contra o alcoolismo, frequentando reuniões de grupos de apoio para se manter sóbria. Após ter uma péssima infância graças à sua mãe também ter sido alcoólatra e viciada em drogas, Christy decide mudar sua vida para ser um melhor exemplo a seus filhos, Violet (Sadie Calvano) e Roscoe (Blake Garrett Rosenthal). Essa transformação é dificultada pelo retorno de sua mãe, Bonnie (Allison Janney), que também busca redimir seu passado.

Essa descrição parece se encaixar mais a um drama do que a uma comedia, mas acredite, Mom foi uma das séries que mais gerou risadas nessa temporada 2013/2014. A dinâmica de Anna Faris e Allison Janney é afiada, e o roteiro fornece às duas um material digno de seus talentos. As piadas caem frequentemente no humor negro. Compreensível, afinal, quando se quer rir de assuntos como alcoolismo, câncer e cadeia, piadas leves dificilmente acertam o alvo. Que venha a segunda temporada.

Allison Janney e Anna Faris interpretam mãe e filha em Mom

Brooklyn Nine-Nine - 1ª temporada

Mais uma nova queridinha na minha lista, que estreou já com um Globo de Ouro de melhor comédia e de melhor ator para Andy Samberg, que estrela como o detetive irreverente Jake Peralta. Não sei se a escolha do nome foi intencional, mas Jake é tudo o que a expressão em português “peralta” define. Apesar de gostar de fazer piadas e pegadinhas, Jake é um detetive competente, um dos melhor do distrito de polícia 99, no Brooklyn. Jake tem uma aposta com a colega Amy Santiago (Melissa Fumero) para ver qual deles consegue prender mais bandidos ate o final do ano. Se Amy perder, tera que sair com Jake no que ele promete que será “o pior encontro da vida dela”.

Outros destaques da série são Terry Crews, como o Sargento Terry Jeffords, e Stephanie Beatriz como a assustadora detetive Rosa Diaz.

Andy Samberg e Melissa Fumero como os detetives Peralta e Santiago.


As que mantiveram o pique

The Big Bang Theory – 7ª temporada

Apesar de não ter sido unanimidade entre os críticos em sua primeira temporada, The Big Bang Theory conquistou o coração dos fãs desde o início, se estabelecendo nas temporadas subsequentes não somente como um sucesso de público, mas como uma das melhores séries de comédia dos últimos tempos. Não é surpresa que a sétima temporada tenha mantido o padrão.

The Big Bang Theory tem agradado tanto que a CBS, em um gesto raro dentro do universo televisivo, se adiantou e já garantiu a renovação da série até a décima temporada.

Modern Family - 5ª temporada

Poucas séries são capazes de manter sua alta qualidade com tamanha maestria quanto Modern Family. Em sua quinta temporada, a sitcom teve como destaque o casamento de Cameron (Eric Stonestreet) e Mitchell (Jesse Tyler Ferguson), que pudemos acompanhar desde o estresse dos preparativos até o dramático dia da cerimônia.

The Middle - 5ª temporada

A família Heck passa por grandes mudanças nesse ano em que Axl (Charlie McDermott) se muda para a faculdade. Frankie (Patricia Heaton) precisa se adaptar a ausência do primogênito e ao novo emprego, enquanto Mike (Neil Flynn) continua... bem, Mike.

Essa quinta temporada foi especialmente bem construída. Ate mesmo Sue (Eden Sher), personagem que sempre considerei destratada por produtores e roteiristas, teve mais momentos de crescimento e dignidade do que na maioria das temporadas anteriores. O destaque, contudo, vai para Axl tentando reconquistar na faculdade o lugar de macho alpha que tinha no ensino médio, e para o épico episódio em que a família viaja para a Disney.

As que deixarão saudades

Raising Hope – 4ª temporada

A Fox decidiu cancelar Raising Hope após curtas quatro temporadas. Após a saída do criador Greg Garcia, a serie foi transferida para o horário de sexta-feira à noite, o que na televisão americana é considerado praticamente um suicídio. Enquanto no horário original de terça-feira Raising Hope conseguia manter uma audiência mais do que satisfatória, na sexta-feira à noite os índices despencaram. Isso ajuda a entender o porquê de a série ser cancelada em seu auge. Explica, mas não deixa os fãs menos tristes.

Nessa temporada pudemos acompanhar as loucuras da família Chance em sua forma mais criativa, em especial as situações envolvendo Virginia (Martha Plimpton) e Burt (Garret Dillahunt). Tivemos Burt criando sua própria moeda e descobrindo que ser prefeito de Natesville não é nada fácil, Virginia foi obrigada a se dar bem com sua prima Delilah e conseguiu uma promoção no emprego, e Jimmy e Sabrina re-encenaram o nascimento de Hope. A quarta temporada foi, sob vários aspectos, a melhor da série. Vai deixar saudades.

A família Chance se despede da TV na quarta temporada.


Parks and Recreation – 6ª temporada

Enquanto o final de Raising Hope foi súbito, a NBC decidiu dar a Parks and Recreation mais uma temporada para se despedir dos fãs, ou melhor, para que os fãs possam se despedir da série. Após um período de dúvidas, foi anunciado que a próxima será a sétima e última temporada da sitcom estrelada por Amy Pohler.

A sexta temporada conquistou um raro indice de 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, e mostrou, entre outras situações, a gravidez de Ann (Rashida Jones) e a luta de Leslie (Pohler) contra um recall eleitoral com o intuito de tirá-la do cargo de conselheira da cidade. As piadas quanto a absurdidade dos costumes de Pawnee e suas leis atrasadas, a rivalidade com Eagleton, as aventuras empreendedoras de Tom (Aziz Ansari) e a sabedoria máscula de Ron Swanson (Nick Offerman) continuam geniais. E no meio da temporada, com a saída de Rashida Jones e Rob Lowe, Retta e Jim O'Heir ganham mais espaço como Donna e Jerry. Merecido.

O último episódio revela o quão incerta era a renovação de Parks, que só foi decidida após o final da temporada. Com um especial de uma hora digno de series finale, os produtores se precaveram caso a série não fosse ao ar novamente. A pergunta que fica agora é: tendo a sexta temporada terminado com um salto de três anos no tempo e com um tom de encerramento, a partir de que ponto a sétima retomará? Os fãs de Leslie Knope e companhia estão ansiosos para a resposta, mas essa só vira em janeiro, já que a série agora foi escalada para a midseason, com número de episódios ainda não confirmado.  

Parks and Recreation se prepara para a sua sétima e última temporada.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

A nova temporada de Masters of Sex – e mais alguns bons dramas “de época”

Masters of Sex foi uma das melhores séries de 2013, baseada na história real de William Masters e Virginia Johnson, que iniciaram uma pesquisa pioneira sobre a sexualidade humana nos Estados Unidos em 1957, época em que o assunto era mais do que tabu. No elenco estão Michael Sheen como Dr. Masters, e Lizzy Caplan como Virginia Johnson, o que surpreendeu a todos que, como eu, não vinham acompanhando a carreira a atriz e tomaram um susto ao perceber que ela foi Janis em Mean Girls, dez anos atrás. Pois Lizzy cresceu, amadureceu, e está tão bem no papel de Virginia que sozinha já faria a série valer a pena. Felizmente, Masters of Sex tem outros fortes elementos em que se apoiar, especialmente o roteiro.


Lizzy Caplan: acima em Mean Girls, e depois como Virginia Johnson em Masters of Sex
Enquanto segue os percalços da transgressora pesquisa do Dr. Masters, a série aborda diversos temas que continuam muito atuais, dentro do ponto de vista da época, como homossexualidade e a posição da mulher na sociedade – como mãe solteira, trabalhadora, esposa. Os momentos dramáticos são intensos, especialmente os protagonizados pela genial Allison Janney e por Beau Bridges nos papéis de Margaret e Barton Scully. 

Enquanto a primeira temporada foi ao ar entre setembro e dezembro de 2013, a segunda temporada foi adiantada pelo Showtime e estréia nesse domingo, dia 13 de Julho. Vale a pena acompanhar. 


Manhattan


Também com estréia marcada para Julho, a nova série da WGN é ambientada em Los Alamos durante a II Guerra, onde o governo americano estabeleceu um laboratório secreto para dar continuidade às pesquisas que viriam a desenvolver a bomba atômica. Mais do que um laboratório, contudo, Los Alamos se transformou em uma cidade onde viviam cerca de seis mil pessoas, entre cientistas, suas esposas e filhos. 

Tudo em Los Alamos era altamente secreto, tanto que os cientistas não eram autorizados a revelarem a suas esposas o conteúdo de suas pesquisas. É um teste e tanto para qualquer casamento seguir o marido para uma cidade montada no meio do deserto, em que faltas de água e de luz eram comuns, sem saber exatamente o motivo. E para os homens não era menos difícil. Ter que lidar com o peso e as dúvidas morais de estar construindo uma arma de destruição em massa sem poder contar com o apoio das esposas não tem como ser fácil.



Entre segredos militares e a vida entediante em uma cidade no meio do nada, Manhattan promete ser uma boa mistura de ficção com realidade. Descobriremos dia 27.


Mad Men – última temporada


Mad Men dispensa introduções. A série sobre o mundo da publicidade estrelada por Jon Hamm chegou a sua sétima e última temporada esse ano, ainda que dividida em duas partes. O grand finale, sétima temporada parte II, irá ao ar somente em 2015, estendendo a reverência final da serie ganhadora de quatro Emmys de melhor drama. 

O sucesso de Mad Men com certeza impulsionou o interesse por dramas ambientados em 1950/60, e se hoje temos Masters of Sex e Manhattan, é em grande parte graças à Don Draper e companhia. A série vai deixar saudades, mas a AMC não está pronta para se despedir dos altos índices de audiência e do prestígio de sua programação de domingo à noite, e com certeza ainda será fonte de muita coisa boa. Ficamos no aguardo.