segunda-feira, 25 de abril de 2011

Dica da vez.

Não consegui ir ao cinema com a frequência que eu gostaria esse mês. Pra não deixar o blog muito parado, porém, tenho uma dica aos interessados no cinema brasileiro: o site da Casa de Cinema de Porto Alegre.

A Casa foi fundada em 1987 e desde então produz curtas e longas de altíssima qualidade. Entre seus sócios encontram-se Jorge Furtado, roteirista e diretor de O homem que copiava e do curta Ilha das Flores, e Giba Assis Brasil, montador de Meu tio matou um cara e Ó paí ó.

O site da produtora permite que o visitante assista a diversos de seus curtas, além de disponibilizar o roteiro de quase todos eles. É um excelente material de estudo aos interessados, mas também uma ótima forma de simplesmente se interar da produção cinematográfica nacional. É possível também comprar os filmes pela loja online.

Recomendo assistir (e comprar, por que não?): Ilha das Flores, Dona Cristina perdeu a memória, Felicidade é... estrada e O sanduíche. Longas não estão disponíveis no site, mas quem ainda não assistiu O homem que copiava realmente deveria correr atrás. É um dos melhores filmes brasilieros dos últimos anos.

Casa de Cinema de Porto Alegre: http://www.casacinepoa.com.br/node

terça-feira, 12 de abril de 2011

O mundo surreal de Zack Snyder

ATENÇÃO: Esse texto todo é um enorme SPOILER. Conto tudo o que acontece no filme MESMO.

Enfim, Sucker Punch. Difícil falar a respeito. Acho que eu ainda não consegui decidir se odiei ou se o filme apenas não atingiu as minhas expectativas.

A abertura, desenvolvida como se fosse um videoclip, começa com uma narração piegas sobre anjos, e em seguida mostra as tragédias da vida de Baby Doll, papel que Emily Browning interpreta no melhor estilo Bella Swan (Kristen Stewart, em Twilight). Após perder a mãe, ela tenta salvar a irmã mais nova dos abusos do padrasto e acaba matando acidentalmente a menina. Alegando que Baby Doll sofre de problemas mentais, o padrasto a interna em uma instituição e suborna um dos funcionários para que ela seja submetida a uma lobotomia. Ainda dentro do videoclip inicial, Baby Doll conhece seu fatídico destino, sendo também apresentada a suas companheiras na instituição. Ela encontra as garotas em um palco, em que as pacientes são postas a interpretar seus traumas como parte de seu tratamento. Os cinco dias que a separam de sua lobotomia se passam em uma elipse em meio a música, até que Baby Doll senta-se na cadeira à espera do procedimento. É nesse momento que o diretor Zack Snyder nos leva para dentro da mente dela.

Emily Browning como a frágil Babt Doll.

Em sua imaginação, Baby Doll é recém chegada a uma espécie de cabaré/prisão em que as garotas devem dançar em trajes mínimos para agradar aos clientes ricos. Nem um ínfimo passo de dança é mostrado. Snyder deixa para a imaginação do espectador determinar que dança é essa que – especialmente no caso de Baby Doll – prende tanto a atenção dos homens. A prostituição das garotas é algo insinuado, mas Snyder não insiste na idéia. O que é mais interessante é que, além de dançar, as garotas acumulam tarefas como lavar o chão e descascar batatas. A carga de fetiches que elas carregam sobre os ombros é enorme.

As garotas do cabaré.

Frágil e assustada, Baby Doll é “reservada” para um cliente especial que chegará em cinco dias. Quando dança em seus ensaios, Baby Doll entra em um segundo mundo imaginário, um lugar fantástico onde ela é uma guerreira habilidosa. Juntamente com Sweet Pea (Abbie Cornish), Rocket (Jenna Malone), Blondie (Vanessa Hudgens) e Amber (Jamie Chung), ela deve encontrar cinco itens que proporcionarão sua liberdade. É nesse ambiente que toda a ação acontece. Com uma estética de videogame, esse “mundo surreal” apresenta um novo cenário para cada desafio que as garotas devem enfrentar. Nesse universo imaginário, as garotas são guiadas por um homem que primeiro aparece como uma espécie de monge, em seguida como um general (Scott Glenn). Ele lhes fornece armas e instruções a cada “missão”.

No cabaré ou na guerra, sempre sensuais.

Os diálogos são mínimos e a ação toma conta do filme. Tiros, explosões, e Baby Doll realizando o mesmo salto lateral umas três ou quatro vezes. A semelhança de um videogame, cada “fase” que as garotas devem cumprir apresenta um cenário característico. E percebe-se que Snyder aproveitou alguns efeitos especiais guardados nos armários da Warner: estão lá os orcs da trilogia O Senhor dos Anéis e o dragão de Harry Potter e o Cálice de Fogo. Inclusive, a manobra que Amber utiliza para se livrar da perseguição do monstro, passando por baixo de uma ponte, é bem semelhante a que Harry usa em seu próprio filme.

O final do filme é coerente, pelo menos. Baby Doll não se salva, mas consegue fazer com que Sweet Pea escape. É coerente porque Sweet Pea tem uma família para quem voltar, é muito mais forte e não é lânguida como Baby Doll. Mas não pense que a frágil garota não obtém sua justiça. Sim, Sucker Punch é um filme de final feliz, acredite você ou não. O encerramento apresenta a continuação da narração inicial, completando a idéia de que o filme trata, na verdade, de anjos de bondade infiltrados entre as pessoas. Mas quem seria o tal anjo? Baby Doll ou o General? Ou ambos?

Baby Doll: doente mental, dançarina, guerreira ou anjo da guarda? Nem mesmo ela sabe.

Vamos elencar os diversos elementos que Snyder usa no filme, só para deixar claro: uma garota órfã condenada a uma lobotomia desnecessária, um cabaré/prisão que explora jovens meninas, um grupo de mulheres guerreiras que deve realizar missões em cenários que vão de um castelo medieval a um campo da batalha da II Guerra, e a idéia principal do filme: há anjos entre nós. Assimilou tudo? Eu também não.

sábado, 2 de abril de 2011

Sobre provocar

Vagando pelo youtube, tropecei em um teaser de Kung Fu Panda 2. O filme está previsto, pelo o que eu entendi, para estrear dia 26 de maio nos EUA. A primeira animação da série apresentou uma direção de arte exuberante e encantadora, além de um roteiro muito divertido, e estou apostando que a sequência não deixará a desejar. Mas o que me motivou realmente a falar sobre esse teaser foi a criatividade apresentada nele. Em um universo cinematográfico em que os trailers cada vez contam mais e mais o que se passa nos filmes, os teasers de cerca de 30 segundos tem se mostrado uma ótima opção para incitar o espectador de forma muito criativa sem contar nada, principalmente nas animações. E exemplos não faltam. Temos: Meu malvado favorito e Up!, com dois dos mais recentes.



Incitar a curiosidade do público sem revelar detalhes da trama e sem "gastar" as melhores cenas nos trailers não precisa, porém, ser feito em um espaço tão curto quanto 30 segundos. Foi isso que a Pixar provou com os teasers de Toy Story 3 como este:



Às vezes, os conceitos de "teaser" e "trailer" se confundem. Ambos são formas de dilvulgação, e a própria Wikipedia define o trailer como sendo um teaser, já que ambos tem a funcão de provocar o espectador, deixá-lo curioso e ansioso em relação ao filme. A diferença entre eles, contudo, foi convencionada pelo mercado.

O trailer, por ser um formato mais antigo, já consagrado por décadas de produção cinematográfica, ficou definido como um conjunto de determinadas cenas de um filme com falas impactantes, que apresentam os personagens principais e o conflito, pelo menos em linhas gerais. Essa técnica foi refinada ao longo dos anos, até chegarmos ao conjunto de cenas picadas, apenas pouquíssimos segundos de ação editados em formato de videoclip que compõem a maioria dos trailers de hoje.

Sim, eu reclamo que muitos trailers atuais apresentam cenas que não estão no filme, como aconteceu com o King Kong de Peter Jackson, em que a fala "scream for your life" do personagem de Jack Black não está no filme. E reclamo que alguns revelam muito da história, mas isso é porque eu prefiro saber o mínimo possível sobre o enredo antes de assisti-lo. Gosto de trailers provocativos, não reveladores. Anos atrás, porém, havia trailers que não só revelavam a história quase que toda, como mostravam o final. Esse é o caso de Breakfast at Tiffany's, de 1961. Repare a diferença de estilo. Há um narrador que convida o espectador a assistir ao filme. Naquela época, fazer o trailer de um filme não era uma arte muito diferente do que fazer uma propaganda de sabão em pó.



Quanto ao teaser, este ficou conhecido como uma propaganda mais curta do que o trailer, composto geralmente por uma cena única, que não pertence ao filme, mas que é completa em si mesma. É algo utilizado para deixar todo mundo se perguntando "o que é isso?". Quem assiste a essas propagandas geralmente decora o nome do filme a que ela se refere. Faça o teste você mesmo. Esses conceitos com certeza não são rígidos, e inovações são (quase) sempre bem vindas. Um exemplo muito legal foi a paródia que a Disney fez com um vídeo hit do youtube chamado "Double rainbow". O teaser para Enrolados foi chamado de "Double Tower". Eu não tenho certeza, mas acho que foi divulgado somente na internet.



É claro que esse tipo de coisa é muito mais fácil de ser feita com animações, mas as demais produções poderiam, ainda assim, inspirar-se nesses exemplos para criar formas inovadoras de divulgação. Na pior das hipóteses, é um desafio interessante. Por fim, o teaser de Kung Fu Panda 2 que inspirou todo esse discurso: