segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sherlock Homes volta às telas.


Depois do sucesso de Sherlock Holmes em 2009, nada mais natural do que iniciar uma franquia. Já em cartaz há um tempo, Sherlock Homes: Jogo de Sombras traz Robert Downey Jr. de volta ao papel do detetive mais famoso de todos os tempos, dirigido novamente por Guy Ritchie. Desta vez, Holmes deve impedir que o maligno professor Moriarty (Jared Harris) e seu plano de acabar com a paz mundial.

Já vi muitos críticos reclamando que Guy Ritchie assassinou o Sherlock Holmes original dos livros de Conan Doyle. Eu nunca li para saber até que ponto estão certos, mas não me parece que o diretor tenha cometido um pecado assim tão grande quanto o dessa gente que anda por aí transformando vampiros em fadas. Ainda assim, o roteiro e a direção de Jogo de Sombras incomodam um pouco em dois aspectos.

Jude Law e Robert Downey Jr. levam Watson e Holmes à sua nova aventura.

Primeiro, a ausência de mistério. Logo no início do filme, Holmes conecta uma série de acontecimentos misteriosos e sem relação aparente uns com os outros e declara a seu fiel amigo Watson (Jude Law) que todos são obra de Moriarty. A conexão aparece pronta, e ao público não é dada uma linha de explicação de como Holmes chegou a ela. Watson duvida da teoria do amigo por um tempo, mas rapidinho se deixa convencer: Holmes só pode estar certo. E é assim que um filme de mistério começa com a primeira peça do quebra-cabeça encontrada: o vilão.

Segundo, os personagens caricatos. Discussões à parte sobre se Sherlock Holmes deveria ser um sisudo de cachimbo, que usa apenas o poder de observação e o cérebro, ou um homem de ação, socos e tiros. A tentativa de renovar o personagem gerou uma surpresa boa no primeiro filme, mas agora a mão pesou um pouco. Holmes está tão neurótico e alucinado que só o carisma de Downey Jr. é capaz de salvar, e Jared Harris parece não saber muito bem o que fazer com seu Moriarty, gerando um vilão típico de desenho animado. Sortuda foi Rachel McAdams, que tirou sua Irene Adler do barco antes que se afogasse.

Ainda assim, Jogo de Sombras tem seus bons momentos, arrancado risadas e incentivando o maior sentimento que acompanha os blockbusters: a torcida pelo sucesso do mocinho. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Dois coelhos: a cultura pop invade o cinema brasileiro.



Edgar (Fernando Alves Pinto) não faz nada da vida. Vive confortavelmente às custas do pai, já que sua tentativa de trabalhar não deu certo e a vida de vagabundo é muito mais atrativa. Ele divide seu tempo entre o vídeo game e a pornografia, ou a pornografia e o vídeo game. Mas Edgar tem um plano. E esse plano vai mais do que dar sentido à sua vida: vai consumi-lo por completo.

Sem querer entregar muito o roteiro, pode-se dizer que o plano de Edgar é no mínimo engenhoso.  O melhor do filme é ir juntando os pedacinhos que o autor e diretor Afonso Poyart vai liberando aos poucos, envoltos em muitos tiros, slow motion e efeitos de animação. 2 Coelhos é o primeiro longa da carreira do diretor, e seu background como diretor de comerciais e videoclipes fica evidente em sua maneira de conduzir o trabalho. Em 2 Coelhos cada frame parece gritar por atenção, cada minuto parece construído como um comercial que precisa fascinar rapidamente o público e vender seu produto. A importância dada a aliança de música com imagem é altíssima, e a estética acelerada do videoclipe marca forte presença. É quase impossível piscar.

Alessandra Negrini e Fernando Alves Pinto em cena.

O que mais se destaca no filme, contudo, é a influência da cultura pop. A presença das interferências de animação, da realidade digital do vídeo game e dos bandidos que usam uma katana não deixa dúvidas quanto a isso. Os figurinos também são um ponto importante, compondo discretamente os personagens. É interessante notar a transição do figurino de trabalho da promotora Julia (Alessandra Negrini) para suas roupas mais “dia-a-dia”.

Classificado como um filme de ação, 2 Coelhos não economiza balas, fogo ou explosões. Os efeitos físicos foram muito bem executados pela equipe técnica, e a montagem contribuiu bastante para o sucesso do resultado final.

Video games, videoclipes e animação : a cultura pop marca presença.

Poyart também foi muito bem-sucedido na seleção do elenco e na direção dos atores. Caco Ciocler dá aos silêncios e tiques nervosos de seu personagem Walter todo o significado das palavras não ditas. Alessandra Negrini conduz Julia, que sofre de ataques de pânico, de forma natural, sem cair no exagero. Por fim, Fernando Alves Pinto faz do nerd folgado Edgar um cara levemente psicótico, o anti-herói por quem adoramos torcer. Os personagens em si são muito humanos. Nenhum bandido é simplesmente bandido, nenhum herói é simplesmente herói. São todos seres humanos buscando seu caminho, por mais torto que esse possa ser.

 Juntando todas as pontas do quebra-cabeças que forma, 2 Coelhos é um grande êxito. Um dos melhores filmes brasileiros da última década, se não de todos os tempos. E com certeza o mais pop já feito.

domingo, 22 de janeiro de 2012

O cavalo mais sortudo do mundo.


É difícil escrever sobre Cavalo de Guerra (War Horse) . É um filme plasticamente incrível, mas com um enredo fraco e bobinho. E não há muito mais a dizer. Ah, foi dirigido por Steven Spilberg, isso também.

Apesar de precisar de um tipo de cavalo diferente, mais forte e resistente para o trabalho de arar o campo, Ted Narracott (Peter Mullan) compra um leve cavalo de montaria, Joey. Seu filho Albert (Jeremy Irvine) se encanta pelo animal e o transforma em melhor amigo. Apesar de todo o treinamento que Albert dá a Joey, sua pobre família não pode mantê-lo e o vende a um oficial no começo da Primeira Guerra. A separação arrasa Albert, que promete procurar o cavalo e trazê-lo de volta para casa. E pronto, está delineado o enredo de um filme que será muito bonitinho e fará todo mundo (ou quase) chorar.

Albert (Jeremy Irvine) e seu querido cavalo/ melhor amigo Joey


Joey passa por vários donos ao longo da guerra, sempre calhando de encontrar pessoas boas que o protegem, tanto do lado britânico quanto do lado alemão. O filme é construído de forma que o espectador se vê torcendo pelo pobre Joey, mesmo sabendo que suas façanhas são impossíveis e absurdas. É claro que a magia do cinema é exatamente essa: fazer o espectador acreditar, se envolver e se emocionar com histórias irreais, mas isso é utilizado de forma exagerada e até um pouco cansativa em Cavalo de Guerra.

Se as belas imagens do filme fossem congeladas e transformadas em uma exposição fotográfica, uma visita valeria muito mais a pena do que uma sessão no cinema.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Tintin sob a batuta de Spilberg


Dirigido por Steven Spilberg, As Aventuras de Tintim: o Segredo do Licorne estréia hoje, tanto em projeções em 2D como em 3D. Trata-se do primeiro filme de animação dirigido por Spilberg, além do primeiro de uma trilogia de filmes sobre Tintim. Apesar de estar estreando na área, Spilberg é um diretor mais do que experiente, e Tintim é um personagem mais do que conhecido por diversas gerações. Dessa combinação surge um filme brilhantemente executado, divertido e empolgante.

Tintin e seu fiel cãozinho Milou



Criado por Hergé em 1929, o personagem Tintim é um jovem repórter que sempre acaba envolvido em investigações mirabolantes, envolvendo desde buscas a grandes tesouros até conspirações políticas. Sempre acompanhado por seu fiel amigo Milu, um cachorro com mais inteligência do que muito ser humano, Tintim é como um jovem James Bond com menos recursos tecnológicos, mas com a mesma habilidade para realizar feitos inacreditáveis.

No filme, Tintim já é um repórter famoso, publicamente reconhecido, o que inclusive rende uma divertida brincadeira com um cartunista que faz seu retrato logo na cena de abertura. Ao comprar um modelo de um navio, o Licorne, ele acidentalmente se coloca no caminho do poderoso Rackhan, cujo grande interesse pelo modelo desperta suspeitas. Tintim começa a investigar o mistério que envolve o navio, encontrando no caminho o bêbado capitão Haddock, que se revela como uma das peças mais importantes do quebra-cabeça e o melhor personagem do filme.

O bêbado Capitão Haddock tenta descifrar uma das pistas do mistério.


Spilberg já é o favorito ao Oscar de animação por Tintin, e não é à toa. A beleza das imagens digitalmente criadas chama a atenção para o nível de sofisticação que essa técnica atingiu, ainda mais quando bem guiada. As transições das cenas, como o barco que invade o deserto ou a história que se reflete em bolhas são a parte mais cinematograficamente interessante do filme.

Apesar do apelo infantil do filme, não leve aquele seu sobrinho de 5 anos, porque ele não vai gostar. Há cenas escuras de suspense, violência e algumas mortes. Pelo bem das crianças, vale a pena respeitar a classificação indicativa de 10 anos.