sábado, 4 de outubro de 2014

Me rendi ao wordpress

Blogger, foi bom enquanto durou.

Sempre tive resistência ao Wordpress por achá-lo muito complexo. Recentemente, porém, decidi começar a escrever resenhas também em inglês, mas não queria criar outro blog especificamente para isso nem misturar inglês e português aqui no Blogger. Testei o Wordpress e acabei achando-o mais eficiente na hora de separar os idiomas. Além disso, a comunidade do Wordpress é muito mais ativa, o que me estimula mais a manter o blog sempre atualizado.

Então é isso, agora estou no Wordpress:http://exercine.wordpress.com/

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A despedida de Boardwalk Empire

Todo o império um dia chega ao fim, e o término do império de Nucky Thompson no calçadão de Atlantic City já está anunciado. Começou no último domingo, 7 de setembro, a quinta e última temporada de Boardwalk Empire. 

No primeiro episódio da temporada já podemos ver o clima sombrio e desesperado da grande depressão que havia sido anunciado pelos produtores. O ano é 1931, e Nucky deixou Atlantic City e os Estados Unidos para passar uma temporada em Havana, enquanto coloca seus planos em ordem e reorganiza seus negócios. Margaret ainda está em Nova Iorque, lidando com uma bolsa de valores quebrada e chefes em estado de total desespero. Chalky White cumpre pena com trabalho forçado, descobrindo que prisão e escravatura tem muito em comum. 



O episódio é construído sob o paralelo entre a infância pobre de Nucky e suas tentativas para conseguir alguns trocados no calçadão de Atlantic City, e Nucky adulto, em uma Havana à beira da revolução, tentando se reerguer por meio de sua influência política e riqueza. Nunca antes a série havia explorado tão a fundo o passado de um personagem. Já sabíamos que Nucky nascera pobre, e que seu pai fora um beberrão bruto; também já era conhecida a relação entre Thompson e o Comodoro. Testemunhar como essa relação se formou, contudo, traz uma nova perspectiva sobre os personagens. 

A animação e o otimismo da era do Jazz deu lugar à suspeita, à incerteza e à instabilidade. Até mesmo as festas cubanas embaladas por rum e salsa não parecem tão animadas quanto às noitadas no Babette’s. Mesmo inundada em luz solar amarelada e quente, Havana tem suas cores esmaecidas e apagadas, porém, apagadas mesmo são as memórias da infância de Nucky. Margaret e Chalky parecem viver em uma noite sem fim em suas respectivas realidades em Wall Street e na prisão. Lucky Luciano continua em sua jornada de ascendência ao poder dentro da Máfia Italiana, e a Cosa Nostra está mais sombria do que nunca. 



O episódio funciona bem para estabelecer o clima da temporada e localizar alguns dos principais personagens. O episódio concentrado em apenas quatro esferas de ação (Nucky, Margaret, Chalky e Luciano), deixa em aberto os destinos de Eli, Van Alden, Arnold Rothstein, Al Capone, entre outros. Fica a curiosidade para os próximos episódios. 

Mais Martin Scorsese na HBO

Ao dirigir o piloto de Boardwalk Empire o produtor Martin Scorsese definiu o estilo e o clima da série. Agora, sua próxima parceria com a HBO será uma série ambientada Ashecliffe, o hospital para doentes mentais do filme Shutter Island (A Ilha do Medo). O projeto ainda está em estágio inicial de desenvolvimento, e deve contar histórias que se passam antes da chegada do personagem de Leonardo DiCaprio à ilha, sendo que Scorsese deve dirigir novamente o episódio piloto. 

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

The Lego Movie

Finalmente consegui assistir a The Lego Movie, que chegou ao Brasil como Uma Aventura Lego. Após conquistar diversas criticas positivas e a marca de 96% de aprovação entre os críticos do Rotten Tomatoes, não há como negar que minha curiosidade e expectativas estavam grandes. Eu recentemente tenho descoberto, contudo, que meu tomatômetro nem sempre bate com o do site. Achei o filme divertido, ri, mas não sei se consigo considerá-lo bom, ou apenas um acumulado de bobagens surreais com algumas boas piadas. Um South Park aguado para todas as idades.

O herói do filme é Emmet, um operário de construção cujo sonho é se enturmar e ter muitos amigos, mas apesar de seguir à risca todos os guias de comportamento disponíveis, ele continua solitário. Quando Emmet fica para trás após um longo dia de trabalho, ele conhece Megaestilo, uma garota despojada que vive fora das regras e convenções da sociedade Lego.  Megaestilo busca a peça da resistência, que acaba sendo encontrada por Emmet. Assim, ele se torna O Especial, aquele destinado a salvar o mundo dos planos malignos do Presidente Negócios. 

Presidente Negócios quer que os múltiplos mundos aos quais controla sejam organizados e estáticos. Os legos do velho oeste não podem se misturar com os legos da cidade, ou com os legos do mar de piratas, e por aí em diante. Para ele, tudo o que é montado de acordo com a criatividade, e não de acordo com o manual, está errado. Emmet deve se unir aos Mestres Construtores para evitar que os mundos sejam congelados pelo maligno presidente.



Lego reflete nas telas o que o brinquedo é na realidade: uma explosão de cores primárias e vários bonequinhos de rosto amarelo e olhar simpático (a maioria). É inegável a diversão de ver todos aqueles queridos elementos de lego ganhando vida: as peças que representam fogo, a água, entre outros. 

A lição do filme, ou a "moral da história", é muito bonitinha e excelente para o público infantil. Para os adultos, a diversão fica por conta do "bipolar" Guarda Mau (Good Cop/ Bad Cop), cuja cabeça gira e incorpora as duas faces da clássica dupla dos seriados e filmes policiais americanos. A vida de Emmet no início do filme também pode servir de tapa na cara de muita gente, já que a maior crítica que o filme faz é à conformidade e à padronização dos indivíduos.

Gostando ou não, rindo com o filme ou não, é inegável que após assisti-lo a vontade de voltar a brincar com os tijolinhos coloridos e com os bonequinhos de rosto amarelo fica quase irresistível. 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Quatro anos (ou quase) de Exercine

Não gosto de deixar o aniversário do blog passar em branco, apesar de ter deixado o ano passado inteiro passar em branco. Acho que escrever é um exercício para o qual eu nem sempre tenho inclinação ou aptidão. Foi bom ter voltado, apesar de ainda estar voltando aos poucos, pulando meses e deixando mais espaços em branco do que preenchidos. Seja como for, parabéns para o Exercine e parabéns para mim que, mesmo com todas as falhas, estou orgulhosa por finalmente poder dizer que mantenho um blog. Nenhuma das minhas outras tentativas durou tanto, e essa está longe do fim. 


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Clássicos do Cinema - A Marca da Maldade

Orson Welles teve uma passagem conturbada por Hollywood. O controle dos estúdios sobre as produções podava sua criatividade, e muitas de suas inovações eram vistas como estranhas ou desnecessárias pelos executivos. Cidadão Kane (1941) foi o único filme em que o diretor gozou de liberdade criativa plena. 

Após completar A Marca da Maldade (Touch of Evil), em 1958, Welles viu sua obra mutilada pelo estúdio, que gravou cenas extras e reeditou o filme, gerando algo completamente diferente do que o diretor pretendia. Em resposta, Welles escreveu um manifesto de mais de cinquenta páginas, descrevendo todas as mudanças que deveriam ser feitas para que o filme voltasse a se encaixar em sua visão. No entanto, a versão do estúdio, que buscava ser a mais comercial possível, prevaleceu. Orson Welles foi atendido apenas quarenta anos depois, quando uma versão restaurada do filme foi feita com base em seu manifesto.

Enredo e temática

A Marca da Maldade se passa na fronteira entre México e Estados Unidos, onde duas cidades fronteiriças se mostram mais semelhantes do que se poderia imaginar. Quando uma bomba plantada em um carro em solo mexicano cruza a fronteira e explode em território estadunidense, vitimando um influente homem de negócios e sua amante, a polícia dos dois países se vê envolvida em uma investigação complicada não apenas por questões de jurisdição, mas pelos métodos e egos dos principais detetives envolvidos, Quinlan (Orson Welles), do lado americano, e Vargas (Charlton Heston), do mexicano.

Os dois detetives são famosos e respeitados em seus respectivos países. Quinlan é reconhecido por ter colocado muitos criminosos no corredor da morte, e por ter "palpites" que frequentemente o colocam na direção dos culpados. Vargas é um policial mais jovem, mas já com um impressionante histórico na divisão de narcóticos da polícia mexicana. Enquanto Quinlan é carrancudo e de aparência quase grotesca (distorcido pela maquiagem pesada de Orson Welles e pelo ângulo contra-plongée em que o personagem foi filmado), Vargas é carismático e atraente. Quinlan age acima da lei, plantando evidências e enquadrando aqueles que considera culpados antes mesmo de ter provas concretas, já Vargas age como um verdadeiro o paladino da justiça e não poderia ser mais diligente em sua busca pela verdade.

Charlton Heston como Vargas, e Orson Welles como Quinlan em A Marca da Maldade 

As atitudes e aparências dos dois não poderiam ser mais distintas, mas no fundo, ambos são mais parecidos do que gostariam de admitir. Quinlan pode agir de forma ilícita e imoral, mas o faz por perseguir uma boa causa: prender criminosos que, pelo menos em sua percepção, são culpados. Marcado profundamente pela perda de sua mulher - o único homicídio que não conseguiu resolver - e por sua luta contra o alcoolismo, Quinlan é um personagem que sufoca suas fraquezas com brutalidade e autoritarismo. Vargas, por outro lado, se deixa envolver com sua investigação ao ponto de negligenciar sua própria esposa, expondo-a ao tormento de bandidos.

Quando Vargas descobre que Quinlan planta evidências para sustentar seus famosos "palpites" e incriminar quem considera culpado, ele inicia uma busca obsessiva para provar que está certo. A partir do momento em que Vargas estabelece a dúvida sobre a integridade de Quinlan, todos os casos resolvidos pelo detetive americano ficam sob suspeita.

A tênue linha entre o certo e o errado, a dúvida justificada e o ego do justiceiro; estes são temas do filme simbolizados, inclusive, pelo ato tantas vezes repetido de cruzar a fronteira.

Cinematografia do suspense - o famoso plano seqüência de abertura

A Marca da Maldade inicia com um elaborado plano seqüência com mais de dois minutos de duração, em que vemos uma bomba sendo armada e posicionada em um carro, e o trajeto do veículo até o momento da explosão. O carro avança e é detido em diversos momentos, por um guarda de transito, por pedestres que atravessam a rua e até mesmo pela passagem de um rebanho de cabras. O casal de protagonistas, Vargas (Charlton Heston) e Susan (Janet Leigh), caminha na mesma rua, ocasionalmente se aproximando ou se afastando do carro com a bomba, alheios ao perigo. A coreografia da cena, aliada ao fato de ser um plano ininterrupto, ao som ambiente e aos diálogos, cria um clima de suspense único.

Abaixo, a cena de acordo com as especificações do diretor.



A versão original do estúdio inclui os créditos de abertura, pouco som ambiente antes do diálogo entre Vargas e os policiais na fronteira, e uma música não-diegética que distrai o espectador da ação, tudo isso contribuindo para praticamente eliminar o clima de suspense da cena. Não foi à toa que Orson Welles ficou tão irritado com a interferência do estúdio em sua criação.

Abaixo, a versão editada pelo estúdio.


A Marca da Maldade possui diversos outros elementos interessantes, como a fotografia, a escolha dos ângulos de câmera e a composição da mise-en-scène. O enredo deixa a dúvida final: estava Quinlan correto em suas acusações? Cada espectador tem suas próprias conclusões. 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Do Cinema para a TV

A relação entre cinema e televisão vem se modificando e se adaptando desde que os meios passaram a coexistir, a partir da segunda metade da década de 1930. A princípio, os estúdios cinematográficos renegaram a televisão, rotulando-a como uma novidade passageira, mas no fundo tinham receio de perder seu espaço no mercado do entretenimento. Quem gostaria de sair para ir ao cinema quando poderia ficar em casa assistindo a programação gratuita na TV? Para combater esse concorrente, os estúdios se recusaram a vender seus filmes para compor as programações dos canais. Com o tempo, a mentalidade mudou, e muitos perceberam que não apenas vender seus filmes, mas também possuir seus próprios canais, poderia ser sua salvação.

O cinema definitivamente não morreu com o advento da televisão, mas sua lucratividade certamente diminuiu. Atualmente, são raros os filmes que saem do vermelho apenas com a projeção cinematográfica; é a vida de um filme após o circuito de cinemas que o salva da bancarrota: DVDs, video on demand (VOD) e exibições na televisão. A programação dos canais televisivos, contudo, tem se tornado mais sofisticada e atraído mais público. O equilíbrio conquistado com a cooperação está mudando gradativamente, com a balança pendendo para a televisão e com o cinema sofrendo sua maior ameaça desde a invenção desta.

Mudança de padrões e de comportamento

Diversos fatores podem ser apontados para explicar a preferência do público pela televisão em detrimento do cinema. Aparelhos cada vez maiores e com melhor qualidade de imagem a um menor preço contribuem, o fato de uma entrada de cinema custar em torno de dez dólares (ou mais, dificilmente menos), também. No Brasil ainda podemos contar com a meia entrada estudantil, entre outros benefícios; nos Estados Unidos, a meia entrada fica a critério do cinema, que pode ofertá-la em apenas um dia da semana, ou definitivamente não tê-la.

Além do custo, o “ritual” de se assistir a algo em casa é diferente de no cinema. Em casa é possível tirar os sapatos, aumentar ou abaixar o volume, conversar ou atender o telefone durante programação. No entanto, o advento que revolucionou a televisão nos últimos anos foi a possibilidade de pausar a programação e recomeçá-la quando conveniente, como permitem alguns provedores de TV a cabo e sistemas como Netflix, Hulu e Amazon. Estes últimos saltaram mais um passo a frente: permitiram ao usuário escolher sua programação a seu bel-prazer, com milhares de filmes e seriados disponíveis sem a necessidade de se deslocar até a locadora ou depender da programação dos canais.

A mudança do formato, porém, não é a única responsável pela mudança do comportamento. O conteúdo dos programas de televisão, em especial os seriados, vem se tornando cada vez melhores e atraindo cada vez mais fãs que, com a possibilidade de assistirem a temporadas seguidas no Netflix, se tornam verdadeiros “viciados”.

O ritmo rápido das séries de TV, que apesar de se arrastarem por anos, temporada após temporada, ainda precisam apresentar em cada episódio um enredo com inicio, meio e fim, e com momentos de virada dramática e clímax, cativa o espectador. Enquanto um filme consiste em aproximadamente duas horas de uma única historia que ao terminar não permite ao espectador continuar seguindo aqueles personagens, a série de TV apresenta em cada episódio uma historia acabada, mas que pertence a um universo maior do que o que cabe em um filme, e que é construído de pedaços coletados aos poucos. A série de TV precisa cativar novamente o espectador e deixa-lo querendo mais a cada episódio, e isso requer um esforço extra que, quando bem-feito, é certamente apreciado.

Aaron Paul e Bryan Cranston em Breaking Bad, série que atingiu 10.3 milhões de espectadores em seu último episódio.


Intercâmbio entre Cinema e TV

Não são apenas os usuários que estão preferindo a televisão, muitos profissionais já renomados no cinema vem diversificando seu trabalho para abranger também a telinha. Entre eles temos Martin Scorsese, que é produtor de Boardwalk Empire, além de ter dirigido um episódio da série; Robert Rodriguez, que adaptou para a TV seu filme From Dusk Till Dawn em formato de série, e já fala também em uma versão seriada de Sin City; e os atores John Malkovich, atuando em Crossbones, Eva Green, em Penny Dreadful, e Halle Berry, em Extant, entre outros. Se antigamente ser um ator de televisão era considerado um trabalho de segunda categoria, esse pensamento com certeza está mudando.

No entanto, em se tratando de diversificar sua área de atuação ninguém bate Steven Spielberg. Adiantado, ele já vem empregando seu nome a produções televisivas há mais de vinte anos, tendo recentemente produzido The Pacific, United States of Tara, Smash, Falling Skies e Under the Dome, entre outros. O mais novo lançamento televisivo com a marca Steven Spielberg de produção é Red Band Society, um drama sobre a vida de adolescentes que vivem em um hospital, com estreia prevista para setembro nos EUA.

 Game of Thrones: o sucesso que trouxe milhares de assinantes à HBO.

Um pouco de matemática financeira ajuda a explicar o crescimento da televisão. Cada episódio de Game of Thrones, por exemplo, custa entre $6 e $10 milhões, o que deixa o custo por temporada na casa dos $100 milhões de dólares, o que é considerado altíssimo em termos de televisão. O orçamento de O Grande Gatsby (2013), de Baz Luhrmann, foi de $105 milhões de dólares, o que para Hollywood é considerado normal. Em se tratando de cinema, porém, ainda é preciso acrescentar os custos com marketing e distribuição, que para um filme desse escopo não ficam por menos de $50 milhões. Sendo assim, para ser lucrativo, O Grande Gatsby precisaria arrecadar mais de $150 milhões. O acordo dos estúdios com as cadeias de cinema gira em torno dos 50%, ou seja, metade do arrecadado em bilheteria fica para os cinemas, metade retorna para o estúdio. Para pagar seus custos de produção, portanto, o filme precisaria de uma bilheteria na casa dos $300 milhões. Acabou atingindo $350, o que a grosso modo significa um retorno de $25 milhões para o estúdio, que ainda precisa distribuir esse montante entre seus investidores.

A HBO, por outro lado, precisa conquistar e manter assinantes. Ao investir em uma programação de qualidade, da qual Game of Thrones é o seriado mais assistido, o canal conseguiu atingir a marca de 40 milhões de clientes, que pagam cerca de $10 dólares por mês pelo serviço, gerando um ganho mensal de $400 milhões de dólares. Custos operacionais e de marketing à parte, o fluxo de capital é imenso.

Por fazer parte dos canais chamados “prime cable”, a HBO é mais exceção do que regra, mas acaba servindo para ilustrar a tendência da produção televisiva americana: mais dinheiro investido e mais qualidade de programação. Os canais abertos dos EUA, como a CBS, que produz NCIS e Under the Dome, e a NBC, com Crossbones e Hannibal, estão buscando “qualidade HBO” para poderem competir com a TV a cabo. Amazon e Netflix também tem investido na criação de conteúdo original, priorizando o formato TV perante o formato filme.


Com uma dificuldade cada vez maior dos estúdios em recuperarem o dinheiro investido em filmes, e com as produtoras de televisão mirando em uma qualidade mais cinematográfica (em cenários, figurinos, atuação, iluminação, direção, etc), e recebendo um alto lucro como conseqüência, a industria do cinema se vê mais ameaçada pela televisão do que nunca. 

terça-feira, 8 de julho de 2014

Comédias – temporadas 2013-2014

Fazer comédia é reconhecidamente difícil. O que é engraçado para uns não necessariamente o é para outros, e quando agradar a um vasto publico é essencial para o sucesso, o desafio aumenta. Justamente por isso que quando uma série nos faz dar aquela gargalhada aberta e genuína, sabemos imediatamente que ela é preciosa. Aqui vai a meu resumo do que foi mais precioso e vale a pena ser acompanhado (e o que vai deixar saudades) entre novatas e veteranas nessa mais recente leva de comédias.

As que surpreenderam

Mom – 1ª temporada

Christy (Anna Faris) é uma mãe solteira que trabalha como garçonete em um restaurante de luxo e luta contra o alcoolismo, frequentando reuniões de grupos de apoio para se manter sóbria. Após ter uma péssima infância graças à sua mãe também ter sido alcoólatra e viciada em drogas, Christy decide mudar sua vida para ser um melhor exemplo a seus filhos, Violet (Sadie Calvano) e Roscoe (Blake Garrett Rosenthal). Essa transformação é dificultada pelo retorno de sua mãe, Bonnie (Allison Janney), que também busca redimir seu passado.

Essa descrição parece se encaixar mais a um drama do que a uma comedia, mas acredite, Mom foi uma das séries que mais gerou risadas nessa temporada 2013/2014. A dinâmica de Anna Faris e Allison Janney é afiada, e o roteiro fornece às duas um material digno de seus talentos. As piadas caem frequentemente no humor negro. Compreensível, afinal, quando se quer rir de assuntos como alcoolismo, câncer e cadeia, piadas leves dificilmente acertam o alvo. Que venha a segunda temporada.

Allison Janney e Anna Faris interpretam mãe e filha em Mom

Brooklyn Nine-Nine - 1ª temporada

Mais uma nova queridinha na minha lista, que estreou já com um Globo de Ouro de melhor comédia e de melhor ator para Andy Samberg, que estrela como o detetive irreverente Jake Peralta. Não sei se a escolha do nome foi intencional, mas Jake é tudo o que a expressão em português “peralta” define. Apesar de gostar de fazer piadas e pegadinhas, Jake é um detetive competente, um dos melhor do distrito de polícia 99, no Brooklyn. Jake tem uma aposta com a colega Amy Santiago (Melissa Fumero) para ver qual deles consegue prender mais bandidos ate o final do ano. Se Amy perder, tera que sair com Jake no que ele promete que será “o pior encontro da vida dela”.

Outros destaques da série são Terry Crews, como o Sargento Terry Jeffords, e Stephanie Beatriz como a assustadora detetive Rosa Diaz.

Andy Samberg e Melissa Fumero como os detetives Peralta e Santiago.


As que mantiveram o pique

The Big Bang Theory – 7ª temporada

Apesar de não ter sido unanimidade entre os críticos em sua primeira temporada, The Big Bang Theory conquistou o coração dos fãs desde o início, se estabelecendo nas temporadas subsequentes não somente como um sucesso de público, mas como uma das melhores séries de comédia dos últimos tempos. Não é surpresa que a sétima temporada tenha mantido o padrão.

The Big Bang Theory tem agradado tanto que a CBS, em um gesto raro dentro do universo televisivo, se adiantou e já garantiu a renovação da série até a décima temporada.

Modern Family - 5ª temporada

Poucas séries são capazes de manter sua alta qualidade com tamanha maestria quanto Modern Family. Em sua quinta temporada, a sitcom teve como destaque o casamento de Cameron (Eric Stonestreet) e Mitchell (Jesse Tyler Ferguson), que pudemos acompanhar desde o estresse dos preparativos até o dramático dia da cerimônia.

The Middle - 5ª temporada

A família Heck passa por grandes mudanças nesse ano em que Axl (Charlie McDermott) se muda para a faculdade. Frankie (Patricia Heaton) precisa se adaptar a ausência do primogênito e ao novo emprego, enquanto Mike (Neil Flynn) continua... bem, Mike.

Essa quinta temporada foi especialmente bem construída. Ate mesmo Sue (Eden Sher), personagem que sempre considerei destratada por produtores e roteiristas, teve mais momentos de crescimento e dignidade do que na maioria das temporadas anteriores. O destaque, contudo, vai para Axl tentando reconquistar na faculdade o lugar de macho alpha que tinha no ensino médio, e para o épico episódio em que a família viaja para a Disney.

As que deixarão saudades

Raising Hope – 4ª temporada

A Fox decidiu cancelar Raising Hope após curtas quatro temporadas. Após a saída do criador Greg Garcia, a serie foi transferida para o horário de sexta-feira à noite, o que na televisão americana é considerado praticamente um suicídio. Enquanto no horário original de terça-feira Raising Hope conseguia manter uma audiência mais do que satisfatória, na sexta-feira à noite os índices despencaram. Isso ajuda a entender o porquê de a série ser cancelada em seu auge. Explica, mas não deixa os fãs menos tristes.

Nessa temporada pudemos acompanhar as loucuras da família Chance em sua forma mais criativa, em especial as situações envolvendo Virginia (Martha Plimpton) e Burt (Garret Dillahunt). Tivemos Burt criando sua própria moeda e descobrindo que ser prefeito de Natesville não é nada fácil, Virginia foi obrigada a se dar bem com sua prima Delilah e conseguiu uma promoção no emprego, e Jimmy e Sabrina re-encenaram o nascimento de Hope. A quarta temporada foi, sob vários aspectos, a melhor da série. Vai deixar saudades.

A família Chance se despede da TV na quarta temporada.


Parks and Recreation – 6ª temporada

Enquanto o final de Raising Hope foi súbito, a NBC decidiu dar a Parks and Recreation mais uma temporada para se despedir dos fãs, ou melhor, para que os fãs possam se despedir da série. Após um período de dúvidas, foi anunciado que a próxima será a sétima e última temporada da sitcom estrelada por Amy Pohler.

A sexta temporada conquistou um raro indice de 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, e mostrou, entre outras situações, a gravidez de Ann (Rashida Jones) e a luta de Leslie (Pohler) contra um recall eleitoral com o intuito de tirá-la do cargo de conselheira da cidade. As piadas quanto a absurdidade dos costumes de Pawnee e suas leis atrasadas, a rivalidade com Eagleton, as aventuras empreendedoras de Tom (Aziz Ansari) e a sabedoria máscula de Ron Swanson (Nick Offerman) continuam geniais. E no meio da temporada, com a saída de Rashida Jones e Rob Lowe, Retta e Jim O'Heir ganham mais espaço como Donna e Jerry. Merecido.

O último episódio revela o quão incerta era a renovação de Parks, que só foi decidida após o final da temporada. Com um especial de uma hora digno de series finale, os produtores se precaveram caso a série não fosse ao ar novamente. A pergunta que fica agora é: tendo a sexta temporada terminado com um salto de três anos no tempo e com um tom de encerramento, a partir de que ponto a sétima retomará? Os fãs de Leslie Knope e companhia estão ansiosos para a resposta, mas essa só vira em janeiro, já que a série agora foi escalada para a midseason, com número de episódios ainda não confirmado.  

Parks and Recreation se prepara para a sua sétima e última temporada.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

A nova temporada de Masters of Sex – e mais alguns bons dramas “de época”

Masters of Sex foi uma das melhores séries de 2013, baseada na história real de William Masters e Virginia Johnson, que iniciaram uma pesquisa pioneira sobre a sexualidade humana nos Estados Unidos em 1957, época em que o assunto era mais do que tabu. No elenco estão Michael Sheen como Dr. Masters, e Lizzy Caplan como Virginia Johnson, o que surpreendeu a todos que, como eu, não vinham acompanhando a carreira a atriz e tomaram um susto ao perceber que ela foi Janis em Mean Girls, dez anos atrás. Pois Lizzy cresceu, amadureceu, e está tão bem no papel de Virginia que sozinha já faria a série valer a pena. Felizmente, Masters of Sex tem outros fortes elementos em que se apoiar, especialmente o roteiro.


Lizzy Caplan: acima em Mean Girls, e depois como Virginia Johnson em Masters of Sex
Enquanto segue os percalços da transgressora pesquisa do Dr. Masters, a série aborda diversos temas que continuam muito atuais, dentro do ponto de vista da época, como homossexualidade e a posição da mulher na sociedade – como mãe solteira, trabalhadora, esposa. Os momentos dramáticos são intensos, especialmente os protagonizados pela genial Allison Janney e por Beau Bridges nos papéis de Margaret e Barton Scully. 

Enquanto a primeira temporada foi ao ar entre setembro e dezembro de 2013, a segunda temporada foi adiantada pelo Showtime e estréia nesse domingo, dia 13 de Julho. Vale a pena acompanhar. 


Manhattan


Também com estréia marcada para Julho, a nova série da WGN é ambientada em Los Alamos durante a II Guerra, onde o governo americano estabeleceu um laboratório secreto para dar continuidade às pesquisas que viriam a desenvolver a bomba atômica. Mais do que um laboratório, contudo, Los Alamos se transformou em uma cidade onde viviam cerca de seis mil pessoas, entre cientistas, suas esposas e filhos. 

Tudo em Los Alamos era altamente secreto, tanto que os cientistas não eram autorizados a revelarem a suas esposas o conteúdo de suas pesquisas. É um teste e tanto para qualquer casamento seguir o marido para uma cidade montada no meio do deserto, em que faltas de água e de luz eram comuns, sem saber exatamente o motivo. E para os homens não era menos difícil. Ter que lidar com o peso e as dúvidas morais de estar construindo uma arma de destruição em massa sem poder contar com o apoio das esposas não tem como ser fácil.



Entre segredos militares e a vida entediante em uma cidade no meio do nada, Manhattan promete ser uma boa mistura de ficção com realidade. Descobriremos dia 27.


Mad Men – última temporada


Mad Men dispensa introduções. A série sobre o mundo da publicidade estrelada por Jon Hamm chegou a sua sétima e última temporada esse ano, ainda que dividida em duas partes. O grand finale, sétima temporada parte II, irá ao ar somente em 2015, estendendo a reverência final da serie ganhadora de quatro Emmys de melhor drama. 

O sucesso de Mad Men com certeza impulsionou o interesse por dramas ambientados em 1950/60, e se hoje temos Masters of Sex e Manhattan, é em grande parte graças à Don Draper e companhia. A série vai deixar saudades, mas a AMC não está pronta para se despedir dos altos índices de audiência e do prestígio de sua programação de domingo à noite, e com certeza ainda será fonte de muita coisa boa. Ficamos no aguardo.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O Espetacular Homem-Aranha 2


Andrew Garfield e Emma Stone retornam como Peter Parker e Gwen Stacy no Blockbuster de verão que dá seqüência à franquia reiniciada em 2012.

Em meados de Maio a indústria cinematográfica entra no período dos lançamentos de verão, de acordo com o calendário dos EUA, em que os principais filmes de alto orçamento dos grandes estúdios são lançados. O formato é o mais formulaico possível: filmes com ação, comédia e romance na medida certa, e classificação indicativa livre para atrair desde crianças até adolescentes e seus pais.

Seguindo esse formato, O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Eletro busca obter a mesma aprovação da crítica e o mesmo sucesso nas bilheterias de seu precedente. Por enquanto, tem falhado na missão. Após uma abertura razoável, o filme sofreu com uma queda severa de público no mercado americano entre a primeira e segunda semana de exibição, e os números internacionais, apesar de nada desprezíveis, não correspondem às expectativas.

 A crítica também não tem sido amigável com Peter Parker e Cia., o Rotten Tomatoes, por exemplo, calculou apenas 53% avaliações positivas entre seus críticos gerais, contra os 73% do original. Resta investigar se as avaliações negativas se fundamentam em avaliações técnicas, ou gostos pessoais.

Andrew Garfield e Emma Stone retornam como Peter Parker e Gwen Stacy.


Efeitos especiais e clichês

Um clichê não é algo necessariamente ruim. Quando algo se torna clichê – seja uma cena no roteiro, um tipo de enquadramento ou um determinado efeito especial, - significa que deu certo mais de uma vez e que pode dar certo novamente, se bem utilizado. O problema começa quando um roteiro se apóia tanto em clichês que a história fica pesada e cansativa.

Os problemas de roteiro são denunciados logo no início do filme. Após uma seqüência de ação que revela os últimos momentos do desaparecido casal Parker - e em que Richard Parker (Campbell Scott) se mostra mais próximo de um Rambo do que de um cientista -, encontramos Peter como Homem-Aranha perseguindo bandidos pelas ruas de Nova Iorque. Ouve-se o rádio da polícia, que informa que os bandidos estão tentando roubar uma carga de plutônio radioativo. Está armado o terreno para o primeiro grande deslize do roteiro. Ao abrirem o compartimento onde estão armazenadas dezenas de cápsulas do tal plutônio radioativo, os bandidos (e consequentemente a platéia) são alertados por uma voz feminina vinda da máquina de que “o plutônio radioativo é altamente explosivo”. É evidente que as múltiplas cápsulas explosivas se transformarão em um desafio para o nosso herói, mas essa não é a questão. A questão é que uma das regras básicas de um bom roteiro é que tudo o que puder ser mostrado, ao invés de narrado, é mais eficiente, e a dupla informação, tanto o rádio da polícia quanto a voz do controle de segurança, acabam sendo cansativas e supérfluas.

A conclusão da cena não melhora a situação. Aparentemente, todas as viaturas da polícia estão em perseguição aos bandidos, e quando os primeiros da fila freiam, os que vêm atrás batem uns nos outros, ou seja, mais um clichê que já perdeu a graça. Estes são apenas alguns detalhes que denunciam um roteiro que não fornece um desenvolvimento satisfatório tanto para os dois vilões, Eletro (Jamie Foxx) e Duende Verde (Dane DeHaan), quanto para os heróis. Tia May (Sally Field), coitada, parece que foi jogada no filme de qualquer jeito somente para cumprir tabela.

Os efeitos especiais do filme são incríveis, mas é decepcionante que não haja um equilíbrio entre empolgantes cenas de ação e um bom roteiro, como outros filmes de super-heróis já conseguiram alcançar, mas esse Homem-Aranha deixou – e muito – a desejar.





segunda-feira, 19 de maio de 2014

Relembrando: O Espetacular Homem-Aranha


Uma nova história para Peter Parker

A primeira trilogia cinematográfica do Homem-Aranha terminou há apenas cinco anos, mas a história da transformação do tímido nerd Peter Parker em super-herói já está de volta aos cinemas em um uma nova versão. Estrelando Andrew Garfield no papel principal, O Espetacular Homem-Aranha (2012) é um reboot totalmente independente da primeira série.

Andrew Garfield como Peter Parker

Trazendo um enredo diferenciado para o super -herói, o filme mostra uma vez mais como Peter adquire super-poderes por meio da picada de uma aranha geneticamente modificada. Dessa vez, a história de como o garoto foi deixado aos cuidados dos bondosos Tio Ben (Martin Sheen) e Tia May (Sally Field) é mais elaborada, envolvendo o desaparecimento misterioso de seus pais. É revelado que Richard Parker (Campbell Scott) era um renomado cientista que trabalhava em um projeto de cruzamento genético entre diferentes espécies. Ameaçado não se sabe por quem, ele e sua esposa são obrigados a fugir e a deixar o filho para trás.

 Após uma introdução que conta toda essa história, o filme nos leva a conhecer o adolescente Peter Parker (Andrew Garfield) tentando “sobreviver” ao ensino médio. Tímido e um pouco desajeitado, Peter tem sua vida transformada ao visitar os laboratórios da Oscorp e ser picado por uma aranha geneticamente modificada.

Enquanto descobre suas novas habilidades especiais, Peter também encontra novas evidências que ajudam a esclarecer mais uma parte do misterioso desaparecimento de seus pais, precisa enfrentar a trágica morte do Tio Bem e derrotar o novo terror que ameaça Nova Iorque.

Nada de Mary Jane

A namorada de Peter dessa vez é a inteligente Gwen Stacy (Emma Stone). Na história em quadrinhos original, Gwen foi o primeiro grande amor do Homem-Aranha. Ela aparece no filme como nas revistinhas: aspirante a cientista e filha do Capitão de Polícia George Stacy (Denis Leary).

A opção por recontar a história do homem-aranha com um enredo mais próximo à história em quadrinhos original é interessante, mas com certeza gera um frio na barriga dos fãs quando o assunto é o destino de Gwen.


O herói mais humano da Marvel

O Homem-Aranha é, sem dúvida, o super-herói mais “humano” da Marvel. Marcado pelo desaparecimento de seus pais e, ainda mais profundamente, talvez, pela morte de seu tio Ben, o rapaz sofre uma dura passagem da adolescência à maturidade. Seus super-poderes são, ao mesmo tempo, uma benção e uma maldição, e ele é constantemente atormentado pelo dilema entre fazer o bem e viver uma vida normal.

Equilibrando cenas de ação emocionantes, comédia, romance e drama, o novo Homem Aranha representa habilmente a personalidade ao mesmo tempo sagaz e atormentada de Peter Parker. 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Após nove temporadas, How I met your Mother chega ao fim





Texto com spoilers.

Uma série só se mantém no ar durante nove anos se consegue cativar o público. Assim como Friends, que durou dez anos, HIMYM formou uma legião de fãs fiéis que se sentia parte do grupo de amigos de Ted Mosby, que o apoiavam em sua busca pelo amor na encantadora – e por vezes desafiadora - cidade de Nova Iorque.

Em toda a obra que envolve personagens, seja literatura, cinema ou televisão, é fundamental que esses personagens evoluam e aprendam consigo e com os outros ao seu redor. E em nove anos de seriado, após muitas idas e vindas, as lições acumuladas são inúmeras. O erro do desfecho de HIMYM foi ignorar completamente as lições e transformações de nove anos em prol de um final planejado na primeira temporada.

Deve-se dar aos criadores da série o devido crédito por tamanho comprometimento com uma idéia, mas é preciso um tipo especial tolice para não perceber o ponto em que uma idéia deixou de ser válida e não pode mais ser retomada. Em HIMYM, passamos nove temporadas aprendendo o que atrai e o que afasta Ted e Robin como par romântico. Juntamente com Ted, percebemos como os dois não funcionam como casal. Juntamente com Ted, aprendemos a superar essa decepção e a seguir em frente. E com o incentivo dos roteiristas, conhecemos e nos afeiçoamos por outro casal: Robin e Barney. Desmoronar toda essa construção de anos em um especial de 40 min é preguiçoso e desrespeitoso para com os personagens e público.

Desde que Victoria reapareceu, no final da sétima temporada, a sensação de que a série vem sendo estendida à custa de muita enrolação desnecessária somente cresceu. E quando Barney e Robin decidiram se casar, um leve ar de renovação tomou conta, reanimando a série, que há tempo já vinha dependendo muito da química entre Neil Patrick Harris e Cobie Smulders para seguir no ar. Investir tanto no relacionamento dos dois para depois destruí-lo no final foi a forma mais cruel de dizer aos personagens e ao público que ambos vinham sendo usados (no pior sentido da palavra) simplesmente para manter a audiência do canal, e que nem o destino dos personagens, nem o tempo do público, tem real importância.

Ao final, todos os personagens foram tratados de forma injusta pela resolução da série, especialmente Barney e Robin. Após uma temporada modorrenta, de poucas risadas, acompanhando um final de semana eterno com episódios cujo único propósito era gastar tempo (vide episódio 21 “Gary Blauman”), o último episódio ficou simplesmente atolado de enredo, que teve de ser jogado às pressas e de forma preguiçosa sobre o espectador.

A Mãe, finalmente apresentada no início da temporada, se mostrou uma personagem encantadora desde o início, mas poucos motivos nos foram dados para sustentar o amor de Ted por ela além de ela ser um Ted de saias, tão igual que chega a cansar. No último episódio temos que nos contentar com Ted dizendo que a amou muito. Simplesmente porque sim.

O divórcio de Barney e Robin nos é jogado e, sem que tenhamos tempo de processar o baque direito, Barney regride aos tempos de mulherengo e pá! vira pai. (Mais sobre isso a seguir.) As vidas de Lily e Marshall também passam em um turbilhão, Robin se afasta do grupo e a Mãe morre. E assim sem mais nem menos, sem que todas as informações sejam devidamente processadas e assimiladas, Ted volta a perseguir Robin, levando-lhe novamente a trompa azul.

O pior de tudo isso é que é possível enxergar todo o enredo do episódio final como uma temporada. Poderia ser uma temporada emocionante, mostrando a separação de Barney e Robin, Ted se apaixonando gradativamente pela Mãe, Lily e Marshall sendo pais de três filhos, a Mãe adoecendo e Robin tendo bons motivos para ficar com Ted. É claro, a audiência provavelmente cairia para a metade no momento em que Barney e Robin se separassem, mas pelo menos seria uma temporada muito menos tediosa do que aturar aquele casamento interminável por 24 episódios.

A idéia de que a série faz um “círculo completo” ao retomar a cena da trompa azul é até fofa, mas não condiz com o rumo que a história vinha tomando nos últimos três anos, pelo menos. A lição que fica do episódio final de HIMYM é que não é porque se tem uma cena filmada e guardada há nove anos que se tem a obrigação de aproveitá-la colocando-a no ar.

Os personagens e seus finais

Barney

Investir no relacionamento entre Barney e Robin, especialmente durante as duas últimas temporadas, para em seguida destruí-lo em exatamente 15:25 minutos de episódio foi no mínimo cruel. Em defesa da proposta do show de mostrar a realidade da vida, em que relacionamentos não dão certo e divórcios acontecem, a escolha de separá-los pode até ser compreensível, apesar de toda a preparação e antecipação em torno dessa união (passamos uma temporada inteira no final de semana do casamento) contribuir para o gosto amargo deixado pela separação.

A separação de Barney e Robin é triste, mas perdoável. O que acontece com Barney em seguida, não é. Após nove anos assistindo-o evoluir de mulherengo que foge de relacionamentos estáveis a um homem que é capaz de abraçar a idéia de amar uma só mulher para o resto da vida, é simplesmente inconcebível vê-lo voltar aos velhos hábitos de cantar mulheres com artimanhas toscas. Ele se torna pai de uma menina e com isso vê na filha a única mulher que pode amar de verdade e incondicionalmente, finalmente modificando sua atitude em relação às mulheres. Isso é simplesmente um tiro no pé da própria série, tendo em vista que o aprendizado de Barney em relação ao amor foi longo e complexo, começando com seu primeiro namoro com Robin, passando por Nora e Quinn, para voltar a Robin. Jogar todos esses anos de desenvolvimento de personagem fora em quarenta minutos é uma falta de respeito com o personagem, com o ator e com o público.

Além disso, temos o detalhe de que a coisa que faz com que a vida dele seja completa (a paternidade) é justamente o que Robin não pode lhe dar e o que ele havia dito que não esperava dela.

Robin

O desenvolvimento de Robin como personagem também passa por seu amadurecimento em relação a relacionamentos, sejam eles amorosos ou de amizade. Com o passar dos anos, ela se abre cada vez mais aos amigos, e eles se tornam uma parte muito importante da vida dela. No episódio em que ela descobre que não pode ter filhos, inclusive, Ted diz “a partir daquele momento, sua tia Robin nunca mais esteve sozinha.” Sendo assim, não faz sentido algum que ela tenha se afastado dos amigos da forma como é mostrado.

Com certeza é difícil para alguém continuar convivendo com o ex-marido e com, nas palavras da própria “o homem com quem ela provavelmente deveria ter ficado e a linda mãe dos filhos dele”, isso é fácil de entender. O que não é fácil de entender é como ela não manteve contato pelo menos com Lily, sua melhor amiga.

Mas não, Robin, como mulher que se dedica primordialmente à carreira e não pode ter filhos, acaba como uma solitária, que só conta com a companhia dos cães.

Ted

Ted passou anos no “gancho” de Robin, como o próprio jargão da série define. Ele “a deixa ir” para que ela se case com outro cara. Ted então encontra outra moça, se apaixona, tem filhos com ela, casa com ela e a vê morrer, e então ah, crianças, sabe o que é, é que eu sempre fui apaixonado pela sua tia Robin. E o que foi a Mãe nessa história? Apenas o meio com o qual ele pode ter os filhos que Robin não poderia lhe dar? Sim, seria muito triste se Ted ficasse o resto da vida de luto pela falecida mulher sem jamais seguir em frente, mas voltar à Robin não é seguir em frente, é andar para trás. Muito para trás. É voltar a uma obsessão quase doentia por uma mulher que nunca correspondeu ao seu amor da mesma forma.

E mais, uma das crianças comenta: “vocês dois são muito óbvios sempre que ela vem jantar aqui.” Então a Robin, a isolada e solitária Robin, se reaproximou da turma? Ou só do Ted?

Sim, Robin e Ted tinham um acordo de ficarem juntos se, após os quarenta anos, ambos estivessem solteiros. Entre esse acordo e o final da série, contudo, muita coisa aconteceu (cinco temporadas, para ser mais exata), e juntá-los novamente ao final de tudo é totalmente inadequado.

Lily

Lily é uma personagem de instinto materno muito forte, servindo muitas vezes de mãe para seus próprios amigos. Contudo, ela também quer ter uma carreira de sucesso, e ocasionalmente se vê assustada com as responsabilidades e a pressão da maternidade.

Finalmente atingindo o ponto alto de sua carreira ao trabalhar para o Capitão, Lily termina a série com três filhos e sem o menor indício de que sua carreira continua bem (ou que sequer existe). Também não sabemos como ela encara a maternidade após três filhos, mesmo quando a pressão de um filho só já a fazia querer sumir de vez em quando. O final de Lily não trouxe o encerramento que ela merecia.

Marshall

A evolução de Marshall sempre foi mais focada no âmbito profissional. Ele começou como um inocente estudante que sonhava em salvar o meio ambiente, passou pela fase de advogado formado descobrindo a realidade cruel do mundo corporativo e chegou a juiz. A evolução de seu relacionamento com Lily e os obstáculos que ambos enfrentaram juntos foi um dos temas mais bem abordados da série. Ao final, Marshall conquistou tudo o que queria: um casamento feliz, uma casa cheia de filhos, um emprego como juiz. O sortudo não foi afetado pela tragédia em que consiste o episódio final.

terça-feira, 11 de março de 2014

300 - a Ascensão de um Império


Com diálogos pobres e uma total falta de sutileza, 300: a Ascensão de um Império (300: Rise of an Empire) diminui a atratividade da estética de história em quadrinhos que caracterizou o original, e reduz a franquia a mais uma desculpa para se abusar de efeitos especiais e cenas de luta inacreditáveis.

Com a oportunidade de assistir à projeção em Imax 3D, rumei ao cinema com a esperança de ver algo que me empolgasse tanto quanto o 300 original. Quando as expectativas são grandes, a decepção é quase garantida. O problema de 300: a Ascensão de um Império é que ele é capaz de decepcionar até a mais rasa das expectativas.

O filme começa narrando a história da batalha de Maratona, em que o ateniense Themistokles (Sullivan Stapleton) consegue ferir mortalmente o rei persa Darius (Igal Naor), encerrando a tentativa de invasão da Grécia e se tornando um herói. Dez anos depois, Xerxes (Rodrigo Santoro), filho de Darius, retoma a ofensiva persa sobre os gregos. Themistokles se sente responsável por ter incitado o desejo de vingança de Xerxes e não mede esforços para barrá-lo. O que o herói grego ainda irá descobrir é que a verdadeira ira contra a Grécia não vem de Xerxes, mas sim de Artemisia (Eva Green), a comandante da poderosa marinha Persa.

Eva Green como Artemisia

300: a Ascensão de um Império narra o lado ateniense da história, enquanto Leônidas luta nas Termópilas com seus homens.  A situação política na Grécia e os conflitos entre as cidades-estados que impediam a união do país não é satisfatoriamente explorada. Os poucos diálogos são fracos e as cenas de reuniões dos líderes políticos, sem sentido. Ao invés de construir uma tensão crescente, o filme parte direto para a ação, intercalada por uma ou outra cena sem batalhas ou lutas, gerando um ritmo de picos e quedas de excitação constantes, algo que tira ênfase do clímax, deixando-o tão morno quanto o resto.

Os efeitos especiais são interessantes, e como minha primeira experiência em Imax, não deixou a desejar. O esplendor e excentricidade do Império Persa, mais explorados no primeiro filme, poderiam ter sido mais caprichados no segundo, já que agora não vemos apenas seu acampamento, mas sua capital e palácio.  

Enquanto Themistokles, apesar de engenhoso e excelente estrategista, é pobre em carisma, Eva Green rouba a cena como Artemisia. Vingativa e cruel, ela vive no limite da loucura, e desde sua primeira aparição já deixa o espectador com vontade de ver mais. É uma vilã de respeito, e com a qual se corre o risco de simpatizar ainda mais do que com os heróis. 

segunda-feira, 10 de março de 2014

Saldo do Oscar e comentários

Acertei 14 de 24 categorias. Ainda bem que não apostei em nenhum bolão, teria me dado mal. 

Não imaginava que 12 Anos de Escravidão venceria a categoria de melhor filme, nem que Lupita Nyong'o seria premiada como melhor atriz coadjuvante. Como não assisti ao filme, baseei meus palpites nos comentários da imprensa americana. Não torcia por Jennifer Lawrence como premiada, mas imaginava ser um resultado possível com base no "buzz" da mídia. Não deu Jennifer, ainda bem. Por melhor atriz que seja, não se pode prever os efeitos de um segundo Oscar tão próximo ao primeiro no ego já inflado da jovem. 

Não assisti a muita coisa da cerimônia, mas o suficiente para ver que Ellen DeGeneres é uma apresentadora muito mais adequada do que Seth McFarlene. Como todo o ano, as piadas e gags cômicas dos apresentadores do Oscar são minunciosamente avaliados pela imprensa. Nos últimos anos, avaliações positivas tem sido cada vez mais raras. Os apresentadores do Oscar ou são taxados de sem-graça, ou de ofensivos e sem tato. A verdade é que é uma pena que tenham a obrigação de fazer graça para cativar os expectadores e gerar audiência para a televisão. Não há nada de errado em uma cerimônia sóbria e elegante, mas a audiência, especialmente a americana, parece incapaz de prestar atenção em algo que não a faça rir, premissa que coloca os mestres de cerimônia em uma situação muito difícil. 

Argumenta-se que a falta de aceitação pública dos apresentadores do Oscar se deve à falta de talento, afinal, Amy Poehler e Tina Fey conseguem  no Globo de Ouro, e Neil Patrick Harris consegue nos Tonys. Por que com o Oscar é tão difícil? 

Em parte, porque espera-se que o Oscar gere uma audiência muito maior do que o Globo de Ouro. Esse ano, os dois bateram seus respectivos recordes de espectadores dos últimos dez anos. Enquanto o Globo de Ouro teve 20,9 milhões de espectadores, o Oscar bateu a marca de 43 milhões, mais do que o dobro. A relação é simples: mais espectadores = mais exigência. E o medo de pisar do calo de alguém também é dobrado.

E em parte... ah, um pouco de talento e mais capricho na redação nunca é demais. 


domingo, 2 de março de 2014

Palpitando - Vencedores do Oscar 2014

Nunca me arrisquei a tentar prever quem seriam os vencedores do Oscar de cada ano, mas agora decidi dar a cara a tapa e ver quantas categorias consigo acertar. Em algumas horas saberemos!

Segue a lista de indicados com meu palpite em negrito.


- Melhor filme

Trapaça
Capitão Phillips
Clube de Compras Dallas
Gravidade
Ela
Nebraska
Philomena
12 Anos de Escravidão
O Lobo de Wall Street

- Melhor diretor

David O. Russell - Trapaça
Alfonso Cuarón - Gravidade
Steve McQueen - 12 Anos de Escravidão
Martin Scorsese - O Lobo de Wall Street
Alexander Payne - Nebraska

- Melhor atriz

Cate Blanchett - Blue Jasmine
Amy Adams - Trapaça
Sandra Bullock - Gravidade
Judi Dench - Philomena
Meryl Streep - Álbum de Família

- Melhor ator

Christian Bale - Trapaça
Bruce Dern - Nebraska
Leonardo DiCaprio - O Lobo de Wall Street
Chiwetel Ejiofor - 12 Anos de Escravidão
Matthew McConaughey - Clube de Compras Dallas

- Melhor ator coadjuvante

Barkhad Abdi - Capitão Phillips
Bradley Cooper - Trapaça
Michael Fassbender - 12 Anos de Escravidão
Jonah Hill - O Lobo de Wall Street
Jared Leto - Clube de Compras Dallas

- Melhor atriz coadjuvante

Sally Hawkins - Blue Jasmine
Jennifer Lawrence - Trapaça
Lupita Nyong'o - 12 Anos de Escravidão
Julia Roberts - Álbum de Família
June Squibb - Nebraska

- Melhor canção original

"Alone Yet Not Alone" - Alone Yet Not Alone
"Happy" - Meu Malvado Favorito 2
"Let it Go" - Frozen - Uma Aventura Congelante
"The Moon Song" - Ela
"Ordinary Love" - Mandela

- Melhor roteiro adaptado

Antes da Meia-Noite
Capitão Phillips
Philomena
12 Anos de Escravidão
O Lobo de Wall Street

- Melhor roteiro original

Trapaça
Blue Jasmine
Clube de Compras Dallas
Ela
Nebraska

Melhor longa de animação

Os Croods
Meu Malvado Favorito 2
Ernest & Celestine
Frozen - Uma Aventura Congelante
The Wind Rises

- Melhor documentário em longa-metragem

The Act of Killing
Cutie and the Boxer
Dirty Wars
The Square
20 Feet From Stardom

- Melhor longa estrangeiro

The Broken Circle Breakdown
A Grande Beleza
A Caça
The Missing Picture
Omar

- Melhor fotografia

O Grande Mestre
Gravidade
Inside Llewin Davis: Balada de um Homem Comum
Nebraska
Os Suspeitos

- Melhor figurino

Trapaça
O Grande Mestre
O Grande Gatsby
The Invisible Woman
12 Anos de Escravidão

- Melhor documentário em curta-metragem

CaveDigger
Facing Fear
Karama Has No Walls
The Lady in Number 6: Music Saved My Life
Prison Terminal: The Last Days of Private Jack Hall

- Melhor montagem

Trapaça
Capitão Phillips
Clube de Compras Dallas
Gravidade
12 Anos de Escravidão

- Melhor maquiagem e cabelo

Clube de Compras Dallas
Vovô Sem-Vergonha
O Cavaleiro Solitário

- Melhor trilha sonora

A Menina que Roubava Livros
Gravidade
Ela
Philomena
Walt nos Bastidores de Mary Poppins

- Melhor design de produção

Trapaça
Gravidade
O Grande Gatsby
Ela
12 Anos de Escravidão

- Melhor animação em curta-metragem

Feral
Get a Horse!
Mr. Hublot
Possessions
Room on the Broom

- Melhor curta-metragem

Aquel No Era Yo (That Wasn't Me)
Avant Que De Tout Perdre (Just Before Losing Everything)
Helium
Pitääkö Mun Kaikki Hoitaa? (Do I Have to Take Care of Everything?)
The Voorman Problem

- Melhor edição de som

Até o Fim
Capitão Phillips
Gravidade
O Hobbit - A Desolação de Smaug
O Grande Herói

- Melhor mixagem de som

Capitão Phillips
Gravidade
O Hobbit - A Desolação de Smaug
Inside Llewin Davis: Balada de um Homem Comum
O Grande Herói

- Melhores efeitos visuais

Gravidade
O Hobbit - A Desolação de Smaug
Homem de Ferro 3
O Cavaleiro Solitário
Star Trek - Além da Escuridão

Aquecimento pré-Oscar – Nebraska


Categorias em que concorre: Melhor Filme, Melhor Ator, Atriz Coadjuvante, Fotografia, Direção, Roteiro Original.

Como um bom filme de estrada, Nebraska narra a jornada de um pai que busca um último legado para deixar ao seu filho, e de um filho que, ao acompanhar seu pai, descobre aspectos da vida deste que nunca pensou que existissem.

Quando Woody Grant (Bruce Dern) pensa ter ganhado um milhão de dólares em uma promoção pelo correio, ele decide sair de sua cidade em Montana e ir até Lincoln, Nebraska, buscar seu prêmio. Seu filho, David (Will Forte), preocupado com o pai e cansado de sua vida monótona, decide levá-lo até Lincoln para provar-lhe que a promoção é falsa. Os dois acabam passando por Hawthorne, Nebraska, a pequena cidade natal de Woody, onde a notícia de que ele seria milionário se espalha e gera uma repercussão fora de controle.    

Poucas coisas mexem mais com o ser humano do que o dinheiro, seja na escassez, seja na fartura. Quando há a possibilidade de tê-lo facilmente e em abundância, contudo, é que a verdadeira natureza das pessoas se revela. E aqueles que estão em volta do bem-afortunado têm a chance de provar quem realmente são: se honestos e desinteressados, ou se mesquinhos e aproveitadores.

A bela fotografia em preto-e-branco de Nebraska foca a atenção do espectador nas atuações e nos dramas dos personagens. O roteiro traz pontos de virada bem posicionados, sabendo administrar doses de drama e de comédia nos tempos certos.

Bruce Dern e June Squibb, indicados respectivamente à Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante.

Categorias em que tem mais chance: apesar de contar com um ótimo roteiro e uma boa direção, é difícil contar com Nebraska vencendo em mais do que a categoria de Melhor Fotografia. As atuações de Bruce Dern como Woody, e June Squibb como sua mulher, Kate, são dignas do prêmio, sem dúvidas, mas a Academia já parece mais inclinada a favorecer outros nomes, como Matthew McConaughery e Jennifer Lawrence.  

Aquecimento pré-Oscar - Capitão Phillips (Captain Phillips)


Categorias em que concorre: Melhor Filme, Ator Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Edição, Edição de Som, Mixagem de Som.

Baseado em uma história real, Capitão Phillips (Captain Phillips) narra a abordagem de um navio cargueiro americano por um grupo de piratas somalis.

A primeira hora do longa lembra A raposa do mar (The Enemy Below), filme de 1957, que narra a perseguição de um navio americano a um submarino alemão durante a Segunda Guerra  Mundial. O jogo de caça e fuga entre os dois se transforma rapidamente em um jogo de xadrez náutico em que o capitão do navio americano e capitão do submarino alemão realizam movimentos estratégicos de perseguição e evasão cada vez mais complexos, um ganhando o respeito do outro por sua inteligência tática.

Em Capitão Phillips, enquanto os piratas somalis tentam se aproximar do cargueiro americano, ambos os capitães iniciam manobras de perseguição e evasão. Ao abordar o navio, o capitão somali, Muse (Barkhad Abdi), se depara com a astúcia do capitão americano, o Phillips do título (Tom Hanks). A esperança de que se desenrole um jogo de inteligência à semelhança de A raposa do mar logo morre. Afinal, trata-se de um filme em que o bom e o mal são claramente delineados e personificados. É de Tom Hanks como herói do filme que estamos falando; de um grupo de civis desarmados atacado por um grupo de bandidos munidos de fuzis. Apesar disso, existe a relação de respeito entre os dois capitães, Muse e Phillips. Respeito entre dois homens no comando, responsáveis por seu barco e seus homens, qualquer que seja a embarcação e a finalidade.

O “lado” dos somalis não é negligenciado. Na abertura do filme conhecemos o que os move à pirataria: senhores de guerra intimidam os homens de um pequeno vilarejo à beira-mar, demandando o dinheiro dos navios que passam pela costa do país. Preocupados e tensos, eles partem ao oceano armados e mascando Khat, uma planta que produz efeitos estimulantes semelhantes à anfetamina. Em tal estado de nervos e desespero, eles muitas vezes não tomam decisões sensatas.

Barkhad Abdi em cena de Capitão Phillips

A supremacia tecnológica e militar dos Estados Unidos fica em evidência. A direção firme de Paul Greengrass, contudo, consegue retratar os piratas somalis mais do que como simples bandidos, mas sem cair no simplismo de colocá-los como coitados obrigados a roubar. A hesitação do capitão Muse, muito bem interpretado pelo candidato ao Oscar Barkhad Abdi, demonstra que ele não gosta de fazer o que faz, apesar de tentar se mostrar duro e inabalável perante seus subordinados.

A edição de vídeo e o trabalho com o som conduzem o suspense e mantém a tensão no filme de forma competente. Apesar de suas mais de duas horas de duração, o filme não se mostra excessivamente longo ou cansativo, pelo contrário, é tenso e emocionante na medida certa.

Categorias em que tem mais chance: nenhuma qualidade de Capitão Phillips parece ser suficiente para fazê-lo se destacar nas categorias em que concorre. A atuação de Barkhad Abdi, apesar de boa, tem concorrentes muito fortes, como Jonah Hill, em O Lobo de Wall Street, e Jared Leto, em Clube de Compras Dallas, somente para citar alguns. A chance de que o filme saia do Dolby Theatre sem prêmios hoje a noite é muito alta. 

sábado, 1 de março de 2014

Aquecimento pré-oscar: Blue Jasmine


Categorias em que concorre: Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Original.

Woody Allen assume um tom dramático ao narrar a história de uma socialite nova-iorquina em decadência financeira e psicológica.

A milionária Jasmine (Cate Blanchett) perde tudo quando seu marido, Hal (Alec Baldwin), é preso por fraude pelo FBI. Tendo seus bens ou confiscados pelo governo, ou leiloados para cobrir dívidas, ela viaja à casa de sua irmã, Ginger (Sally Hawkins), em São Francisco, em busca de um recomeço.

O enredo se desenvolve a partir da alternância de cenas que retratam o passado de Jasmine em Nova Iorque e seu presente em São Francisco. Aos poucos, sua personalidade é destrinchada perante o espectador em cenas que provocam uma alternância de sentimentos entre pena e desprezo, empatia e aversão. A interpretação dedicada e visceral de Cate Blanchett traz à personagem uma dimensão humana que a faz real, mesmo quando esdrúxula. Como todo o ser humano, ela tem momentos de sensatez e de pura ilusão. Ao mesmo tempo em que tenta se reerguer e é puxada para baixo pelas dificuldades da vida, ela mesma se sabota, não abrindo mão de seus delírios de grandeza e sua compulsão por mentir. Ao final, Jasmine é mais do que a típica personagem neurótica de Woody Allen: é uma mulher doente, transtornada psicologicamente e carente de cuidados.

O contraste estabelecido entre o estilo de vida das duas irmãs chega a ser caricato. A mensagem de que simplicidade e honestidade, riqueza e mentiras são dois pares inseparáveis, ao invés de edificante, traz um chato ar de moralismo. Woody Allen acerta ao mostrar que o ser humano é complexo e multifacetado, mas  erra ao refazer o ciclo e reforçar os estereótipos do rico mesquinho, mentiroso e egoísta, e do pobre honesto, ingênuo e puro. Com o desenvolvimento do enredo, porém, é difícil conceber uma conclusão diferente.  


Cate Blanchett em Blue Jasmine

Categorias em que tem mais chance: Cate Blanchett é uma das atrizes mais cotadas ao Oscar desse ano, já tendo vencido diversos prêmios importantes pelo papel de Jasmine, entre eles o Globo de Ouro e o BAFTA.

Apesar de ser sempre um forte candidato ao prêmio de melhor roteiro original, o trabalho de Woody Allen esse ano está sendo ofuscado pelas indicações de American Hustle, Clube de Compras Dallas e Her