segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Europa: enquanto a econômia enfrenta a crise, o cinema bate recordes

O que o sucesso de Intocáveis, na França, e O impossível, na Espanha, tem a dizer sobre a relação entre o cinema e a crise. 

Após Intocáveis, de Olivier Nakache e Eric Toledano, conquistar uma das maiores bilheterias da história da França, a produção espanhola O impossível acaba de bater o recorde nacional de melhor final de semana de estréia. A alta venda de ingressos, porém, não é a única coisa que estes longas têm em comum.

Escrito por Sérgio G. Sánchez e dirigido por Juan Antonio Bayona, O impossível tem os atores Ewan McGregor e Naomi Watts nos papéis principais. Após sua estréia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto, em setembro, o filme rumou para uma estréia espanhola cheia de particularidades. Para começar, o áudio original em inglês foi dublado para se adequar ao costume do país de praticamente não exibir filmes legendados nos cinemas. Em seguida, estreando em circuito comercial apenas na Espanha, o filme já atingiu o sétimo lugar no ranking mundial das estreias deste último final de semana. A lista foi encabeçada por Busca implacável 2, que, diferentemente de O impossível, estreou em 36 países, segundo a notícia da edição online do jornal espanhol El País.

Intocáveis, por sua vez, se transformou em fenômeno do cinema francês ao se tornar o filme mais visto no país em 2011, e entrar 2012 conquistando o lugar de terceiro filme nacional mais visto da história da França e assumindo o posto de filme francês mais visto no exterior. Somando-se o momento de crise econômica européia, particularmente na Espanha, onde a taxa de desemprego chegou a atingir mais de 22% da população em janeiro deste ano,  aos altos preços dos ingressos dos cinemas, esses sucessos de bilheteria impressionam ainda mais.

Omar Sy como Dris, e François Cluzet como Philippe, em cena  de Intocáveis. 

Histórias reais que inspiram

Outro importante elemento em comum entre Intocáveis e O impossível é que ambos são dramas baseados em histórias reais. O primeiro fala sobre a relação entre o tetraplégico milionário Philippe (François Cluzet) e seu cuidador, o ex-presidiário Driss (Omar Sy), buscando aliar o drama a uma comédia que, segundo a crítica, "diverte no limite do politicamente incorreto". O segundo promete não deixar um único espectador de olhos secos ao narrar a saga de uma família de turistas vítimas do tsunami de dezembro de 2004, que atingiu, entre outros países, a Tailândia, cenário do filme.

O cinema surgiu como um entretenimento de massas e se fortaleceu por ser uma opção barata e acessível às classes trabalhadoras. Durante o período de crise iniciado em 1929, o cinema forneceu uma maneira rápida e barata de deixar a dura realidade para trás por algumas horas e adentrar em um mundo de ficção. Hoje, uma entrada de cinema a sete euros dificilmente pode ser considerada barata, mas, curiosamente, é o preço médio que muita gente está pagando para sair de sua própria realidade e voltar oito anos no tempo, assistindo à recriação de um desastre natural que matou mais de duzentas mil pessoas.

É claro que O impossível não se trata apenas de recriar uma catástrofe, mas de mostrar a superação humana, a luta pela sobrevivência e a solidariedade, qualidades de que a Europa, especialmente a Espanha, têm sentido grande necessidade. De certa forma, nesta crise o cinema volta à oferecer ao público uma válvula de escape, ainda que seja para lembrá-lo de que sempre há alguém em uma situação pior.

O impossível: Maria (Naomi Watts) e Lucas (Tom Holland) buscam reencontrar sua família em meio ao caos.

Curiosidade: porque os cinemas espanhóis quase não exibem filmes legendados.

A preferência dos espanhóis pela dublagem vai além da explicação simplista do nacionalismo: tem origem na ditadura do general Francisco Franco, que controlava por meio da dublagem o conteúdo dos filmes estrangeiros exibidos. Se a opção fosse legendar, quem falasse inglês,  francês, ou algum outro idioma, poderia compreender o que estava sendo dito independente do que aparecesse como tradução, algo que não interessava em nada ao governo ditatorial. O próprio estímulo para que a população aprendesse outros idiomas foi mínimo na época de Franco, o que ajuda a explicar como até hoje o inglês dos espanhóis, de um modo geral, é péssimo. 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Academia recebe número recorde de inscrições para Oscar de filme estrangeiro.

 A pouco mais de quatro meses da premiação mais esperada do universo cinematográfico, os preparativos começam a delinear o perfil da cerimônia. A categoria de melhor filme estrangeiro, em especial, está chamando a atenção pelo número de candidatos, 71 no total. Destes, apenas cinco serão escolhidos para formarem a lista de nomeados a concorrer pelo grande prêmio. 

Nunca tantos países indicaram filmes para a categoria, o que proporciona algumas estreias. Nairobi half life, de David Tosh Gitonga, por exemplo, representa a primeira participação do Quênia na competição. 

Disputa difícil.

Além da quantidade, a escolha do Oscar de melhor filme estrangeiro será dificultada pelo peso dos concorrentes. Entre eles estão o austríaco Amour, de Michael Haneke, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, e o francês Intocáveis, de Oliver Nakache e Eric Toledano.

Amour, filme austríaco de Michael Haneke, está entre os candidatos a uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro. 
O Irã, país de A separação, vencedor do ano passado, não indicou nenhum filme como forma de protesto. O motivo do boicote foi A inocência dos muçulmanos, filme anti-islã lançado no youtube que gerou protestos em diversos países muçulmanos. A polêmica em torno do trailer de 14 minutos que teria sido alterado a partir do filme independente Guerreiro do deserto, continua. A equipe do original afirma ter sido enganada, o que não apasiguou o ânimo dos muçulmanos. (Fonte)

O Brasil indicou O Palhaço, escrito e dirigido por Selton Mello, que conta a história dos palhaços Puro Sangue (Paulo José) e Pangaré (Selton Mello). Os cinco finalistas serão nomeados dia 10 de janeiro.

Selton Mello em O Palhaço: a indicação brasileira para o Oscar de filme estrangeiro. 

Por quê Jack (Leonardo DiCaprio) jamais poderia sobreviver ao naufrágio do Titanic.


Jack morre no final. Por favor, parem de tentar salvá-lo.

A trágica morte do herói de Titanic (1997), que congela nas águas do Atlântico Norte enquanto sua namorada Rose (Kate Winslet) sobrevive sobre uma tábua sempre foi motivo de discussão entre os fãs do clássico de James Cameron. O programa de televisão norte-americano Mythbusters, famoso por desvendar mistérios e lendas urbanas deste tipo, recentemente fez a experiência que conclui a questão: Jack poderia ter sobrevivido se o colete salva-vidas de Rose fosse posicionado em baixo da bendita tábua. 

 Antes de entrar no mérito do quão conhecedor de física e do quão tranquilo após o trauma de presenciar o naufrágio do imenso transatlântico o casal deveria ser para pensar nesta engenhosa solução, voltemos ao histórico da questão. O primeiro argumento, que há anos circula por aí, é que haveria espaço na tábua para os dois, como a foto seguinte tenta demonstrar:

No oceano, o tamanho da superfície não é suficiente para garantir a flutuação.


Este ponto, porém, é rebatido pela física. O peso extra de Jack sobre a tábua faria com que esta não mais flutuasse. É aí que entra a solução dos implacáveis Mythbusters: o colete sob a tábua. Digamos, portanto, que Jack, ou Rose, tivesse esta idéia. Jack teria morrido de qualquer forma. Por quê? Simples, o roteiro o queria morto.

"O roteiro diz que Jack morre, então ele tem que morrer."

Foram as palavras de James Cameron ao site do jornal britânico The Guardian, quando questionado sobre o assunto. O diretor chegou a comentar que deveria ter utilizado uma tábua menor. Ele aparentemente já está cansado de que, mesmo após quinze anos, os fãs ainda tentem salvar o personagem. 

É interessante notar como o carisma de Jack conquistou os fãs ao ponto de que eles busquem evidências para tentar salvá-lo. O questionamento incessante do desfecho da obra, contudo, ignora o fato de que o roteiro manda, ponto. Para os propósitos do filme, o rapaz morre. Assim como Mufasa, o pai de Simba, morre em O Rei Leão, e Romeu e Julieta sempre morrem ao final de sua história. Personagem algum nasce ou morre sem um propósito, e lutar contra isto é ir contra a própria essência da obra a que ele pertence.

Aos interessados em um final feliz, mais fácil do que questionar o por quê de Jack morrer, é assistir ao filme até o ponto em que o rapaz, empoleirado na proa do navio, pronuncia a sua famosa frase "eu sou o rei do mundo", pausar, declarar "the end" e desligar a televisão. 

"Eu sou o rei do mundo!" - final alternativo que não está nos extras do DVD.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Skyfall: novo trailer tem música de Adele.


Um dos mais importantes componentes de todo o filme de 007 é a música de abertura, usada para marcar e caraterizar o filme. Em Operação Skyfall, o 23° da franquia Bond, a cantora Adele foi a escolhida para a difícil tarefa de agradar aos fãs do espião, que costumam ser muito exigentes no quesito trilha sonora. Madonna, por exemplo, não agradou com música de abertura de Um novo dia para morrer, em 2002.

A nova canção de Adele tem o estilo de "abertura típica de 007", uma forte voz feminina cantando uma balada. A música, que vazou há poucos dias, foi unida às imagens do filme em um novo trailer.




A música de abertura típica de James Bond.


Foi Shirley Bassey, em 1964, quem deu início ao estilo de aberturas que se tornaria característico da franquia ao interpretar a canção-tema do terceiro filme de James Bond, 007 Contra Goldfinger



A interpretação de canções para 007 nunca foi exclusivamente feminina, tanto que, por exemplo, Paul McCartney foi o responsável por Viva e deixa morrer (Live and let die), em 1973. A preferencia dos produtores pelas cantoras, contudo, gerou canções até hoje memoráveis, como Apenas para seus olhos (For your eyes only), interpretado por Sheena Easton, em 1981. 




Inovações raramente são bem-vindas pelos fãs.

Em 2002, Madonna tentou trazer uma pegada pop à abertura de Um novo dia para morrer (Die another day). A crítica, em parte, a condenou não por ser pop, mas por não ter força e por não ser um tema típico de James Bond.

A prova de que algumas inovações podem ser aplaudidas veio em 2006, com a música You know my name, executada por Chris Cornell para a abertura de Casino Royale. Com um estilo mais próximo ao rock, agradou tanto ao público quanto à crítica. Afinal, nada melhor do que um estilo diferente para marcar a estréia de Daniel Craig no papel de Bond, mudança esta que também se refletiu no estilo de roteiro. A partir de Craig, a história do agente secreto passou a ser recontada. James Bond agora apanha quase tanto quanto bate e se permite apaixonar-se genuinamente, ao invés de apenas colecionar garotas por onde passa. O interessante agora é a escolha de voltar a uma música-tema mais parecido aos antigos filmes. Isso gera a curiosidade: como será o direcionamento de Skyfall? A estréia cinematográfica mundial será dia 26 de Outubro.