sábado, 23 de outubro de 2010

Orgulho e Preconceito e Zumbis.

É impossível não sentir curiosidade diante desse título, principalmente para quem já leu o original de Jane Austen. No entanto, quando minhas dúvidas sobre como Seth Grahame-Smith enfiou zumbis nas vidas de Elizabeth Bennet e do Sr. Darcy foram finalmente sanadas, a princípio, me senti decepcionada. Ao ler: “Enquanto os convidados fugiam para todos os lados, a voz do Sr. Bennet sobrepôs-se ao pânico: - Meninas! O Pentagrama da Morte!”, eu soltei um sonoro e redondo “what the fuck?”, já imaginando que a experiência de ler aquela fanfiction mal escrita até o final seria muito mais penosa do que eu imaginara. Mas não foi assim.

No começo, a idéia de que a Inglaterra vem sofrendo com uma estranha praga de zumbis há mais de 50 anos e que as famílias abastadas estudam técnicas de artes marciais no Oriente para se defenderem – inclusive as damas – é muito, muito estranha. Com o desenvolvimento da história, porém, fica cada vez mais fácil perceber a intenção cômica do autor ao incluir mortos-vivos no romance de Austen.

O fato de Elizabeth agora utilizar uma adaga juntamente (ou até mais do que) sua língua afiada é extremamente simbólico. E há passagens em que, com suas armas mortais, ela realiza coisas que muitos dos leitores do romance original com certeza já desejaram que acontecessem. Além disso, as brincadeiras com a linguagem de Orgulho e Preconceito e com os costumes da época não são poucas. Com certeza quem ler o romance original antes dessa adaptação as compreenderá muito melhor.

A essência da história continua a mesma, mas a inclusão de tantas artes de luta orientais e de tantas proezas absurdas por parte das personagens gera a forte sensação de se estar “lendo” um animê (desenho animado japonês). Recomendo Orgulho e Preconceito e Zumbis para quem já leu o romance original. Rende boas risadas, passada a estranheza inicial.

O filme

Natalie Portman está produzindo a versão cinematográfica do livro, em que ela interpretará – adivinhem – Elizabeth Bennet. Parece, contudo, que a produção atrasou e o diretor David O. Russell abandonou o barco. Tudo indica que a produção não será cancelada, mas eu não consegui encontrar nenhuma data de produção, estréia, nada. É esperar pra ver.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2

Após o enorme sucesso do primeiro, e esse ano com um forte esquema anti-pirataria, o diretor e roteirista José Padilha trás às telas a seqüência de Tropa de Elite. Desde a sua estréia, na sexta dia 8, até a quarta dia 13, o filme já havia levado 2,4 milhões de pessoas aos cinemas.

Os ingredientes de todo esse sucesso já são bem conhecidos desde 2007: cenas de ação, situações de tensão e, principalmente, um herói durão, de moral questionável e bordões facilmente decoráveis. Tudo isso não faria sentido, é claro, se não fosse interligado por um bom roteiro e brilhantemente executado, tanto pela direção de Padilha, quanto pela atuação de Wagner Moura como o já consagrado Capitão Nascimento.

Wagner como Capitão Nascimento em Tropa de Elite...

Quinze anos separam a trama atual do primeiro longa. O Capitão agora é Coronel Nascimento, já não tem bordões que possam ser incluídos em qualquer conversa nem repetidos à exaustão por seus fãs civis do outro lado da tela, mas mantém a mesmíssima moral que sempre teve: bandido não merece respeito. Essa moral é questionada pelo deputado Fraga, defensor árduo dos direitos humanos. O encontro dos dois na abertura do filme, quando ambos interferem em uma rebelião de presos em Bangu, é só o começo de uma trama muito bem interligada.

Eu achei o filme extremamente bem feito. Talvez alguém com mais estudo e mais experiência em cinema do que eu consiga encontrar algum defeito. Eu não ouso procurar. Destaco, contudo, a qualidade do roteiro, da montagem e da direção. Foram os três aspectos do filme que mais chamaram a minha atenção. Ouvi gente que achou ruim haver menos cenas de ação e violência neste do que no primeiro. Acontece que Tropa de Elite 2 não é um simples filme de ação. Padilha claramente tem uma história para passar, uma mensagem. Na minha visão, todas as cenas estão em equilíbrio para que esse fim seja atingido.

... e em cena de Tropa de Elite 2

Wagner Moura está, novamente, irrepreensível como Coronel Nascimento. O personagem, agora mais velho e mais experiente, é um excelente planejador tático do BOPE, mas tateia no escuro quando se trata de se relacionar com o filho. Quando ele percebe que seu posto na secretaria de segurança é apenas um golpe político e que as milícias começam a tomar conta das favelas, ele parte para a guerra, mas dessa vez, é uma guerra pessoal. Sua caça aos políticos corruptos com certeza envolve a todos os brasileiros, principalmente na cena em que Nascimento espanca o deputado bandido, um verdadeiro exercício de catarse nacional.

Enfim, o sucesso de Tropa de Elite 2 me empolga. Como eu já havia dito no post sobre o longa As melhores coisas do mundo, o cinema brasileiro me parece estar voltando à boa forma. Eu espero que filmes como os de Padilha animem o público a ir ao cinema assistir a mais produções nacionais, e ao mesmo tempo aqueçam o mercado, que está realmente necessitado de incentivos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O Hobbit: agora vai!

Depois de muitos boatos, enrolações e bafafás, incluindo uma confusão com o sindicato dos atores da Nova Zelândia, a MGM finalmente anunciou que a produção de O Hobbit vai começar. E para a alegria maior dos fãs da obra de Tolkien, serão dois filmes dirigidos por Peter Jackson.

A história que conta como o anel do poder chegou às mãos do pequeno Bilbo Bolseiro – ainda que esse não seja nem de longe o mais importante dos acontecimentos dessa obra, era cogitada para ser rodada desde que O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel foi lançado. Agora, as datas começam a aparecer de forma mais definitiva: começo da produção em fevereiro de 2011, primeiro filme a ser lançado em 2012. Ainda não há nomes confirmados para o elenco, mas o fato de que Ian McKellen voltará a interpretar o mago Gandalf é dado quase como certo.

2012 subitamente pareceu ainda mais longe pra você? Pois é, pra mim também. Resta o consolo de rever vezes sem fim a saga do anel em DVD e reler O Hobbit, esperando que isso faça o tempo passar mais depressa.



Fonte: http://www.cinemaemcena.com.br/default.aspx

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Desfrutar, perdoar, evoluir.

Os seres humanos são movidos pelos mesmos interesses, problemas, e questões existenciais em qualquer lugar do mundo. É essa a verdade que abre o filme Comer rezar amar, baseado no livro homônimo de Elizabeth Gilbert.

Apesar disso, Comer rezar amar traz mais do que as verdades óbvias que estamos acostumados a ler nos livros de auto-ajuda. O fato de ser baseado na experiência real da autora nos leva a ver os problemas e as soluções por sua ótica. Não sei como isso ficou no livro, mas no filme, entender os problemas pela ponto de vista de Elizabeth (Julia Roberts) e caminhar com ela em busca das soluções é uma experiência envolvente e – por que não – iluminadora.

Julia Roberts e Javier Bardem em Comer rezar amar

Em relação aos aspectos técnicos, não há muito o que se falar. A fotografia e a direção de arte mudam para ressaltar as diferenças entra cada um dos países pelos quais Elizabeth passa. Primeiro, os Estados Unidos, sua terra natal, apresentado de forma mais acinzentada; é onde surgem os problemas. Em seguida, a Itália, apresentada em luzes amareladas e tons que remetem ao vinho; é onde ela encontra bons amigos e aprende a curtir a vida. Depois, a Índia, com destaque ao colorido das roupas; é onde ela aprende a perdoar. Por fim, Bali, em que predominam os tons de verde e azul; é onde ela aprende a amar, de novo.

Julia está linda no papel principal, mas sua atuação é regular, não é ruim (jamais, é Julia Roberts, pelamor de Deus), mas não chega a ser marcante. E Javier Bardem, apesar de incrivelmente sexy no papel de Felipe, tem dificuldades em convencer o público brasileiro de que, bem, é brasileiro. Nada disso, porém, diminui a beleza do filme.

Fica um aviso: Mulheres, cuidado ao levar seu namorado/marido/ amigo com você. Ele tende a dormir durante a sessão como uma maçã tende a cair no chão após ser arremessada para o alto. Eu acho que as lições de vida são válidas para ambos os gêneros, mas tente convencer a sua companhia masculina – e depois me conte como foi.

domingo, 3 de outubro de 2010

As coisas mais difíceis do mundo

Finalmente criei vergonha na cara e fui assistir ao novo filme da Laís Bodanzky, depois de semanas após semanas prometendo a mim mesma “agora eu vou”. A diretora foi premiada por Bicho de sete cabeças, e apesar de não tê-lo assistido, fiquei curiosa em relação a seu novo trabalho.

As melhores coisas do mundo foi inspirado na série de livros “Mano”, de Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto, mas para calibrar ainda mais o roteiro com a realidade dos adolescentes atuais, Laís e sua equipe realizaram entrevistas em colégios de São Paulo. O resultados positivos ficaram explícitos no festival de Recife, em que o filme foi o grande vencedor, com oito prêmios.

Com 15 anos, Mano (Francisco Miguez) é um garoto de classe média que vê seu mundo se transformar radicalmente a cada dia que passa, com a separação de seus pais, seu interesse não correspondido pela colega Valéria, suas aulas de violão, a atitude depressiva de seu irmão, Pedro (Fiuk), e o dia a dia em uma escola em que os alunos ridicularizam e oprimem uns aos outros. Parece muito para um garoto de 15 anos aguentar, e para um filme de pouco menos de 2 horas abordar? Com certeza. Mas Laís consegue que o peso desses assuntos não sobrecarregue o filme, e, tendo saído da adolescência há pouco, posso dizer que a vida de um garoto de 15 anos é assim mesmo.

E é justamente nessa fase, quando todo e qualquer problema que surge parece ser o fim do mundo, e tudo o que importa é o agora, que os adolescentes são forçados a “crescerem”, mesmo quando não sabem como fazê-lo. Esse é o conflito que move o filme: crescer e tomar sempre a melhor atitute quando você nem ao menos é capaz de controlar o que acontece a sua volta. Todos os que já passaram – ou estão passando – por isso vão se identificar.

Francisco Miguez como o protagonista Mano, e Gabriela Rocha como a meiga Carol.

Considerando a parte técnica, os cortes e transições me chamaram a atenção. Em diversos momentos, a fala de um plano seguinte é ouvida como um off momentâneo, como se um plano “chamasse” o próximo. A fusão da campainha do portão com a campainha da porta, quando Mano visita seu professor de violão pela primeira vez no filme, é um exemplo do tipo de transição que também se repete, em que os planos são interligados por um som em comum.

É fácil entender por quê o filme venceu as categorias de melhor direção, direção de arte, fotografia, roteiro, edição de som, entre outros, em Recife. Além disso, a qualidade do filme me anima em relação ao cinema brasileiro em geral, que parece estar voltando aos seus bons anos. O fato de a realidade de um grupo social nacional poder ser utilizada para a criação de um bom roteiro nos mostra que não precisamos seguir temáticas ou padrões estrangeiros na realização de um cinema próprio de qualidade. Eu sou uma entusiasta da velha “antropofagia cultural”, acho que devemos estar atentos ao que acontece em outros países e aproveitar o que há de melhor, mas também acredito que a nossa realidade deve ser valorizada, e para isso, filmes como As melhores coisas do mundo são um excelente impulso.

De certa forma, o cinema brasileiro é como Mano: precisa encontrar seu caminho em um mundo onde ele não escreve as regras. As conquistas, assim como é mostrado no filme, vem da superação dos obstáculos, mesmo que esses pareçam ser os mais difíceis do mundo.

sábado, 2 de outubro de 2010

Vampiros bonzinhos (que valem a pena).

Os vampiros que se mordam (Vampires suck) estreou no Brasil nesse final de semana. Eu já havia comentado sobre minha empolgação em relação a uma sátira cinematográfica de twilight há um tempo, mas ontem pude conferir mais do que apenas o trailer.

E não é nada mais do que o trailer promete: um besteirol com piadas toscas e sem o menor requinte cinematográfico. Ainda assim, um gasto de tempo muito mais produtivo do que os filmes originais nos quais foi inspirado. Misturando os enredos de Crepúsculo e Lua Nova, com um toque de Amanhecer, o filme mostra como a enrolação de twilight é desnecessária, já que em uma hora de filme é possível contar todos os fatos essenciais de metade da “saga” – e ainda fazer piada disso.

Para mostrar como o twilight original é ruim, a sátira utiliza alguns planos e falas exatamente iguais ao primeiro, com Jenn Proske fazendo uma Becca exatamente igual à Bella de Kristen Stewart. Não, as contorções faciais de Proske não são exageradas, são iguais às de Stewart, preste atenção. Sim, twilight por si só já é uma piada, Os vampiros que se mordam somente ajuda a explicitar esse fato, mesmo não sendo, sozinho, um bom filme.

As piadas com certeza não são das melhores. Eu, como sou uma pessoa que acha graça de tudo, morri de rir. Como cinema, a qualidade é baixíssima. Como experiência catártica, até vale a pena. Mas se você não conhecer nada do enredo original de twilight, nem perca seu tempo.

Jenn Proske como Becca Crane e Matt Lanter como Edward Sullen.