sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Curvas da vida

A parceria entre Robert Lorenz e Clint Eastwood data de, pelo menos, 1995, quando Lorenz foi o segundo-assistente de Eastwood na direção de As pontes de Madison. Desde então, Lorenz tem atuado ou como produtor, ou como primeiro-assistente nos filmes dirigidos por Eastwood.  A parceira agora dá mais um passo com Lorenz estreando na direção em Curvas da vida (Trouble with the curve). 

A partir deste breve histórico é fácil entender que o espectador entre na sala, assista ao filme inteiro, e somente no momento dos créditos finais perceba de que se trata de um filme com Clint Eastwood, não de Clint Eastwood, inclusive porque Curvas da vida apresenta diversas semelhanças com os últimos filmes em que o veterano ator aceitou aparecer em frente às câmeras: Menina de ouro (2004) e Gran Torino (2008).


Clint Eastewood e Amy Adams em cena de Curvas da vida.

 Curvas da vida apresenta a relação conturbada entre um olheiro de baseball profissional, Gus (Eastwood), e sua filha, a advogada workaholic Mickey (Amy Adams). Gus, já velho e quase cego por um problema de visão que teima em não tratar, não sabe se comunicar com a filha e confunde proteção com distância. Com dificuldades para abrir seus sentimentos, ele trata mais familiarmente os jogadores de seu time do que a própria filha. 

Chega a época de recrutamento de novos jogadores, e Gus deve escolher um novato para sair das categorias de base e subir à liga principal de baseball, em que seu time, os Bravos de Atlanta (Atlanta Braves), joga. Seu colega e amigo, Pete (John Goodman), não confia que Gus esteja bem para viajar sozinho e procura Mickey para alertá-la em relação ao estado de saúde de seu pai. Compelida pelo que ela mesma define como um "estranho sentimento de responsabilidade", Mickey parte com ele em uma viagem pelos estados da Carolina do Norte e do Sul, onde os dois enfrentam seus problemas em meio a inúmeros jogos de baseball.

Mickey (Adams) e Johnny (Timberlake) param para ouvir um músico na rua. Oh, clichê, meu querido clichê.  

É impossível não associar o Gus de Eastwood com suas interpretações anteriores de velhos carrancudos, teimosos e orgulhosos, mas de bom coração. Em comparação a Menina de ouro (2004) e a Gran Torino (2008), porém, Curvas da vida é consideravelmente mais leve, fazendo desvios ora em direção ao trauma    da filha que se sente abandonada pelo pai, ora em direção ao relacionamento entre Mickey e Johnny (Justin Timberlake), momento em que o filme derrapa perigosamente em uma trilha de clichês de comédia romântica e, após algumas capotagens, o argumento central volta um pouco desorientado, sem saber exatamente a quê veio.

Assim, a solução final fica um pouco atropelada, e algumas das questões chave do enredo acabam sem solução. Gus tem glaucoma? Vai ficar cego, afinal? Ninguém liga, já que o casal jovem e fofo acaba de se reconciliar em um final no melhor estilo "felizes para sempre".

Apesar dos pesares - e dos clichês -, o filme tem seus bons momentos, que são potencializados pelas ótimas atuações de um elenco consistente. 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Europa: enquanto a econômia enfrenta a crise, o cinema bate recordes

O que o sucesso de Intocáveis, na França, e O impossível, na Espanha, tem a dizer sobre a relação entre o cinema e a crise. 

Após Intocáveis, de Olivier Nakache e Eric Toledano, conquistar uma das maiores bilheterias da história da França, a produção espanhola O impossível acaba de bater o recorde nacional de melhor final de semana de estréia. A alta venda de ingressos, porém, não é a única coisa que estes longas têm em comum.

Escrito por Sérgio G. Sánchez e dirigido por Juan Antonio Bayona, O impossível tem os atores Ewan McGregor e Naomi Watts nos papéis principais. Após sua estréia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto, em setembro, o filme rumou para uma estréia espanhola cheia de particularidades. Para começar, o áudio original em inglês foi dublado para se adequar ao costume do país de praticamente não exibir filmes legendados nos cinemas. Em seguida, estreando em circuito comercial apenas na Espanha, o filme já atingiu o sétimo lugar no ranking mundial das estreias deste último final de semana. A lista foi encabeçada por Busca implacável 2, que, diferentemente de O impossível, estreou em 36 países, segundo a notícia da edição online do jornal espanhol El País.

Intocáveis, por sua vez, se transformou em fenômeno do cinema francês ao se tornar o filme mais visto no país em 2011, e entrar 2012 conquistando o lugar de terceiro filme nacional mais visto da história da França e assumindo o posto de filme francês mais visto no exterior. Somando-se o momento de crise econômica européia, particularmente na Espanha, onde a taxa de desemprego chegou a atingir mais de 22% da população em janeiro deste ano,  aos altos preços dos ingressos dos cinemas, esses sucessos de bilheteria impressionam ainda mais.

Omar Sy como Dris, e François Cluzet como Philippe, em cena  de Intocáveis. 

Histórias reais que inspiram

Outro importante elemento em comum entre Intocáveis e O impossível é que ambos são dramas baseados em histórias reais. O primeiro fala sobre a relação entre o tetraplégico milionário Philippe (François Cluzet) e seu cuidador, o ex-presidiário Driss (Omar Sy), buscando aliar o drama a uma comédia que, segundo a crítica, "diverte no limite do politicamente incorreto". O segundo promete não deixar um único espectador de olhos secos ao narrar a saga de uma família de turistas vítimas do tsunami de dezembro de 2004, que atingiu, entre outros países, a Tailândia, cenário do filme.

O cinema surgiu como um entretenimento de massas e se fortaleceu por ser uma opção barata e acessível às classes trabalhadoras. Durante o período de crise iniciado em 1929, o cinema forneceu uma maneira rápida e barata de deixar a dura realidade para trás por algumas horas e adentrar em um mundo de ficção. Hoje, uma entrada de cinema a sete euros dificilmente pode ser considerada barata, mas, curiosamente, é o preço médio que muita gente está pagando para sair de sua própria realidade e voltar oito anos no tempo, assistindo à recriação de um desastre natural que matou mais de duzentas mil pessoas.

É claro que O impossível não se trata apenas de recriar uma catástrofe, mas de mostrar a superação humana, a luta pela sobrevivência e a solidariedade, qualidades de que a Europa, especialmente a Espanha, têm sentido grande necessidade. De certa forma, nesta crise o cinema volta à oferecer ao público uma válvula de escape, ainda que seja para lembrá-lo de que sempre há alguém em uma situação pior.

O impossível: Maria (Naomi Watts) e Lucas (Tom Holland) buscam reencontrar sua família em meio ao caos.

Curiosidade: porque os cinemas espanhóis quase não exibem filmes legendados.

A preferência dos espanhóis pela dublagem vai além da explicação simplista do nacionalismo: tem origem na ditadura do general Francisco Franco, que controlava por meio da dublagem o conteúdo dos filmes estrangeiros exibidos. Se a opção fosse legendar, quem falasse inglês,  francês, ou algum outro idioma, poderia compreender o que estava sendo dito independente do que aparecesse como tradução, algo que não interessava em nada ao governo ditatorial. O próprio estímulo para que a população aprendesse outros idiomas foi mínimo na época de Franco, o que ajuda a explicar como até hoje o inglês dos espanhóis, de um modo geral, é péssimo. 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Academia recebe número recorde de inscrições para Oscar de filme estrangeiro.

 A pouco mais de quatro meses da premiação mais esperada do universo cinematográfico, os preparativos começam a delinear o perfil da cerimônia. A categoria de melhor filme estrangeiro, em especial, está chamando a atenção pelo número de candidatos, 71 no total. Destes, apenas cinco serão escolhidos para formarem a lista de nomeados a concorrer pelo grande prêmio. 

Nunca tantos países indicaram filmes para a categoria, o que proporciona algumas estreias. Nairobi half life, de David Tosh Gitonga, por exemplo, representa a primeira participação do Quênia na competição. 

Disputa difícil.

Além da quantidade, a escolha do Oscar de melhor filme estrangeiro será dificultada pelo peso dos concorrentes. Entre eles estão o austríaco Amour, de Michael Haneke, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, e o francês Intocáveis, de Oliver Nakache e Eric Toledano.

Amour, filme austríaco de Michael Haneke, está entre os candidatos a uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro. 
O Irã, país de A separação, vencedor do ano passado, não indicou nenhum filme como forma de protesto. O motivo do boicote foi A inocência dos muçulmanos, filme anti-islã lançado no youtube que gerou protestos em diversos países muçulmanos. A polêmica em torno do trailer de 14 minutos que teria sido alterado a partir do filme independente Guerreiro do deserto, continua. A equipe do original afirma ter sido enganada, o que não apasiguou o ânimo dos muçulmanos. (Fonte)

O Brasil indicou O Palhaço, escrito e dirigido por Selton Mello, que conta a história dos palhaços Puro Sangue (Paulo José) e Pangaré (Selton Mello). Os cinco finalistas serão nomeados dia 10 de janeiro.

Selton Mello em O Palhaço: a indicação brasileira para o Oscar de filme estrangeiro. 

Por quê Jack (Leonardo DiCaprio) jamais poderia sobreviver ao naufrágio do Titanic.


Jack morre no final. Por favor, parem de tentar salvá-lo.

A trágica morte do herói de Titanic (1997), que congela nas águas do Atlântico Norte enquanto sua namorada Rose (Kate Winslet) sobrevive sobre uma tábua sempre foi motivo de discussão entre os fãs do clássico de James Cameron. O programa de televisão norte-americano Mythbusters, famoso por desvendar mistérios e lendas urbanas deste tipo, recentemente fez a experiência que conclui a questão: Jack poderia ter sobrevivido se o colete salva-vidas de Rose fosse posicionado em baixo da bendita tábua. 

 Antes de entrar no mérito do quão conhecedor de física e do quão tranquilo após o trauma de presenciar o naufrágio do imenso transatlântico o casal deveria ser para pensar nesta engenhosa solução, voltemos ao histórico da questão. O primeiro argumento, que há anos circula por aí, é que haveria espaço na tábua para os dois, como a foto seguinte tenta demonstrar:

No oceano, o tamanho da superfície não é suficiente para garantir a flutuação.


Este ponto, porém, é rebatido pela física. O peso extra de Jack sobre a tábua faria com que esta não mais flutuasse. É aí que entra a solução dos implacáveis Mythbusters: o colete sob a tábua. Digamos, portanto, que Jack, ou Rose, tivesse esta idéia. Jack teria morrido de qualquer forma. Por quê? Simples, o roteiro o queria morto.

"O roteiro diz que Jack morre, então ele tem que morrer."

Foram as palavras de James Cameron ao site do jornal britânico The Guardian, quando questionado sobre o assunto. O diretor chegou a comentar que deveria ter utilizado uma tábua menor. Ele aparentemente já está cansado de que, mesmo após quinze anos, os fãs ainda tentem salvar o personagem. 

É interessante notar como o carisma de Jack conquistou os fãs ao ponto de que eles busquem evidências para tentar salvá-lo. O questionamento incessante do desfecho da obra, contudo, ignora o fato de que o roteiro manda, ponto. Para os propósitos do filme, o rapaz morre. Assim como Mufasa, o pai de Simba, morre em O Rei Leão, e Romeu e Julieta sempre morrem ao final de sua história. Personagem algum nasce ou morre sem um propósito, e lutar contra isto é ir contra a própria essência da obra a que ele pertence.

Aos interessados em um final feliz, mais fácil do que questionar o por quê de Jack morrer, é assistir ao filme até o ponto em que o rapaz, empoleirado na proa do navio, pronuncia a sua famosa frase "eu sou o rei do mundo", pausar, declarar "the end" e desligar a televisão. 

"Eu sou o rei do mundo!" - final alternativo que não está nos extras do DVD.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Skyfall: novo trailer tem música de Adele.


Um dos mais importantes componentes de todo o filme de 007 é a música de abertura, usada para marcar e caraterizar o filme. Em Operação Skyfall, o 23° da franquia Bond, a cantora Adele foi a escolhida para a difícil tarefa de agradar aos fãs do espião, que costumam ser muito exigentes no quesito trilha sonora. Madonna, por exemplo, não agradou com música de abertura de Um novo dia para morrer, em 2002.

A nova canção de Adele tem o estilo de "abertura típica de 007", uma forte voz feminina cantando uma balada. A música, que vazou há poucos dias, foi unida às imagens do filme em um novo trailer.




A música de abertura típica de James Bond.


Foi Shirley Bassey, em 1964, quem deu início ao estilo de aberturas que se tornaria característico da franquia ao interpretar a canção-tema do terceiro filme de James Bond, 007 Contra Goldfinger



A interpretação de canções para 007 nunca foi exclusivamente feminina, tanto que, por exemplo, Paul McCartney foi o responsável por Viva e deixa morrer (Live and let die), em 1973. A preferencia dos produtores pelas cantoras, contudo, gerou canções até hoje memoráveis, como Apenas para seus olhos (For your eyes only), interpretado por Sheena Easton, em 1981. 




Inovações raramente são bem-vindas pelos fãs.

Em 2002, Madonna tentou trazer uma pegada pop à abertura de Um novo dia para morrer (Die another day). A crítica, em parte, a condenou não por ser pop, mas por não ter força e por não ser um tema típico de James Bond.

A prova de que algumas inovações podem ser aplaudidas veio em 2006, com a música You know my name, executada por Chris Cornell para a abertura de Casino Royale. Com um estilo mais próximo ao rock, agradou tanto ao público quanto à crítica. Afinal, nada melhor do que um estilo diferente para marcar a estréia de Daniel Craig no papel de Bond, mudança esta que também se refletiu no estilo de roteiro. A partir de Craig, a história do agente secreto passou a ser recontada. James Bond agora apanha quase tanto quanto bate e se permite apaixonar-se genuinamente, ao invés de apenas colecionar garotas por onde passa. O interessante agora é a escolha de voltar a uma música-tema mais parecido aos antigos filmes. Isso gera a curiosidade: como será o direcionamento de Skyfall? A estréia cinematográfica mundial será dia 26 de Outubro.





domingo, 30 de setembro de 2012

Ted



A ligação entre uma criança e seus brinquedos pode ser muito forte, mas quando um brinquedo em especial ganha vida e torna-se o único amigo de um garotinho de sete anos, eles podem acabar ligados para sempre.  Parece muito bonito, não? Agora inclua nesse argumento muitos palavrões, consumo explícito de drogas e algumas pesadas referências a sexo e você terá o enredo básico de Ted.

Com direito a narração com a voz grave e profunda de Patrick Stewart, a abertura do filme mostra como John Bennett ( Bretton Manley, John criança) desejou que seu ursinho de pelúcia ganhasse vida, no que foi atendido por uma estrela cadente. Ted (Seth McFarlene) torna-se assim uma celebridade, pois todos querem ver o brinquedo que anda e fala, mas nunca deixa de ser o melhor amigo de John. Os dois crescem juntos e mesmo que John (Mark Wahlbergh, John adulto) tenha trinta e cinco anos e divida o apartamento com sua namorada Lori (Mila Kunis), Ted continua lá.

John, Ted e Lori: um triângulo entre um adulto, sua namorada e sua infância, que nesse caso, anda e fala. 

Ex-celebridade esquecida, Ted não tem emprego e passa o dia consumindo drogas, assistindo a televisão e arrastando John para sua vida de marasmo. Lori, surpreendentemente, aceita muito bem a “vela” que Ted acaba sendo em seu relacionamento com John. Uma noite, porém, em que ele não consegue dormir sem seu ursinho, Lori decide dar-lhe um ultimado: ou ela, ou Ted.

Dos criadores do seriado animado Uma família da pesada, o filme é dirigido por Seth McFarlene, que além de participar do roteiro, também “interpreta” Ted. As cenas em que o ursinho estaria presente foram gravadas com Seth atuando fora de quadro, assim, seus movimentos serviram de base para a animação digital que deu vida ao brinquedo.

Ted e o deputado

A graça de Ted é justamente ser subversivo, polêmico. O Deputado Prótogenes Queiroz (PcdoB – SP), contudo, levou a polêmica um nível acima, manifestando sua insatisfação com o filme em sua conta no twitter. Após chegar ao exagero de dizer que iria pedir a retirada do longa dos cinemas, o deputado retrocedeu e disse que iria pedir uma alteração na classificação indicativa de Ted. O que deixou o deputado tão irritado foi ter levado seu filho de onze anos para ver o filme “do ursinho” e assistir ao personagem consumindo drogas, falando palavrões e fazendo gestos obscenos.

Acontece que a classificação indicativa de Ted não está errada. Essa classificação é feita pelo Ministério da Justiça com base em uma tabela já constituída. Ela serve de guia para que os pais avaliem o que seus filhos estão ou não preparados para ver.

Ted ficou com a classificação “Não recomendado para menores de 16 anos”, que indica que o filme contém: “conteúdos mais violentos ou com conteúdo sexual mais intenso, com cenas de tortura, suicídio ou nudez total”. E essa classificação não fica escondida em um canto, ela fica sempre exposta juntamente ao cartaz do filme. Desnecessário dizer que a classificação não foi mal feita, é necessário apenas que os pais a observem com mais atenção.


Fontes:

domingo, 23 de setembro de 2012

45° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro



Um pouco sobre a mostra Brasília de curtas-metragem.

Uma das melhores maneiras de conhecer a produção cinematográfica local é assistir à mostra Brasília de curtas-metragem. É nessa mostra que se pode encontrar os cineastas da cidade que, por qualquer motivo, não fizeram um longa, mas que batalharam para dar vazão às suas idéias e à sua expressão criativa no formato audiovisual. No segundo dia da mostra, sábado (23), encontrei filmes com uma qualidade técnica muito superior a que eu esperava, além de uma deliciosa criatividade em roteiros de ficção e uma abordagem tocante, mas não piegas, nos documentários.

Cidadão de Limpeza Urbana, documentário de Lucas Madureira e Thandara Yung, abriu a tarde de apresentações mostrando a rotina dos garis e coletores de lixo. Os entrevistados falam sobre as horas de trabalho sob sereno, chuva e noites frias, falam sobre o preconceito que sofrem – inclusive, em alguns casos, de seus próprios filhos –,  e do orgulho que sentem por exercerem um trabalho honesto e de vital importância para a sociedade.

Cidadão de Limpeza Urbana: documentário sobre a rotina dos garis e coletores de lixo de Brasília

Com Kinólatras, os roteiristas Tiago Belotti, Rodrigo Luiz Martins, Gustavo Serrate e Ana Flávia fazem piada com o vício dos cineastas que, mesmo diante das dificuldades de produzir cinema no Brasil, não desistem de filmar. Apresentado na forma de uma reunião do “Kinólatras anônimos”, os personagens tentam se livrar de seu vício seguindo oito passos. Sem muitas variações de enquadramento e com uma fotografia dura, o curta compensa com as piadas, que encontraram na platéia do Festival de Brasília o seu público-alvo ideal.

O terceiro curta da tarde foi Vida Kalunga, dirigido por Betânia Victor Veiga. Impressionante principalmente pela escolha dos enquadramentos e pela beleza da fotografia, que produzem um filme esteticamente muito marcante, o documentário mostra a vida dos kalungas, comunidade que constitui o maior território quilombola do Brasil. O curta é construído por depoimentos de kalungas, que falam sobre seus antepassados escravizados, sua relação com a terra e o orgulho que sentem pela história da comunidade.

Voltando ao âmbito da ficção, Meu Amigo Nietzsche, escrito e dirigido por Fáuston da Silva, conta a história de como o estudante Lucas encontra o famoso filósofo alemão. Ao encontrar no lixo o livro Assim falava Zaratustra, de Nietzsche, Lucas inicia uma jornada para compreender o livro, o que acaba gerando grandes transformações em sua vida. Outro filme que impressionou pela beleza estética, Meu Amigo Nietzsche também apresenta um roteiro afiado, que sabe equilibrar comédia e reflexão social.

O menino Lucas conhece as idéias do filósofo alemão em Meu amigo Nietzsche.

O último documentário da tarde, Jangada de Raiz, de Edson Fogaça, mostra como o pescador artesanal Edilson Miguel da Silva constrói o principal instrumento de seu trabalho com as próprias mãos. Último homem que conhece a técnica da construção de jangada com raízes, Edilson decide realizar uma última obra. Assim como os dois anteriores, Jangada de Raiz é um filme com belíssimos enquadramentos e incrível fotografia.

Para fechar, O corpo da carne, de Marisa Mendonça, trouxe uma experiência sensorial e intimista. Ivan é um açougueiro que vê sua relação com o trabalho mudar após presenciar um acidente em que um operário da construção civil cai de um andaime. Trabalhando cores e texturas na tela, a diretora transmite as sensações e reflexões do personagem sem a necessidade de palavras.

O 45° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro termina amanhã, com a noite de premiação, evento restrito a convidados.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Dois anos de Exercine.


Eu nunca poderia imaginar que este blog duraria tanto tempo e com tamanha constância de atualizações. Sim, ele nem sempre se chamou Exercine, nasceu como “De tudo um pouco, de cinema um muito”. Pois é, títulos realmente não são o meu forte. A troca para Exercine não mudou a proposta essencial do blog, mas é um nomezinho melhor, não é?

Após tentar manter vários blogs, que acabaram fracassando, perceber que consigo manter uma média de 4,5 atualizações por mês, com mais de 6 mil visualizações de página é muito gratificante. Sim, blogs de sucesso tem mais de 6 mil visualizações em um único dia, não em dois anos, mas estou feliz com meus números.

Essa experiência tem me ensinado muito. A primeira lição é que escrever é um exercício, requer disciplina e dedicação. Eu não ganho um centavo pelos textos que escrevo, não participo exibições especiais de filmes para a impressa e tenho que pagar os ingressos do cinema do próprio bolso, mas encaro o Exercine como um compromisso e isso faz toda a diferença.

Assim, queria agradecer a todos que acompanham o blog e a todos que já fizeram algum elogio. Nunca recebi uma crítica negativa, mas se alguém estiver pensando em alguma, sinta-se à vontade para compartilhá-la. Sei que ainda tenho muito que aprender e evoluir e espero contar com a ajuda dos leitores para isso.

Apesar de não receber muitos comentários e de só conhecer uma meia dúzia de pessoas que lêem o blog, estou muito orgulhosa e comemorando essa data como se fosse meu próprio aniversário. E que venham mais dois anos. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A volta ao mundo por Fernando Meirelles



360, escrito por Peter Morgan e dirigido por Fernando Meirelles, é mais do que uma colcha de retalhos desconexos, é uma corrente com elos bem conectados, mas não necessariamente fortes

O filme começa com duas perguntas que sempre ocorrem a todas as pessoas: como cheguei até aqui? Teria minha vida sido diferente se eu, ou qualquer uma das pessoas a minha volta, tivesse feito outras escolhas? Quem se pergunta isso é Mirka (Lucia Siposová), uma jovem eslovaca que acaba de se tornar uma garota de programa de luxo, adotando o nome de Blanka. Saindo de Bratislava para encontrar seus clientes em Viena, ela vai sempre acompanhada pela irmã, a meiga Anna (Gabriela Marcinkova).

Blanka vai até o bar de um luxuoso hotel para se encontrar com seu primeiro cliente, Michael Daly (Jude Law). Interceptado por dois homens com quem negociava um acordo para sua empresa, Michael não consegue se encontrar com ela. A partir desse desencontro, surge uma série de ações e reações que movem a vida dos diversos personagens do filme, cada situação ligando-se à seguinte como os elos de uma corrente. 
Jude Law como Michael Daly e Rachel Weisz como sua esposa, Rose  

 Vidas interligadas.

Consegui contar pelo menos oito relacionamentos-chave, oito núcleos em torno dos quais a história se desenvolve. Isso que 360 tem pouco mais de uma hora e meia de duração. Trabalhar com uma quantidade tão grande de personagens e histórias em tão pouco tempo não é tarefa fácil. Meirelles consegue, com sua direção delicada, mas decidida, captar as nuances e as fragilidades desses personagens que passam tão rapidamente pela tela. 

Com a escassez de tempo, os personagens passam a ser resumidos simplesmente ao trauma psicológico ou à experiência mais marcante de suas vidas. O espectador mal o vê na tela e já é apresentado à encruzilhada diante da qual o personagem se encontra. Não há tempo a perder. O problema é apresentado e uma decisão é tomada. Trata-se de um estilo, não necessariamente de um problema, apesar de que algumas histórias geram mais apreensão e envolvimento do que outras. 

360 é um recorte da vida de várias pessoas comuns, e nesse ponto Meirelles é até bastante otimista. A sugestão de que nossa vida depende mais das escolhas e das atitudes de quem está à nossa volta do que gostamos de imaginar é assustadora. Com todo nosso desejo de controlar nosso destino, nos esquecemos o quanto dependemos dos outros, e o quanto os outros dependem de nós. Ainda assim, nem roteirista nem diretor utilizam essa premissa para assustar a audiência (pelo menos não muito). Como eu disse, o filme é até bastante otimista. 


Antonhy Hopkins como John.
 Um filme de muitos sotaques.

Para rodar 360, Fernando Meireles reuniu um elenco multinacional, que inclui desde os britânicos Jude Law e Rachel Weisz, até a eslovaca Lucia Siposová, passando pelos russos Vladimir Vdovichenkov e Dinara Drukarova, pela brasileira Maria Flor e pelo francês Jamel Debbouze, entre outros. É interessante reparar que cada ator interpreta um personagem de sua própria nacionalidade, e quando as conversas convergem ao inglês, a variedade de sotaques enche os ouvidos do espectador. 

No filme de Meireles se ouve eslovaco, português brasileiro, russo, francês, e o idioma que une os personagens, o inglês. O fator idioma, juntamente com as locações em diversas partes do mundo (Viena, Londres, Paris, etc), contribui para aumentar a sensação de encolhimento do mundo que o longa transmite.

domingo, 19 de agosto de 2012

Novela não é Escola


Eu não assisto à novela alguma. O máximo que já acompanhei foi um pouco de Chocolate com Pimenta, Tititi e Roque Santeiro, que passava no “Vale a pena Ver de novo” quando eu tinha onze anos.  A única novela “das nove” que vi um pouco mais do que meio capítulo foi O Clone. Mas as novelas, principalmente as do horário nobre da Rede Globo, sempre encontram um meio de entrar nas nossas vidas.

Nunca assisti a um capítulo sequer de Avenida Brasil, a novela que está no ar, mas sei que a música de abertura é a versão do Latino para “Dança Kuduro”, sei quem é Carminha, Nina, Suelen e companhia. Praticamente toda a minha timeline do twitter acompanha a novela e acaba repassando o que vê. Vejo comentários no facebook e escuto as pessoas à minha volta. Essa inserção da novela no cotidiano é uma realidade que nós brasileiros vivemos há décadas. A força da novela é tanta que, em plena era da TV a cabo e da internet, Avenida Brasil está atingindo picos de audiência de 45 pontos na grande São Paulo. 

Discutir as causas de tamanho sucesso, contudo, não é o objetivo deste texto. Meu comentário aqui se relaciona a um tema que vem me perturbando há algum tempo: como a novela virou uma espécie de escola para o povo brasileiro.

Muitas das novelas da Rede Globo, especialmente as de horário nobre, adotam alguma abordagem social, uma bandeira que defendem, como a leucemia de Camila (Carolina Dieckman) em Laços de Família, que foi utilizada para uma campanha de doação de medula óssea, a viciada Mel (Débora Falabela), que foi o exemplo da campanha antidrogas de O Clone, e o caso de Tarso (Bruno Gagliasso) em Caminho das Índias, personagem que ilustrava uma campanha de conscientização sobre a esquizofrenia. Isso só para citar alguns dos casos que ficaram mais marcados. Essas campanhas são um exemplo de serviço de utilidade pública que a novela pode exercer para o bem da sociedade. Esses “personagens-exemplo” muitas vezes ajudam a alertar às pessoas para problemas para os quais muitos viram às costas. Utilizar-se de alguns exemplos para o bem comum, contudo, é diferente de confundir o papel da novela. Novela não serve para educar, serve para entreter.

De novo: nunca assisti Avenida Brasil, mas vi comentários indignados sobre uma cena em que Suelen (Ísis Valverde) seduz o marido Roni (Daniel Rocha), um rapaz que esconde sua homossexualidade. A cena gerou repercussão, principalmente, por implicar que a homossexualidade pode ser curada, ou que a causa da homossexualidade seria a falta de uma boa mulher. É claro que isso é um absurdo. Um homem é homossexual porque é homossexual, ponto. E Suelen fez o que fez porque é uma personagem. Sim, é horrível saber que existem pessoas como Suelen. Ou o que é pior, que existam homens como Suelen, que acreditam que as mulheres homossexuais são assim por falta de um bom homem. Poucas idéias são mais repudiáveis do que esta. Não estou defendendo aqui a atitude, mas a liberdade de mostrá-la na televisão.

Em Avenida Brasil, Suelen faz de tudo para seduzir o homossexual Roni
A novela é uma obra de ficção, que contém um enredo e personagens, e personagens tem defeitos, muito mais do que tem qualidades. É dever do espectador diferenciar as coisas, não se deixar influenciar pelo que vê. Muitos brasileiros são influenciados pelas novelas ao ponto de se deixarem “educar” por elas, mas seria isso culpa da novela, ou da estrutura educacional do país?

O Brasil ainda tem muito que avançar em relação ao respeito aos homossexuais, e a novela poderia ajudar com isso, como já ajudou em outros assuntos. Não é, contudo, dever da novela fazer isso. Se nosso sistema educacional fosse um pouco melhor, as pessoas entenderiam que a novela é uma obra de ficção, como um livro ou filme (e muitas vezes vemos atitudes muito piores do que as de Suelen em livros e filmes), assistiriam ao enredo e saberiam filtrar o que é bom e o que não é.

Observando pela ótica da responsabilidade social que a novela adquiriu por sua influência na vida dos brasileiros, seria de se esperar que seus roteiristas fizessem escolhas mais positivas para seus enredos, mas aí também teríamos que parar com as maldades de Carminha e com a vingança de Nina, e assim a novela talvez se tornasse uma festa de unicórnios em um arco-íris cor-de-rosa. E nenhuma obra de ficção – bem como o mundo – é assim. 

Outro exemplo é a cena que foi ao ar recentemente em Gabriela, em que Jesuíno (José Wilker) mata a esposa e o amante ao flagrá-los juntos. Houve protestos indignados contra a Globo por mostrar uma cena tão contrária aos direitos das mulheres. O que deveria indignar as pessoas é o ato do personagem, não o fato de ele estar na tela da TV.

Em Gabriela, Jesuíno assassina a mulher por encontrá-la com o amante.
No meu Brasil perfeito, todas as pessoas que assistissem a essas cenas se indignariam com a atitude desses personagens e os repudiariam, sabendo que o que vêem é uma obra de ficção, não um exemplo a ser seguido. Isso é um futuro que eu sei que chegará, mas que já deveríamos estar construindo, ao invés de perder tempo acusando autores de ficção disso ou daquilo.

Enquanto continuarmos a assistir – e a aplaudir – a seriados e filmes violentíssimos e politicamente incorretos na TV a cabo, sem, contudo, tolerar a mesma liberdade criativa na TV aberta, seremos eternos hipócritas. Bem como ao continuar a confiar o papel da educação e da formação de opinião - aspectos que devem ser formados por escolas, famílias e livros - quase que exclusivamente às novelas.  Novela não é escola, novela é ficção. E é uma pena que nem todo mundo saiba distinguir isso. 

sábado, 18 de agosto de 2012

Já começou em Brasília o Festival Varilux de Cinema Francês

Seguindo o sucesso da edição do ano passado, o Festival Varilux de Cinema Francês ampliou seu alcance, e agora chega à 32 cidades brasileiras. Com as datas oficiais de 15 a 23 de agosto, o festival começou em Brasília ontem, dia 17.

Dividindo-se entre salas do Cine Cultura Liberty Mall e do Espaço Itaú de Cinema, o festival traz uma grande variedade de filmes da recente cinematografia francesa, inéditos no Brasil. O grande destaque da programação é o premiado Intocáveis, que já se tornou o filme nacional mais visto da história da França. A história de amizade entre o milionário tetraplégico Philippe (François Cluzet) e seu auxiliar Driss (Omar Sy) rendeu ao ator Omar Sy o César, prêmio mais importante do cinema francês. 

A programação completa do Festival Varilux pode ser encontrada no site oficial do evento. 

Intocáveis: o filme francês mais visto da história chega à Brasília nas telas do Festival Varilux





quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Para Roma com Amor


O Woody Allen safra 2012

Woody Allen é um dos cineastas mais prolíficos da atualidade. A impressionante marca de um filme lançado por ano, contudo, traz consigo o ônus da irregularidade. Se para um cineasta comum, com um lançamento a cada dois ou três anos, já é difícil manter um padrão de bons filmes, com um longa a cada doze meses o risco de cair na mediocridade é muito maior.  

Longe de mim acusar os filmes de Woody Allen de ruins. Quando digo mediocridade, me refiro a uma qualidade mediana, a filmes simpáticos e divertidos, mas que não necessariamente arrebatem a platéia. É exatamente esse o caso de Para Roma com Amor. O “Woody Allen safra 2012” é leve e divertido, mas não tem o mesmo encanto de Meia Noite em Paris, o lançamento do ano passado.

Para Roma com Amor conta quatro histórias simultâneas, que variam de “muito improváveis” a “surreais” e “sobrenaturais”, mas cujo único ponto efetivamente em comum é se passarem na romântica capital italiana. Após a abertura, em que um guarda de trânsito comenta como é capaz de observar as idas e vindas dos habitantes da cidade de cima de seu pequeno pedestal, os personagens começam a serem apresentados ao público.

Quatro linhas narrativas, nenhuma correlação.

 Hayley (Alison Pill), uma americana em visita à cidade, conhece Michelangelo (Flavio Parenti), um charmoso italiano por quem se apaixona. Por ocasião de seu noivado, seus pais, Jerry (Woody Allen) e Phyllis (Judi Daves), viajam a Roma. Jerry, no melhor estilo neurótico Woody-Allenístico, descobre logo de inicio que o futuro genro, um advogado trabalhista e entusiasta da organização sindical, tem idéias totalmente opostas às suas. A maior surpresa, porém, surge do pai do rapaz, Giancarlo (Fabio Armiliato). E nesse ponto o talento de Woody Allen de fazer comédia com o absurdo entra em ação.

Woody Allen volta a atuar em um filme seu. 

Em outra história, um cidadão de classe média comum, com um emprego entediante em que é constantemente ignorado, se torna uma celebridade justamente por ser quem é. Da noite para o dia, todos querem saber o que Leopoldo (Roberto Benigni) comeu no café-da-manhã, se ele acha que vai chover e como ele faz a barba. A princípio assustado, ele logo passa a aproveitar a fama, ganhando convites para o tapete vermelho de prémières de grandes filmes, saindo com modelos e recebendo uma atenção que nunca antes recebera.  Ninguém, nem mesmo Leopoldo, sabe por quê ele é famoso, mas todos o adoram. Não se pode esquecer, contudo, que a fama que chega subitamente também se vai subitamente...

Um casal recém-casado, Milly (Alessandra Mastronardi) e Antonio (Alessandro Tiberi), chega à Roma para começar uma vida nova. Antonio tem a possibilidade de conseguir um bom emprego por meio de seus tios, senhores e senhoras de mais idade bem sucedidos na sociedade romana. Suas esperanças se vêem diminuídas quando sua esposa desaparece e a prostituta Anna (Penélope Cruz) entra por engano em sua vida.

Por último, um toque sobrenatural na história. John (Alec Baldwin), um arquiteto em visita a Roma, vai até a rua em que costumava morar em seu tempo de estudante. Lá, ele conhece Jack (Jesse Eisenberg), um empolgado estudante de arquitetura, e a conexão entre os dois é instantânea. Ao entrar na vida de Jack, John se torna uma espécie de conselheiro, sempre por perto nas mais diversas e inesperadas situações. No final, fica aquela dúvidazinha, aquele gostinho no fundo da garganta de “o que foi que aconteceu mesmo?”. Típico Woody Allen.

Penélope Cruz em cena ao lado de Alessandro Tiberi.
Bom sem chegar a excepcional. 

Para Roma com Amor no final das contas é isso: típico de Woody Allen. Apesar dos personagens divertidos, faltou um pouco de impacto para tornar o filme excepcional. Grandes atores, como Alec Baldwin e a própria Penélope Cruz, não atingem seus máximos no filme. Em um papel bastante cômico, mas sem brilho, Cruz não chega nem aos pés do excelente trabalho que realizou em Vicky Christina Barcelona. E a culpa disso é mais da construção da personagem do que de sua atuação. E o mesmo acontece a Baldwin.

Em compensação, Ellen Page no papel da avoada atriz Monica, e Roberto Benigni como o perdido Leopoldo estão fantásticos. E o próprio Woody Allen arranca várias risadas com seu já bem conhecido personagem neurótico. 


Ficha Técnica

Título: Para Roma com Amor (To Rome with Love)

Direção: Woody Allen 

Roteiro: Woody Allen

Ano: 2012

Elenco: Woody Allen, Penélope Cruz, Alec Baldwin, Jesse Eisenbrg, Ellen Page. 

domingo, 22 de julho de 2012

BIFF, Retrospectiva Anna Karina – A Religiosa

Filme dirigido por Jacues Rivette, com roteiro adaptado da obra homônima do enciclopedista Denis Diderot, publicada em 1796. Anna Karina interpreta Suzanne, uma moça trancada em um convento contra a sua vontade.

Os créditos de abertura explicam o contexto histórico do livro. Na França de finais do século XVIII, o convento era o destino de muitas jovens sem vocação. Enviadas pelos pais seja para manterem-se virgens até o casamento, seja para não serem uma despesa a mais na casa, as moças não tinham controle algum de seu destino.

A entrada no convento e a resignação.

Suzanne (Anna Karina) é a mais nova de três irmãs. Com as duas mais velhas já casadas, o pai se recusa a gastar dinheiro com o casamento da caçula, e a manda para o convento. A mãe de Suzanne, Madame Simonin (Christiane Lénier), revela a filha que seu pai verdadeiro não é o marido, sendo ela fruto do pecado do adultério. Assim, a mãe lhe pede que a filha “ajude-a a expiar seu pecado”, tornando-se uma boa freira. A jovem ainda é alertada de que não tem direito a herança e que as irmãs não lhe darão nada, pois já são casadas e tem seus próprios filhos para cuidar.

Apesar da já conhecida falta de liberdade das mulheres na época, o egoísmo demonstrado por aqueles que mandam Suzanne para o convento é impressionante. O pai só pensa nas despesas que a filha gera e a mãe a vê como bode expiatório para seu pecado. Na primeira vez que vai proclamar seus votos, Suzanne grita a todos que está ali contra a sua vontade e volta para a casa, mas, sem escolha, acaba mandada novamente para o convento.

Suzanne se prepara para proclamar seus votos.

A primeira Madre Superiora que a recebe é gentil como uma mãe. A consola de uma maneira bastante melodramática e a apóia até a confirmação de seus votos. Resignada, Suzanne passa de noviça à freira, mas afirma não ter lembrança alguma da cerimônia, não tendo agido de livre e espontânea vontade.

As provações de Suzanne

A obrigação de tornar-se freira contra a sua vontade não é a única dificuldade que Suzanne enfrenta. As injustiças que sofre representam as críticas de Diderot à Igreja Católica, mas também podem ser interpretadas como uma crítica à configuração de uma sociedade em que a mulheres sem meios financeiros estão à mercê dos mais fortes.

Após a morte da primeira, uma nova Madre Superiora assume o posto. Ao contrário de amor maternal, a sucessora dispensa a Suzanne apenas antipatia. Assim que encontra um motivo, ela utiliza seus poderes de forma abusiva para humilhar a subordinada. O primeiro “crime” de Suzanne é o de manter uma bíblia pessoal escondida no quarto, o segundo, é a contratação de um advogado para pedir a anulação de seus votos.  Por isso, ela é privada de roupas limpas, de um quarto mobiliado e até mesmo de comida e água. Enfraquecida, suas súplicas quase delirantes por comida são interpretadas como possessão pelo demônio.
É clara a crítica ao fanatismo religioso e ao próprio sistema hierárquico da Igreja, que isolava seus membros e permitia que abusos continuassem até que um julgamento fosse realizado. Um exemplo claro e indignante é a afirmação do advogado de Suzanne de que ele sabe – e não tem como evitar – dos maus-tratos que a jovem sofre nas mãos das companheiras.

Presa no convento contra a sua vontade, Suzanne luta pela liberdade. 

Após ser absolvida das acusações de descumprimento das regras do convento, Suzanne tem a anulação dos votos negada, mas lhe é permitido que mude de ordem. Ela é recebida com alegria e curiosidade pelas novas irmãs, sobretudo pela Madre Superiora. O clima no novo convento é exatamente oposto ao anterior: em lugar de simplicidade e austeridade, as freiras riem como adolescentes e gozam de certos luxos, ostentando inclusive jóias. A principal incentivadora do comportamento relapso das irmãs é a Madre Superiora, que passa a assediar Suzanne. Sem poder agüentar mais, ela foge do convento, apenas para descobrir que o mundo do lado de fora, aquele que tanto sonhou em conhecer, não é nada acolhedor.

As críticas de Diderot .

As críticas elaboradas pelo autor e transmitidas pelo filme muitas. Críticas à Suzanne, que é a representação da mulher da época, sem estudo, ingênua e ignorante, incapaz de sobreviver no mundo sem a tutela dos pais, do marido ou das irmãs do convento.  À sociedade da época, que tratava essas mulheres como objeto e não lhes dava o menor espaço. Por fim, sua crítica mais forte é ao sistema de claustro a que estão submetidas às mulheres no convento. Praticamente excluídas de qualquer contato externo, muitas delas sem vocação, seus pensamentos e ações variam do fanatismo religioso ao desejo lésbico.

Apesar de tudo isso, não se percebe um ataque direto à fé, mas sim ao que os homens fazem dela: instrumento, desculpa, justificativa para os piores atos.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Começa nessa semana o Brasília International Film Festival (BIFF)


O Festival Internacional de Cinema de Brasília, com nomes tanto em inglês quanto em português, terá inicio nesta quinta-feira, dia 12. Para a cerimônia de abertura, que será realizada na sala Alberto Nepomuceno no Teatro Nacional, foram disponibilizados ao público 450 ingressos gratuitos, esgotados logo no primeiro dia.

Representando um esforço para recolocar a cidade na rota dos grandes festivais de cinema, o BIFF traz, de 12 a 22 de Julho, seis mostras além da competitiva, são elas: O Novo Cinema Europeu, Panorama África, Independentes Americanos, Cara Latina, Mundo Animado e Retrospectiva Ana Karina. As sessões exibidas no Cine Cultura custarão 16,00 reais a inteira e 8,00 a meia entrada. Sessões exibidas na sala Alberto Nepomuceno no Teatro Nacional terão entrada franca.

Infelizmente, o site oficial não contém tantas informações quanto a página no facebook, o que atrapalha a obtenção de informações. Apesar desses detalhes, a iniciativa da criação do festival é excelente. Após a extinção do antigo FIC, espera-se que o novo BIFF esteja realmente chegando para ficar, que faça sucesso e que evolua a um festival inteiramente gratuito. Que não seja apenas uma troca de siglas.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Twixt



Una película escribida y dirigida por Francis Ford Coppola en que el director parece no saber decidir si lleva el horror y el thriller en serio o si hace broma del género.

Twixt presenta muchos elementos considerados clichés en películas de horror: una ciudad pequeña en que los habitantes quieren “ser dejados en paz”, un forastero que llega desavisado y sin sospechar de nada, un terrible asesinato que nunca ha sido resuelto y una niña angelical en el centro del misterio. El resultado, sin embargo, es una película que necesita de más reflexión para ser entendida do que aparenta al primer vistazo.
La película empieza con una narración en off que describe la pequeña ciudad de Swam Valley, y explica la llegada de Hall Baltimore (Val Kimer), un escritor de novelas de misterio y brujería, que está viajando para promocionar su nuevo libro. La narración desaparece y la película pasa a enseñar la historia bajo el punto de vista de Baltimore.

El jerife de la ciudad, Bob LaGrange (Bruce Dern), va a procúralo para hablar de un asesinato en masa que ha ocurrido en la ciudad, y para proponerle que escriban juntos una novela sobre la tragedia. Baltimore no le hace mucho caso, pero le falta inspiración para una nueva obra y él ya no tiene mucho dinero. Así, Baltimore procura al jerife y empieza a tomar conocimiento de lo que ha pasado en la ciudad: el asesinato colectivo de doce niños.

En sus sueños, Baltimore visita al hotel abandonado en que ocurrió el crimen. Él conoce a Virgínia (Elle Fanning), una chica de doce o trece años que le enseña a los niños que fueron muertos por un hombre. Baltimore se envuelve  cada vez más con el misterio, pero la mayor parte de lo que descubre es en sus sueños.

La mescla entre sueño y realidad

Los sueños de Baltimore tienen una atmosfera sombría. Es siempre noche en su subconsciente, una noche oscura que es retratada en blanco y negro en la película, con unos detalles en rojo y amarillo.

Baltimore hace sus investigaciones basándose en lo que ve en sus sueños. Tomando mucho vino y medicinas para dormir, él prefiere el sueño a la realidad, aun que ese sea sombrío. Su realidad, en que su hija ya no está más viva, en que su esposa le pide dinero para pagar las cuentas retrasadas y en que su editor le cobra por la creación de un nuevo libro le parece mucho peor do que un sueño de muerte y horror. Además, el sueño de horror le fascina. La historia de Virgínia y de los otros niños es un misterio digno de novela.

Baltimore (Val Kimer) encuentra a Virgínia (Elle Fanning) en sus sueños.

Lo que Baltimore descubre en sus sueños empieza a hacer sentido en la realidad – ¿o seria la realidad que empieza a influenciar sus sueños?

El jerife empieza a parecerse mucho con el pastor que, en sus sueños, ha matado a los niños por miedo de que se transformasen en vampiros. Bob LaGrange tiene una clara obsesión por vampiros, llegando a hacer una miniatura de un aparato que mete estacas de madera en el corazón de las creaturas. La simulación, dice, es para explicar el asesinato de una chica que todavía tiene su cuerpo en el tanatorio. Su actitud, sin embargo, no deja de ser sospecha.

Los chicos del otro lado del lago.

En la otra margen del lago de Swam Valley hay un acampamiento en que viven unos chicos de estilo gótico. Las personas de la ciudad, especialmente el jerife, se refieren a ellos como malos y adoradores del demonio. Su líder se llama Flamingo (Alden Ehrenreich), un chico callado y misterioso.

Baltimore va a buscarlo para preguntarle acerca de una niña que ha desaparecido. Flamingo le confesa que está preocupado con una niña a que él cuidaba y que no sabe más donde está. Convencido de que Flamingo es un vampiro malo, el jerife lo detiene.

La presencia de Edgar Allan Poe.

En estos sueños, Baltimore conoce al poeta Edgar Allan Poe (Ben Chaplin), que le sirve de guía dentro de su propia imaginación.

Edgar Allan Poe fue un famoso poeta y escritor de cuentos sombríos en los años 1830 -1840. En Twixt hay algunos elementos que se refieren a él. En el hotel en que ocurrió el crimen hay una placa en su homenaje, la personaje Virgínia tiene el mismo nombre y edad de su esposa, que también era su prima, y por fin, Baltimore es también el nombre de la ciudad donde él murió.

El facto de lo asesinato en masa es que un hombre mató a doce niños. Pero es Allan Poe quién rellena los espacios en blanco de la historia. Es él quien primero haz la sugerencia de que  los chicos del otros lado del lago sean vampiros. Esa teoría es después compartida por el jerife, un hombre muy religioso, así como el pastor de la historia. Cuando Baltimore le pregunta se los chicos góticos son malos, Poe le garante que no.

El escritor también sueña con Edgar Allan Poe (Ben Chaplin).

La influencia de una tragedia personal.

La hija de Baltimore tenía también trece años cuando murió en un accidente de barco. Él se siente responsable por haber dejado que ella saliera sola con sus amigos, todos muy jóvenes, en lanchas motoras.

Su hija se llamaba Vicky, y Virgínia le pide que le llame V, una letra genérica que puede hacer referencia a cualquiera de las dos niñas muertas.  Baltimore proyecta una imagen su hija en Virgínia, y la culpa que siente por la muerta de la hija lo hace buscar aun más por el final de la historia.

Twixt: un cambio inesperado.

En la lengua inglesa, Twixt significa “estar por el medio”. También es una palabra utilizada en el proverbio “ There’s many a slip ‘twixt the cup and the lip”, que significa que mismo cuando el resultado de algo parece cierto, las cosas aun pueden salir erradas. (fonte: Wikipedia )

En la película, es eso mismo lo que ocurre. Después de construir una historia entera en la cabeza de Baltimore, Coppola nos enseña que sus sueños no están así tan desconectados de la realidad, y que nada es lo que parece.

Teniendo  algunos buenos momentos de susto y algunas buenas bromas (como la aparatología fija que salta de la boca de Virginia hacia el rostro de Baltimore cuando sus dientes de vampiro crecen), Twixt se presenta como una película confusa, que parece no decidir se es un horror serio o una parodia muy inteligente del género.

sábado, 23 de junho de 2012

La Trampa de la muerte.


El ganador es el quien cuenta la historia. 

Basada en una pieza de teatro escribida por Ira Levin, La Trampa de la Muerte es una película del año 1982 dirigida por Sidney Lumet. Una comedia sobre un escritor con bloqueo creativo dispuesto a todo para volver a tener suceso.

Después de ver su más reciente pieza rechazada por público y crítica, Sidney Buhl (Michael Cane) vuelve a su casa, en Long Island, arrasado y frustrado. Hablando con su mujer, Myra (Dyan Cannon), él decide tomar para sí el guión de uno de sus alumnos, ni que para eso tenga que matarlo. Myra, que sufre de una enfermedad del corazón, no aprueba la idea, pero no puede hacer nada para detener su marido.

Clifford Anderson (Chistopher Reeve), él dicho alumno, llega a la casa de Sidney a su invitación. Hablando con él, Sidney le pone unas esposas que pertenecían al famoso ilusionista Houdini. Clifford cree que puede libertarse con facilidad, pero en realidad él ha sido engañado. Sidney entonces lo mata.

Después de ocultar el cuerpo de Clifford, Sidney recibe la visita de Helga ten Dorp, una dicha vidente que le advierte acerca de la visita de un hombre que lo amenazará. Sideny no le hace caso, pero Myra se pone nerviosa. Más tarde, en el medio de la noche, el Clifton muerto resurge y persigue Myra hasta que su corazón no aguante más. Se revela así que Sidney y Clifford son cómplices en el plan para matar a Myrna.

La conspiración de La Trampa de la Muerto, sin embargo, continua. El espectador nunca sabe lo que puede pasar hasta que llegue al final.

Sidney Buhl (Michael Cane) y Clifford Anderson (Christopher Reeve)  en La Trampa de la Muerte.

La creación como situación de vida o muerte.

El guión de la Trampa de la Muerte utiliza la metalenguaje para hablar de lo que sería el proceso de su propia creación. Al final, no se sabe si la creadora de todo el guión fue Helga, o si todo ocurrió como se cuenta en la pieza y ella simplemente tomó para sí un guión ya hecho.

Los bloqueos creativos suelen pasar a cualquier escritor, así como la falta de suceso. La idea de que uno pueda hacer una gran conspiración para obtener un guión perfecto es tan absurda que si torna divertida. El humor negro es una fuerte característica de la película, así como la idea de que el ganador se lo lleva lo todo. El victorioso final, el que puede contar su versión de la historia, es su verdadero dueño.

Ficha Técnica

Dirección: Sidney Lumet 

Guión: Jay Presson Allen, a partir de la pieza de Ira Levin. 

Año: 1982

País: Estados Unidos

Elenco: Michael Cane, Christopher Reeve, Dyan Cannon.


domingo, 17 de junho de 2012

Revisionando a El Artista


La película ganadora del Oscar 2012.

Después de haber escrito una crítica de El Artista en portugués, la tarea de hacerla una vez más en español surge como una buena invitación a revisar mis ideas y conceptos acerca de la película.

Premiado con cinco Oscars, El Artista, del director Michael Hazanavicius, llamó la atención del público y de la crítica por traer una vez más a la pantalla la estética del cine de los años 1920/30. Su temática aborda la transición del cine mudo al cine sonoro, la caída de un artista de su pedestal y su relación profesional y amorosa con una actriz que, al contrario de él, sube en la carrera.

Las características de la estética de los años 1920/30 presentes en la película van mucho más allá de la falta de sonido en directo y de la imagen en blanco y negro. La actuación, la utilización de la música y la caracterización de los personajes como sujetos lineares y un poco estereotipados también son elementos importantes que componen esa estética.

El Artista y Cantando bajo la Lluvia.

Es imposible no percibir la semejanza entre las dos películas, principalmente en la escena de apertura. En Cantando bajo la Lluvia, el galante Don Lockwood (Gene Kelly) presenta su más reciente película de suceso, una película muda de aventuras. Después de la sesión, él sale a frente de la pantalla para agradecer al público. Lo mismo hace George Valentin, el personaje principal de El Artista.

Los caminos de las dos películas empiezan a separarse en las escenas siguientes. Mientras Cantando bajo la Lluvia es una comedia musical con sonido en directo e imágenes en color, El Artista es también una comedia, pero sin sonido en directo, sin escenas de cantes y bailes y en blanco y negro. En el primero, Don Lockwood está siempre con su gran amigo Cosmo Brown (Donald O’Connor), y recibe la ayuda de una fan que también quiere ser famosa, Kathy Selden (Debbie Reynolds). En el segundo, él mejor amigo de Valentin es su perro, y la fan con ilusiones de fama que le ayuda es Peppy Miller (Bérénice Bejo). Por fin, las dos películas comparten la temática de la transición del cine mudo al cine sonoro.

George Valentin (Jean Dujardin): el artista en su fase de suceso. 

Una temática de transición en una época de transición.

El período de transición del cine mudo al cine sonoro fue uno de los marcos más significativos en la historia de esta arte. Muchos fueran los artistas que de pronto se recusaran a utilizar la nueva técnica, entre ellos, Charlie Chaplin, que después percibió el poder de las palabras en el cine cuando realizó uno de los más bellos discursos que el mundo ha visto en El Gran Dictador (1940). En El Artista, George Valentin (Jean Dujardin) es un actor que no acepta cambiar su método de trabajo para ajustarse a la novedad del cine sonoro.

La oposición entre Valentin y el cine sonoro es establecida de forma simbólica en la escena de apertura, en que el personaje es torturado en una película por hombres que le ordenan que “hable”, mientras los carteles responden que él “no hablará jamás”.

Cuando el director de su próxima película le presenta a la nueva tecnología del cine sonoro y le propone trabajar con ella, Valentin se recusa. Afirmando ser un artista a que la gente quiere ver, no oír, él escribe un nuevo guión y roda una nueva película muda. Mientras eso, una de sus fans, Peppy Miller (Bérénice Bejo), empieza su carrera de actriz haciendo películas sonoras. Como resultado de eso, Valentin vive el primer desastre de su carrera, pero Peppy Miller alcanza el suceso.

Valetin resiste al cine sonoro y acaba perdiendo todo lo que tiene. Peppy intenta ayudarlo, pero é todavía necesita tiempo para aceptar la nueva realidad de su profesión y encontrar una vez más su espacio.
Hoy, el cine pasa por otro gran momento de transición. La tecnología analógica ven siendo substituida por la digital. Los decorados generados por computadora, el crhoma key, los efectos especiales y el formato 3D ganan cada vez más espacio. Afora eso, las discusiones acerca de la piratería y de la venta de películas por internet atingieron su auge ahora, en el final de año 2011 y principio del año 2012. Así, retomando una transición del pasado, El Artista también está en sintonía con el presente.

Lo que nos recuerda Hazanavicius es que el cine sigue siendo cine, aún cambie constantemente.

El Artista en su fase de dificultad: siempre con su mejor amigo, el perro. 


La estética de los años 1920 en los años 2010.

Hazanavicius no trae solamente la falta de sonido en directo y el color blanco y negro de las imágenes para construir una mis-en-scène característica de los años 1920. El estilo de la narrativa, las características de los personajes y los diálogos – unos pocos en forma de carteles -, cada parte tiene su función dentro del todo.
Un pequeño, pero significativo ejemplo es el conductor que trabaja para Valentin. Aún con su jefe fallido, sin pagarle hace un año, él sigue trabajando fielmente. Esa lealtad de los empleados hacia sus patrones, así como la deificación del personaje principal, el héroe, son detalles típicos de la narrativa del cine de los años 1920/1930.

Traer de vuelta una estética que no se veía en el cine hace cerca de ochenta años seguramente fue un paso atrevido de Hazanavicius.  El sentimiento de nostalgia que su película generó en el público fue muy grande. Esa nostalgia, sin embargo, es sentida por un público que no la tiene de verdad. Es decir, no hay más (o hay muy pocas) personas  vivas que sean capases de acordarse de las películas de las décadas de 1920/1930 por las haber visto en los cines, por ser esas las películas actuales de su época. Lo que el público de hoy conoce de este cine del pasado son los DVDs, las proyecciones especiales en festivales de cine. Así, es un público que siente nostalgia por una época en la que no vivió.

Hazanavicius, sin embargo, sabe el momento de ser fiel a la  estética escogida y el momento de romperla, aún no totalmente. Sufriendo con la duda y con las amenazas del cine sonoro a su carrera, Valentin tiene un sueño en que puede oír todos los sonidos del mundo a su alrededor, pero al intentar hablar, su voz no sale. Para esa escena, el director corta la música, presente durante toda la proyección, y destaca los sonidos naturales, como el del copo que suena al ser puesto sobre una mesa.

Al final, El Artista es una película, sobretodo, sencilla. Pero ese es justamente su encanto, el de acordarnos que el cine sencillo también es bello, aún no necesariamente genial.