quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O relançamento de um clássico.

Há muitas coisas que me lembro do ano de 1994. Apesar de ter apenas 4 anos de idade, me lembro de acontecimentos marcantes como a morte de Airton Senna e a conquista do tetracampeonato mundial pela seleção brasileira de futebol. Lembro-me também do primeiro filme que assisti em uma sala de cinema: O Rei Leão. Dezessete anos depois, a Disney relança essa mágica animação em uma versão 3D nas salas de todo o país.

O filme é o mesmo, com a mesmíssima dublagem original, o que é muito bom - afinal, quem não ama a voz maldosa de Scar, dublado por Jorgeh Ramos, ou a força e a imponência que Paulo Flores traz à Mufasa? Em resumo, fora os efeitos 3D, a Disney não inventou mais nada. Na verdade, o relançamento desse clássico foi, a meu ver, muito mal trabalhado pela empresa.

Primeiro, esperar por 2014 para lançar uma edição comemorativa dos 20 anos, com cenas extras (pós-créditos mesmo, pois o filme em si pode acabar prejudicado com a inclusão de planos) seria muito mais interessante comercialmente. Além disso, deveria ser disponibilizada também a versão em 2D.

Estratégias de marketing à parte, O Rei Leão 3D tem levado muitos fãs crescidos ao cinema, atraídos em grande parte pela emoção de rever um de seus filmes favoritos na telona. Os efeitos de conversão do filme para três dimensões não são lá muito impressionantes, as cores reforçadas, sim, provocam um espetáculo mais interessante.



O filme é visualmente muito bonito. As cores do nascer e do pôr-do-sol são magníficas. A abertura impactante com a marcha dos animais rumo à pedra do rei, acompanhada pela música intensa continua maravilhosa mesmo após dezessete anos de sua concepção. O corte abrupto da música para a entrada do crédito de fundo negro e letras vermelhas com o título do filme é cinematograficamente muito inteligente. As músicas de Elton John são lindas e harmonizam perfeitamente com o transcorrer da trama. O Rei Leão é uma das melhores criações dos estúdios Disney, sem dúvidas.

Vale destacar a temática principal da história como grande atrativo para ir e levar as crianças ao cinema: é importante seguir em frente após uma tragédia, sem se esquecer da importância das pessoas que se foram. Simba, futuro rei leão, presencia a morte do atual rei e seu pai, Mufasa. Não consigo me lembrar de nenhum outro filme infantil recente que aborde uma situação de perda tão trágica. (Talvez a sequencia inicial de UP!, mas só). “O ciclo da vida”, explicado por Mufasa à Simba, é uma lição bonita, um modo poético de aproximar as crianças do mundo adulto e da realidade de que todos um dia se vão. E não, não é cruel mostrar aos pequenos essa realidade, não da forma como aparece no filme. Trata-se de ensinar-los a amadurecer e de acreditar que eles são seres inteligentes com capacidade para absorver tramas muito mais complexas do que apenas piadas bobas ou gags visuais.

Seguindo o famoso slogan hollywoodiano, O Rei Leão é um “filme para toda a família”, mesmo. Incluindo-se fãs crescidos, pais e crianças que vão conhecê-lo pela primeira vez.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O ano de Emma Stone


Com apenas 23 anos, Emma Stone é uma das atrizes mais quentes do momento. Após subir aos poucos com vários trabalhos para a televisão, ela estreou na telona com a comédia Superbad (2007) e ganhou destaque com A mentira (Easy A, em 2010), outra comédia. Agora, Emma consolida-se de vez em 2011.

Após ser indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz de filme musical ou comédia (A Mentira), ela arrebatou a capa da edição de Julho da Elle americana, mostrando seu novo visual de cabelos louros para o novo filme da franquia Homem Aranha, que estréia em 2012. Na refilmagem da história de Peter Parker, interpretado por Andrew Garfield, Emma será Gwen Stacy, a nova paixão do protagonista.

Emma na capa da Elle americana de julho.

Para Emma, contudo, 2012 ainda está longe. Ainda neste ano ela participa de nada menos do que três longas. A atriz pode ser vista em Amor à toda prova (Crazy, stupid, Love), que chegou aos cinemas brasileiros hoje, e em Amizade Colorida (Friends with Benefits), que virá lá pelo dia 30 de setembro. Apesar de aplaudida por seu timing para a comédia, o filme mais interessante do ano com sua participação talvez seja Vidas Cruzadas (The Help), drama baseado no bestseller da americana Kathryn Stockett.

Um ano movimentado para Emma, que teve que renunciar à oferta de participar de Sucker Punch por questões de agenda – ou seja, excesso de solicitações. Se seu trabalho continuar com a solidez que vem apresentando, tudo indica que os próximos anos serão tão agitados para ela quanto 2011.


Vidas Cruzadas (The Help)

Situado em Jackson, Mississipi, nos anos 1960, trata do racismo americano contra negros, enfocando as relações entre mulheres de diferentes classes sociais e cores de pele. Eugenia ‘Skeeter’ Phelan (Emma Stone) é uma aspirante a jornalista que decide revelar em um livro os atos de preconceitos praticados pelas senhoras brancas, sendo o mais básico deles o de não permitir que as empregadas negras utilizem os mesmos banheiros que os patrões.

Em seu segundo final de semana em cartaz nos Estados Unidos, Vidas Cruzadas atingiu o topo da lista de maiores bilheterias, superando Planeta dos Macacos: a origem. No Brasil, por enquanto, só temos o trailer, mas já é o bastante para sugerir que se trata de um filme pelo qual vale a pena esperar. A estréia está marcada para 16 de setembro.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Um convite à contemplação.

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, A Árvore da Vida (The Tree of Life), do cineasta Terrence Malick, era um dos filmes mais aguardados de 2011. Após passar por três anos de pós-produção, o resultado final divide opiniões. Na sala em que assisti a obra, foi fácil perceber que a maioria dos presentes não gostou, enquanto conhecidos meus relataram terem visto várias pessoas saírem da sala no meio da projeção em que compareceram. Até mesmo Sean Penn criticou o filme e o diretor, comentando sobre sua própria participação: “Eu ainda estou tentando entender o que eu estou fazendo lá.” (Em tradução livre, original em inglês aqui). A maioria dos críticos, contudo, o aplaudiu de pé.

Grande parte do descontentamento do público com A Árvore da Vida se deve ao fato de que, de um modo geral, não estamos acostumados a filmes tão contemplativos, com narrativas tão abertas e com tão poucas explicações. A idéia de ir ao cinema para pensar, sentir e refletir sobre a grandiosidade da vida não é algo comum ao dia-a-dia dos brasileiros. E a grande verdade é que encontrar filmes desse tipo nos cinemas (pelo menos aqui em Brasília) é muito difícil. É preciso que se ganhe a Palma de Ouro para entrar no circuito brasiliense, caso você não seja uma superprodução hollywoodiana, não tenha sido produzido pela Globo Filmes ou não esteja entre a cota de filmes brasileiros que o governo obriga os cinemas a exibirem. No fim, o brasileiro não enxerga o cinema como um instrumento de reflexão não por uma questão de falta de cultura, mas por uma questão de falta de opções.

Questões de distribuição e mercado à parte, o fato é que sentar em uma sala de cinema e assistir a um filme em que pelo menos 70% das cenas mostram apenas a natureza (ondas enormes e vulcões em erupção, entre outros) ao som de música instrumental acompanhada por um coral é um exercício de paciência. É um exercício de parar e admirar. De não se preocupar com enredo ou com falas, com o que faz sentido ou não. De não prestar atenção em uma “história”, mas deixar seus pensamentos fluírem ao som da música e ao ritmo das imagens.

Jack (Hunter McCracken) na infância com a mãe (Jessica Chastain)...

Malick propõem uma experiência predominantemente sensorial, com imagens de uma beleza esmagadora acompanhadas por uma música poderosa que praticamente não para de tocar. No começo, uma mulher (Jessica Chastain) recebe uma notícia por telegrama. A dor que o comunicado lhe traz a faz gritar. Um homem (Brad Pitt), recebe em seu local de trabalho um telefonema cujas palavras não podem ser ouvidas pelo espectador devido ao barulho ensurdecedor de um avião próximo, mas é possível distinguir a boca do homem formando um “What?” (“O quê?”) completamente incrédulo. Em seguida descobrimos que o homem e a mulher são um casal, e que esse casal acabou de perder um dos três filhos. Após uma breve cena com pessoas vestidas de preto, algumas consolando a mulher, ouvimos sua voz em off questionar a Deus, pedir por Ele. Imagens do cosmos se seguem.

É nesse momento que uma revisão da criação do universo, e mais especificamente da Terra, tem início. Das estrelas, vamos a um vulcão em erupção, à força dos mares e ao surgimento da vida nos oceanos. A mensagem de que a vida de um ser humano é pequena diante de tamanha grandeza torna-se perturbadoramente clara. A dor da família mutilada pela morte do filho, contudo, não deixa de ser intensa.

... e quando adulto (Sean Penn), vagando pelo mundo, ou pelas lembranças de sua vida.

Aos poucos, conhecemos um pouco melhor a história dessa família. Assistimos, um a um, aos filhos nascerem e serem imensamente amados pela mãe. Em algo que parece ser um verão eterno, os meninos crescem, entre aventuras e brincadeiras. O pai logo se revela um disciplinador rigoroso, até mesmo agressivo, mas que sofre internamente por não conseguir ser o homem importante que sempre sonhou. O sonho americano do self-made man não se realizou para ele, apesar de seus esforços. Ele procura ensinar os filhos a serem fortes, mas é um homem cheio de contradições. “Ele diz: não ponha os cotovelos na mesa. Mas ele põe.” “Ele diz: não minta. Mas ele mente.” – são apenas alguns dos exemplos percebidos pelo filho mais velho, Jack, interpretado por Hunter McCracken na infância e Sean Penn na idade adulta.

A raiva e o ressentimento que Jack sente pelo pai, que cobra muito mais do primogênito do que dos mais novos, ficam explícitos. Esses sentimentos são reforçados pelo ciúme que o garoto sente ao ver a mãe tratar com carinho e afeto – mesmo tratamento que o próprio Jack recebe, diga-se de passagem – aos irmãos. Jack fica dividido entre o amor e a doçura da mãe e a rigorosidade e brutalidade do pai. Nada disso, contudo, é exposto em grandes diálogos, ou mesmo tratado de forma linear. É tarefa do espectador juntar dois mais dois para formar quatro, situação que, ao contrário da crença popular, nem sempre gera nesse espectador a gratidão esperada. Até porque, em se tratando de A Árvore da Vida, dois mais dois podem muito bem serem cinco.

Brad Pitt dá vida aos contrastes do Sr. O'Brian: pai amoroso e brutalmente rígido ao mesmo tempo.

Cenas de Jack quando criança e quando adulto se alternam, e a participação de Sean Penn mostra um homem perdido nas reminiscencias de seu passado - se apenas por um dia ou se por vários anos, não se pode dizer. Profundamente marcado por sua infância, pelo contraste entre as personalidades de seus pais (inclusive pelas próprias contradições que o pai apresenta em si mesmo) e pela morte do irmão, ele procura alguém, que pode ser o pai, o irmão ou mesmo Deus.

A procura por Deus em meio à vida cotidiana, com suas alegrias e tristezas, seus conflitos e conciliações, traz questionamentos sobre qual seria o lugar desse Deus na vida das pessoas, e qual seria o lugar das pessoas na vida (se é que se pode chamar assim) de Deus. E apesar de a religião demonstrada no filme ser a católica, não há nenhum direcionamento para essa doutrina. Cabe a cada um questionar-se dentro de suas próprias crenças.

Terrence Malick não criou um filme difícil de entender, mas um filme com múltiplas interpretações, que faz pensar e questionar. A beleza e a força das imagens convidam o espectador à contemplação – e é isso que nem sempre agrada, mas que encanta aqueles que se dispõem a tentar.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Nada vai dar certo.


Ainda tentando superar a decepção de não encontrar Melancolia no circuito brasiliense de cinema (sem a Academia de tênis e sem o Embracine estamos mesmo perdidos) fui ao cinema. Impedida de chorar com Von Trier, resolvi rir com Hugo Carvana. Não se preocupe, nada vai dar certo é uma comédia que traz um pai e um filho atores, que viajam pelo Brasil fazendo a vida entre shows e armações.

Lalau Velasco (Gregório Duvivier) realiza um show de stand-up comedy em que o principal assunto é sua relação com o malandro ator Ramon Velasco (Tarcísio Meira), seu pai. O velho é um malandro carioca de primeira linha transplantado para o nordeste, com direito a terno branco e panamá. Ele usa seus talentos de ator para aplicar golpes e tem como bordão a máxima: “Não se preocupe, nada vai dar certo!” O maior de desejo de Ramon Velasco é voltar a atuar ao lado do filho, que por sua vez reluta em aceitar a idéia. É quando Lalau aceita fingir ser um famoso guru indiano por duas semanas que o desejo se realiza, mas na vida real e não nos palcos.

Nada vai dar certo: Tarcísio Meira e Gregório Duviver como pai e filho.

Não é uma comédia para rir do princípio ao fim. O ápice é a versão de Duviver do guru indiano Bob Savanandra, e os múltiplos papéis que Tarcísio Meira representa durante a farsa. O filme apresenta alguns problemas, como a cena totalmente descartável que mostra um Lalau criança observando o pai atuar, e a cena em que Ramon vai buscar o filho e com isso irrita Rosa (Mariana Rios), cena esta que poderia ter sido melhor trabalhada.

De um modo geral, é um filme colorido e divertido, mas que compartilha do mesmo defeito que as recentes produções com atores globais têm demonstrado: passa a estranha sensação de ser um especial de fim de ano da emissora.