quarta-feira, 30 de março de 2011

Vips

Estreou dia 25 o vencedor do prêmio de melhor filme do Festival do Rio de 2010: Vips, do diretor Toniko Melo. Baseado em uma história real, o longa retrata a busca de Marcelo (Wagner Moura) por seu lugar no mundo. Desesperado para descobrir quem ele realmente é e insatisfeito com a sua real identidade, Marcelo inventa para si mesmo diversos personagens por trás dos quais se esconde.


Wagner Moura como Marcelo: no início, um adolescente inseguro.

Logo no começo somos apresentados a um Marcelo adolescente, inseguro e zoado pelos colegas, que o chamam de “bizarro”. Descobrimos que ele vive só com a mãe, que demonstra não saber quem é o pai do garoto e que finge ignorar os problemas do filho por pura vaidade. O único apoio de Marcelo é o homem que ele julga ser seu pai, um piloto de aviões em vôos internacionais, profissão que ele deseja seguir. Para realizar seu sonho, Marcelo foge de casa rumo ao Mato Grosso do Sul, aplicando o seu primeiro “golpe” para conseguir uma passagem rodoviária de graça. Após alguns meses trabalhando em um aeroclube, ele se envolve com traficantes paraguaios, assumindo a identidade de “Carrera”. Esta é apenas uma das muitas identidades que o personagem assume ao longo do filme. E arrastado por ele, Wagner Moura também.


Em seguida, como o traficante "Carrera".

Que a fase de Wagner no cinema é excelente, não há dúvidas. Capa da edição de março da revista Bravo!, o ator revela, na publicação, algumas técnicas que utiliza para encarnar seus personagens. Entre elas, a idéia de anotar em um caderno as diversas características do personagem. Após fazer isso diversas vezes, ele começou a reparar que essas anotações sempre terminavam com uma frase como “ Marcelo é você”. Em Vips ele utiliza a mesma dedicação de sempre, obtendo um ótimo resultado como o garoto inseguro que utiliza várias máscaras para dar vazão a seus sentimentos e vontades. Wagner move o filme. Wagner é o filme.

Um aspecto muito interessante de Vips é a direção de arte, que caracteriza bem cada etapa da vida de Marcelo. A ambientação das cenas do carnaval de Recife, apresentando as fantasias e máscaras típicas, é um dos momentos mais belos do filme. A direção de Toniko Melo trabalha muito bem com espelhos e reflexos, característica que combina muito bem com o roteiro. Só tem um plano em especial que eu não gostei: o travelling subaquático que atravessa a piscina do hotel em Recife, cena em que os créditos iniciais aparecem. No começo, sem problema. Depois, na segunda metade do filme, o plano inteiro é repetido, o que dá aquela sensação de “hei, eu já vi isso antes”, mas não do jeito agradável. Sem contar que, sem os créditos, o deslocamento da câmera fica muito vazio, já que pouca coisa acontece naquela imensidão azul da piscina. Fiquei com a impressão de que aquele plano repetido representava o diretor afirmando: “me invejem, meu orçamento me permite gastar um plano inteiro filmando nada em baixo d’água”. Bem desagradável.

E perdido em sua fantasia ao se passar pelo empresário Henrique Constantino.

Enfim, Vips lembra muito a história do americano Frank Abagnale Jr (Leo Di Caprio) em Prenda-me se for capaz (Catch me IF you can), também uma história verídica. A diferença básica é o que move os personagens principais dos dois filmes. Enquanto Frank começa trapaceando para fugir de um lar desfeito e continua sua jornada para dar orgulho ao pai, Marcelo foge de casa para seguir seu grande sonho, mas de forma distorcida, e é o não saber o que fazer e o não se encaixar na sociedade como sendo ele próprio que o move a mudar constantemente de identidade. E há o glamour, é claro, ausente no filme brasileiro. Marcelo não tem nenhum glamour. É um personagem digno de pena, mas carismático, graças a Wagner Moura.

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