segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Tron: Legacy

Por motivo de força maior fui assistir a Tron: Legacy, em 3D. O filme é exatamente o que eu esperava: bem fraquinho.

O filme é 100% comercial, com efeitos especiais, enredo e direção comercial. Por ser um filme da Disney, é do tipo “diversão para toda a família”, com cenas de ação e disputas entre bem e mal, sem, contudo, que nada muito trágico aconteça. Ainda assim, a Disney já fez filmes muito melhores do que Tron.

A história se baseia na primeira versão do filme, lançado em 1982, mas não é exatamente uma seqüência. Na versão atual, Jeff Bridges interpreta Kevin Flynn, mesmo papel que lhe pertenceu no original. Dessa vez, contudo, Flynn não é apenas um jovem engenheiro de softwares, mas a mente brilhante por trás de uma grande empresa chamada Encom. Ao desaparecer, ele deixa seu filho, Sam Flynn (Garrett Hedlund), órfão e herdeiro da empresa. Quando Sam volta ao antigo fliperama do pai, ele inicia um programa de computador que o leva para dentro da “grade”, espaço virtual em que o pai estava trabalhando quando desapareceu. Lá dentro, Sam encontra seu pai e se vê obrigado a lutar contra o clone virtual deste, o vilão Clu.

Sim, eu sei que o filme foi feito para ser bonitinho e que a classificação indicatória é 12 anos, mas eu achei diálogos fraquíssimos. Achei o filme muito monótono, sem momentos mais cômicos ou mais líricos, apenas passando em um fluxo contínuo. O personagem Kevin Flynn, visto como “o criador” do mundo virtual é uma óbvia referência a Obi-wan Kenobi, tanto pela barba e pelas roupas, quanto pela atitude meditativa. E a cena final,como meu irmão foi extremamente gentil em me recordar, é uma referência ao clássico Blade Runner, ficção ciêntífica muito melhor do que Tron, devo acrescentar.

Jeff Bridges como Obi-wan Flynn

O 3D do filme também deixa a desejar. Logo no início, há um aviso de que algumas cenas são em 2D, algo que fica nítido ao espectador durante o filme. Eu não sou uma grande fã do 3D, mas se é para usá-lo, que o usem direito. Fazer um filme misturando 2D e 3D é uma alternativa para barateá-lo e ainda assim atrair o público com uma falsa promessa. Acho que se o filme se propoem a ser em 3D, que seja inteiramente filmado com essa técnica. Além disso, o Tron é muito escuro. Não sei se isso é culpa do 3D, cujos óculos filtram a passagem de luz, o que deixa o filme mais escuro, ou se foi realmente feito assim. Não sei.

Um personagem que é um pouco mais interessante é Zuse (Micheal Sheen). Dono de uma animada casa noturna no mundo virtual, é o personagem excêntrico do filme. É justamente na sequencia que se passa no bar que aparece a dupla francesa Daft Punk, autores da trilha sonora, que ficou fantástica.

Enfim, Tron: Legacy não é um grande filme. Tenha certeza de ter esgotado todas as suas opções antes de entrar no cinema para assitir. Falo sério.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Depp versus Depp

Saiu hoje a lista dos indicados ao próximo Globo de Ouro, prêmio concedido anualmente pela Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, e considerado o principal “aquecimento” pré-Oscar. Os campeões de nomeações foram Rede Social e O discurso do Rei, com seis e sete indicações, respectivamente. O que chamou a minha atenção, contudo, foram as indicações para melhor ator de filme musical ou comédia, em que o nome de Johnny Depp apareceu duas vezes, por diferentes papéis.

Indicado tanto por seu chapeleiro maluco em Alice no País das maravilhas quanto por seu papel no ainda inédito (no Brasil) O Turista, Johnny Depp vai concorrer contra ele mesmo pelo Globo de Ouro 2011. Eu não sei se um ator indicado por dois papéis na mesma premiação é algo que já aconteceu antes, acredito que sim, ou a imprensa estaria fazendo o maior estardalhaço. Não deixa de ser, contudo, um fato curioso.

Depp como o Chapeleiro maluco...

Que Johnny Depp é um dos melhores atores da atualidade ninguém duvida, mas na minha opinião, nomeá-lo duas vezes na mesma categoria de uma premiação demonstra de duas uma: ou uma visão muito estreita da comissão eleitora, ou há uma carência de bons atores no mercado.

Digo isso porque não considero que Depp esteja genial em Alice no País das maravilhas. O personagem ficou uma mistura de Sweeney Todd, Willy Wonka e Jack Sparrow. Ou seja, nada muito diferente do “padrão” Depp. Não sei como ele está em O Turista, mas pelo trailer, é apenas um Depp mais contido. Tudo isso me faz ter a impressão de que ele foi nomeado apenas por falta de melhor alternativas. Nada me tira da cabeça que, se duas atuações de Depp fossem disputar entre si, deveriam ser seus papéis em Edward mãos de tesoura e em A janela secreta, este último sendo, na minha opinião, o último filme em que o ator mostrou uma atuação realmente diferente, talvez por não ter sido dirigido por Tim Burton.Esse sim seria um páreo duro.

... contra Depp em O turista.

Não quero desmerecer Johnny Depp. Acho que o “problema” dele é o mesmo que citei em relação a Zach Galifianakis aqui: ele ficou muito famoso por um só tipo de papel, o de personagem excêntrico. Diferentemente de Zach, porém, acredito que Depp ainda terá muito mais espaço para papéis diferentes destes últimos. Quem sabe até um novo Edward mãos de tesoura, sereno e profundo, em contraste com o amalucado e agitado chapeleiro? Mas, em relação ao contexto atual, fico triste em perceber essa falta de bons atores para rivalizar com ele e ocupar as vagas na disputa. Espero que isso mude em breve.

P.S.: É claro que O Turista ainda pode me surpreender, algo que eu vou achar maravilhoso se realmente acontecer.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Vem aí: Piratas do Caribe 4.

O melhor seria Pirata do Caribe 4, já que Orlando Bloom e Keira Knightley estão fora do filme, e Johnny Depp assume de vez o papel de protagonista isolado. Que essa sequência é apenas (mais) uma desculpa para lucrar com a imagem do pirata atrapalhado e cheio de trejeitos Jack Sparrow (Depp), todo mundo já sabe, mas tem como negar que o personagem cativa? E dessa vez, sua companhia será Penélope Cruz, que com certeza vai satisfazer às fantasias de muitos marmanjos de plantão vestida de pirata, apesar de se tratar de um filme da Disney para crianças/adolescentes.

Primeiras imagens de Piratas do Caribe 4: Johnny Depp e Penélope Cruz em cena.

Piratas do Caribe: Navegando em águas misteriosas (Pirates of the Caribbean: on stranger tides) está marcado para estrear dia 20 de maio de 2011, mas o primeiro trailer sai em breve, 13 de dezembro. Eu não sou fã incondicional de blockbusters, mas também acho errado criticá-los somente por serem o que são. Tenho que confessar aqui que adoro Piratas do Caribe, mas não estou morrendo por essa sequencia. Acho que, na melhor das hipóteses, vai ser uma boa distração.


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Fonte:

http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_noticia=35479&id_filme=6427&aba=cinenews
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http://www.piratasdocaribe4.com/

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Na velocidade da web.

Fazer um filme sobre uma invenção recente é a cara do século XXI, época em que o “rápido” já está se tornando uma velocidade ultrapassada. Em A rede social (The social network), o diretor David Fincher imprime ao filme exatamente a velocidade segundo a qual o mundo gira atualmente: a velocidade da internet.

O Facebook foi criado em 2004, por Mark Zuckerberg. Originalmente, era exclusivo para alunos de Harvard. Hoje, possui mais de 50 milhões de usuários. O filme reflete a velocidade dos acontecimentos que originaram a rede, com cena ágeis e cortes rápidos. As falas, principalmente de Zuckerberg, interpretado pelo excelente Jesse Eisenberg, são tão rápidas que chegam a ser difíceis de acompanhar. Oscilando entre as cenas de dois diferentes processos judiciais no presente, e cenas sobre o passado a que os processos se referem, o filme prende a atenção do início ao fim.

A história da criação do Facebook é muito conturbada, e ao contá-la, A rede social pisa nos calos de muita gente, mas o principal alvo é Zuckerberg, cuja imagem chega muito próxima a de um babaca completo. Ele freqüentemente ofende as pessoas por dizer tudo o que pensa, deixa seu melhor amigo e financiador de lado e ignora os colegas com quem anteriormente havia firmado um compromisso.

Andrew Garfield como o certinho Eduardo Saverin e Jesse Eisenberg como o nerd Mark Zuckerberg.

Personagens lineares, só bons ou só maus, foram muito usados no início do cinema, principalmente em melodramas moralizantes. De lá pra cá essa configuração ficou chata, e os personagens circulares, complexos, que praticam tanto boas quanto más ações tornaram-se majoritários. Em A rede social, porém, os personagens chegam perto de serem lineares. Quando parece que Mark Zuckerberg vai deixar de ser um babaca egocêntrico para fazer algo legal pelos amigos, a esperança do espectador cai por terra com outra frase de desprezo despejada sem pensar. Já Eduardo Saverin (Andrew Garfield) fica mais como o coitadinho ingênuo, enquanto que os gêmeos Winklevoss (Armie Hammer) parecem simplesmente otários. Com tudo o que acontece no filme, fica difícil entender quem fez o que e quem tem direito a que na criação do Facebook, mas os rumos levam à conclusão de Zuckerberg é o vilão da história, e nem mesmo a insinuação de que tudo o que ele fez foi por causa de uma garota ameniza essa impressão.

Pode ser difícil entender as motivações desses personagens, mas observá-los agir dá o que pensar. Por serem retratos de pessoas reais, sua natureza humana prende ainda mais a atenção. Ir ao cinema com o intuito de julgá-los, porém, é perda de tempo. Mais vale se impressionar com a intricada rede de relações sociais que só nos lembra como as interações via web são tão mais simples do que as dos mundo real.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Do nada à lugar nenhum.

Dirigido por Felipe Joffily, a comédia Muita calma nessa hora tem um roteiro fraco, que leva o filme do nada à lugar nenhum. No percurso, algumas risadas. No final, a dúvida se elas valem o ingresso.

Trazer para o cinema elementos típicos da televisão não é novidade. Acostumado com o ritmo e o formato televisivo, o espectador acaba esperando o mesmo dos filmes. Cenas mais curtas, com mais cortes e dinamismo nos diálogos; enredos fáceis de serem acompanhados e personagens sem grande complexidade. É com isso que grande parte do público está acostumado a lidar, e é exatamente isso que Muita calma nessa hora apresenta.

Três amigas decidem passar um final de semana na praia. Cada uma busca fugir de um problema diferente: Mari (Gianne Albertoni) tem homens demais, Aninha (Fernanda Souza) é muito indecisa e Tita (Andréia Horta) acaba de ser traída por seu grande amor. Elas ainda encontram Estrela (Débora Lamm), garota hippie que está procurando o pai. Tem potencial pra render? Até tem, mas não rende. Nada grande acontece na vida delas. Não há epifania, não há um mísero momento lírico. Quando uma delas fala “quem diria que atravessar essa ponte ia mudar tanta coisa na nossa vida?” eu quase gritei no meio do cinema “mudou o quê?”. Mudou nada.

A vida depois da praia: uma marquinha de biquini a mais. E só.

O enredo se excede no número de personagens. A maioria deles apenas surge para protagonizar cenas cômicas sem propósito, como o “playboy” fã de Axé interpretado por Lúcio Mauro Filho. Perde-se tempo com personagens como esse enquanto as personagens principais, cujas vidas supostamente mudam tanto, continuam estagnadas. Esses personagens secundários compõem cenas que, juntas, parecem mais um especial de comédia da Globo, dividido em blocos, do que um filme.

É engraçado? Sim. É um filme leve e divertido? Também. Mas é raso. É como pagar um ingresso de cinema para assistir a três episódios seguidos de A diarista, ou Sexo frágil. (Eu sei que esses programas não existem mais, mas eu não conheço nenhum atual.) Mulherada, se forem assistir, levem todas as suas amigas. Vale conversar e rir durante a sessão, porque o filme é bonitinho e não exige muita atenção. E é isso.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Notinha sobre o Festival de Brasília.

Hoje começa o 43° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A cerimônia de abertura e as demais apresentações do dia são restritas a convidados, mas a partir de amanhã a entrada é liberada.

São curtas, longas, 35mm, digitais, debates e seminários para ocupar cada minuto da semana inteira. As apresentações ocorrem em locais diferentes ao mesmo tempo, então fazer escolhas é um ato imperativo dentro do festival.

Eu já ouvi professores meus considerarem o festival de Brasília como decadente, mas eu nunca fui a nenhum, e sou meio como São Tomé, prefiro ver para crer. E a experiência de ver e não gostar é tão válida quanto a de ver e gostar. É um exercício ao senso crítico.

Programação completa em: http://www.festbrasilia.com.br/2010/

domingo, 21 de novembro de 2010

Dark, darker, darkest.

A saga cinematográfica de Harry Potter está chegando ao fim. O primeiro dos dois filmes em que a história do último livro foi dividida foi lançado nesta sexta, dia 19, no Brasil. Sob a direção de David Yates, o mesmo de A ordem da Fênix e O enigma do príncipe, com Harry Potter e as Relíquias da Morte a saga atinge seu ponto mais sombrio.

As evidências de que a vida de Harry estava passando de não muito fácil a muito difícil vinham sendo apresentadas ao público desde A ordem da Fênix. O tom sombrio foi acrescentado a seu universo em O prisioneiro de Azkaban, dirigido por Alfonso Cuarón,mas nos filmes conduzidos por Yates ele se confunde com o próprio ar que os personagens respiram. Enquanto que para os outros diretores a escuridão era apenas momentânea no mundo da magia, para Yates ela é um elemento principal. E isso faz toda a diferença.

Em As Relíquias da Morte, Harry parte em busca das Horcruxes que compõem a alma despedaçada de Voldemort, o bruxo das trevas mais temido do mundo mágico. O único modo de derrotá-lo é destruindo as Horcruxes, mas Harry logo percebe que não sabe muito bem como encontrá-las. A guerra entre os partidários de Voldemort e os aliados do falecido Dumbledore se acentua, tornando-se muito mais sangrenta.

Emma Watson, Rupert Grint e Daniel Hadcliffe como Hermione,Ron e Harry.

O fato de a história do último livro ter sido dividida em dois longas deu espaço para que mais acontecimentos da narrativa original fossem incluídos na versão para o cinema. Ou melhor, menos coisas precisaram ser cortadas para que o tempo de filme não ficasse comprido demais. Isso agrada muito aos fãs do livro, com certeza. Eu concordo com a teoria de que uma adaptação cinematográfica deve sobreviver independente da obra original, mas na prática não é muito fácil evitar as comparações. Mesmo com a satisfação de fã em ver o enredo do livro todo na tela, eu achei que algumas coisas passaram com demasiada rapidez. Além de que eu duvido seriamente que alguém que não conhece a história do livro entenda totalmente o filme. Essa velocidade toda talvez tenha a ver com uma proposta estética de dar agilidade ao filme, talvez seja apenas um meio de encaixar tudo em 2 horas e 40 minutos, não sei. Como fã, As Relíquias da Morte foi a melhor adaptação de Harry Potter que eu já vi. Como aspirante à crítica de cinema, ele perde para O enigma do Príncipe.

Essa parte da saga de Harry possui cenas particularmente pesadas, com as quais Emma Watson e Rupert Grint,interpretes de, respectivamente, Hermione Granger e Ron Weasley, lidam muito bem. Quanto a Daniel Radcliffe, que dá vida ao personagem título, bem, não me parece que todos esses anos de experiência como ator lhe tenham proporcionado alguma evolução. A única cena realmente boa que ele já fez foi a da poção Félix felicis em O enigma do príncipe. Ponto. Em Relíquias da Morte ele continua como em todos os outros filmes de Harry Potter: medíocre. Ralph Fiennes está ótimo como Voldemort. Minha opinião quanto a Helena Bonhan Carter como Bellatriz Black sempre oscila. Ainda não consegui decidir se gosto daquela interpretação de louca varrida ou se preferia uma personagem mais fria e calculista. De qualquer forma, acho que não deviam permitir que ela arrumasse o próprio cabelo antes de gravar.

Helena Bonhan Carter levando seu cabelo do dia a dia para a personagem. Será que ela interpreta ela mesma?

A direção de arte foi fiel ao clima sombrio da história do início ao fim. Até mesmo a praia em que fica o Chalé das Conchas, casa de Gui e Fleur Weasley, parece triste e sem vida. Os tons de cinza predominam no figurino, e as locações em que Harry acampa com seus amigos passam a sensação de solidão e impotência, sendo este último o sentimento contra o qual o garoto trava a sua pior batalha interna. Ele vê seus amigos mais queridos perderem a vida por acreditarem que ele tem o poder de vencer uma causa por eles. Harry, contudo, não sabe nem por onde começar. Esses sentimentos se transportam da tela para o público, e é impossível não se emocionar, principalmente com o desfecho.

David Yates fez, com certeza, o mais sombrio de todos os filmes de Harry Potter. Como adaptação, nunca vai agradar a todos, mas me arrisco a dizer que as duas partes de Relíquias da Morte ainda serão consagradas pela maioria dos fãs como seus filmes favoritos da série. Serão os dois mais emocionalmente envolventes, os que mais nos tirarão personagens queridos, mas os que proporcionarão as maiores redenções. Podem apostar.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Um parto de viagem.

O estilo de Um parto de viagem (Due date) lembra muito Se beber, não case (The hangover), que foi, me arrisco a dizer, a comédia de maior sucesso de 2009. E não é à toa: apesar de não compartilharem os mesmo roteiristas, eles compartilham o mesmo diretor, Todd Phillips. As situações absurdas que marcaram Se beber, não case estão de volta em Um parto de viagem, mas não são, contudo, o principal fator em comum entre os dois filmes. Zach Galifianakis traz de volta pelo menos 90% de seu personagem no primeiro, Alan Garner, para compor o aspirante a ator Ethan Tremblay, no segundo.

Robert Downey Jr. e Zach Galifianakis em cena.

Apesar de já estar na carreira há muito tempo, Zach Galifianakis somente se tornou um ator vastamente conhecido e admirado com Se beber, não case, em que interpreta o cunhado destrambelhado e meio drogado do noivo que sai para Las Vegas em sua despedida de solteiro. O personagem não possui grandes habilidades de interação social, apesar de morrer de vontade de se enturmar. Em Um parto de viagem, ele dá vida a um aspirante a ator destrambelhado e meio drogado, que não possui o menor jeito para fazer e manter amizades. Parecido? Quase igual. E assim também é a interpretação de Zach.

Não quero dizer que Zach Galifianakis não é um bom ator. Sua interpretação é muito boa e rende ótimas risadas, mas se ele continuar fazendo sempre o mesmo papel, o risco de tornar-se cansativo é muito grande. Não sei se ele ainda se provará um ator versátil. É possível, mas eu duvido. E não será por falta de talento, mas por oportunidades. Como já se provou um excelente ator de comédia – principalmente como personagem excêntrico, a tendência é que seja chamado majoritariamente para esse tipo de papel. Grande parte da responsabilidade pela semelhança entre os personagens de Zach em Se beber, não case e Um parto de viagem é do diretor, comum aos dois filmes. Quanto a isso não há dúvidas. Ainda assim, temo que Zach não fará papéis muito diferentes desses, mesmo sob outro estilo de direção. Se essa minha hipótese se provar falsa, contudo, ficarei imensamente feliz.

Enfim, Um parto de viagem é muito engraçado. Alguns moralistas podem chiar com as cenas politicamente incorretas, como naquelas em que o personagem de Robert Downey Jr. bate em uma criança e cospe na cara de um cachorro, mas o politicamente incorreto também faz parte da vida. A propósito, Robert Downey Jr. está ótimo no filme. Percebe-se um quê de Homem de Ferro em seu personagem, o arquiteto Peter Highman, mas muito sutil. E é muito gostoso vê-lo em um filme de comédia. Se estiver afim de rir, assista.

domingo, 14 de novembro de 2010

Uma impostora involuntária.

Breakfast at Tiffany’s é o famoso filme que, em português, virou Bonequinha de luxo. A imagem de Audrey Hepburn de vestido preto, colar de pérolas e coque no cabelo fazendo biquinho com uma longa piteira em mãos tornou-se ícone da cultura pop. O que realmente acontece no filme, no entanto, nem todo mundo sabe. E muito menos o que está por trás de seu enredo.

Em 1958, Truman Capote publicou Breakfast at Tiffany’s, que no Brasil ficou sendo Ao começo do dia. Atualmente, devido ao sucesso da adaptação cinematográfica de 1961, é possível encontrar o livro como homônimo da tradução do filme, Bonequinha de Luxo. É um livro bem pequeno, que nos apresenta Holly Golightly exatamente como vemos no filme: alegre, despreocupada e meio destrambelhada. O que o cinema fez, contudo, foi suavizar os aspectos que indicam que Holly é, na verdade, uma garota de programa.

No filme, é revelado que ela sobrevive saindo para jantar com cavalheiros e pedindo cinqüenta dólares para ir ao toalete – mais cinqüenta para o táxi. Já no livro, ela faz as suas contas e revela já ter tido pelo menos onze amantes. Não que isso a torne menos graciosa e cativante. Truman Capote escreve tudo com leveza, e é impossível não se juntar ao grupo de apaixonados por Holly Golightly.

Quanto a sua relação com o homem que no filme é Paul Varjak (George Peppard), mas no livro é apenas chamado de Fred por Holly – a história é narrada em primeira pessoa por ele, há algumas diferenças. Fred escreve em seu relato estar apaixonado por Holly,mas nenhum romance realmente existe entre os dois, e é possível perceber que o sentimento do rapaz é de um amor mais fraternal. Já me disseram que ele era, na verdade, gay, mas eu não encontrei nenhuma evidência óbvia desse fato na ficção. No longa, Paul e Holly se apaixonam, e Hepburn e Peppard protagonizam uma das cenas românticas mais bonitas da história do cinema.

Garota de programa ou não, a graça e a leveza da personagem envolvem tanto a quem lê sobre ela quanto a quem assiste a brilhante interpretação de Hepburn. É impossível pensar em outra atriz que faria uma Holly Golightly tão perfeita. E com o tempo, Audrey e Holly tornaram-se quase a mesma pessoa. A imagem da atriz na pele da personagem se fixou tão fortemente na cultura pop que muitos a admiram sem nem ao menos conhecerem a sua história. O que não é difícil, pois é uma imagem que transmite glamour e luxo, e que, somada a tradução em português do título, só pode gerar interpretações equivocadas.

Audrey como Holly. Existe imagem mais glamurosa?

Tenho certeza de que a popularização da imagem de Audrey como Holly começou devido ao sucesso do filme. E perpetuou-se pelo estilo transgressor da personagem. No passado, admirar Holly Golightly era admirar um estilo de vida boêmio, alternativo, era levantar-se contra a moral familiar tradicional. Mas o tempo passou, a foto ficou e a história por trás dela, em grande parte, se perdeu. Hoje não passa de uma garota bonita com uma gargantilha de pérolas e aparência de rica e mimada.

Eu amo Holly Golightly. Tanto a Holly do livro quanto a Holly do filme, mas fico imaginando se as adolescentes que atualmente se dizem “bonequinhas de luxo” realmente gostariam de viver aquele estilo de vida, se sabem o que a personagem representa – ou deveria representar. A imagem desvinculada da história fez dela quase um mito, mas a admiração sem o véu da ignorância é sempre mais sincera. E as pessoas deveriam conhecer de verdade o que admiram.

domingo, 7 de novembro de 2010

Tarantino, Bastardos Inglórios e porquê Pulp Fiction é melhor.

Em 2009, poucos foram os seres humanos que foram ao cinema assistir Bastardos Inglórios e não saíram totalmente impressionados com o filme, exclamando entusiasmado o quão fantástico ele era. Pode-se dizer com grande segurança que Bastardos conquistou muitos fãs para o diretor Quentin Tarantino, sucesso que foi coroado com a posterior indicação a oito Oscars, incluindo melhor filme. A única estatueta, contudo, foi para o ator coadjuvante Christoph Waltz. E você sabe por que? É porque Bastardos Inglórios is not THAT big of a deal.

Sim, é claro que ver todos aqueles nazistas apanhando de judeus é uma experiência altamente catártica, mas o filme não vai muito além disso. Longe de mim querer criticar Tarantino, que é um dos meus diretores favoritos, e não estou dizendo que o filme é ruim, muito pelo contrário. Minha única intenção aqui é destacar o fato de que o filme é supervalorizado, porque Tarantino já fez sim, coisa muito melhor.

Brad Pitt tornando difícil separar o ator do personagem...

Pra começar, é de conhecimento geral que Tarantino adora homenagear outros diretores em seus filmes, e o escolhido da vez foi Sergio Leone. Esse diretor é famoso por seus filmes tipo “western spaghetti”, com longos planos gerais de paisagens, além da ênfase nos olhares das personagens, segurando a tensão ao máximo. A parte mais óbvia em que Tarantino segue esse estilo é na cena de abertura, em que o Coronel Landa visita o Sr. LaPadite. Nela, vê-se a comitiva alemã surgindo ao longe e se aproximando da casa, enquanto, pela expressão do proprietário, o espectador percebe que aquela visita não lhe será agradável. A cena do encontro dos Bastardos com a espiã alemã na tarverna é outro bom exemplo. A troca de olhares entre as personagens quando a situação fica tensa lembra muito a cena final de Três homens em conflito (The good, the bad and the ugly). Só que Leone conseguia fazer com que a combinação entre planos e trilha sonora gerasse um clima de tensão, enquanto que, em Bastardos, Tarantino às vezes erra a mão e deixa a coisa toda meio cansativa. MAS, você me diria, a trilha dos dois filmes foi composta pela mesma pessoa, Ennio Morricone. Então como pôde dar errado? Eu não sei. Só o que sei é que, em alguns momentos, deu. Em alguns momentos essa homenagem à Leone me parece mais uma falta de identidade própria de Tarantino. Devo confessar que a mistura de estilos entre “western spaghetti” e filme de II Guerra Mundial é uma idéia muito interessante, mas simplesmente não funciona o tempo todo.

... enquanto Christoph Waltz chega pra salvar o filme.

Outra questão é o elenco do filme. Christoph Waltz como Coronel Hans Landa é mais do que genial, mas Brad Pitt pode não ter sido a melhor das escolhas. Ele é famoso demais, e a atração de ver Brad Pitt com sotaque texano torna-se maior do que o envolvimento do público com um personagem tão pitoresco. Que, para falar a verdade, é do Tennessee.

Enfim, não estou dizendo – repito – que o filme é ruim. Só o que eu quero dizer é: parem de superestimá-lo! Pulp Fiction, por exemplo, é um filme muito melhor. Se você quer ser fã do Tarantino e idolatrá-lo por alguma coisa, que seja por Pulp Fiction, não por Bastardos. E o motivo é bem básico: em Pulp Fiction a personalidade do diretor marca forte presença em todas as cenas. O filme surpreende, você nunca sabe o que virá a seguir, nunca pode imaginar qual pensamento surreal sairá da boca de um daqueles personagens tão estranhos e ao mesmo tempo tão reais. John Travolta dançando com Uma Thurman e depois tendo conversas absurdas com Samuel L Jackson são cenas que valem mais do que qualquer coisa que acontece em Bastardos. Até mesmo a atuação de Christoph Waltz.

... mas nada disso supera a genialidade John e Uma botando pra quebrar em Pulp Fiction.

sábado, 23 de outubro de 2010

Orgulho e Preconceito e Zumbis.

É impossível não sentir curiosidade diante desse título, principalmente para quem já leu o original de Jane Austen. No entanto, quando minhas dúvidas sobre como Seth Grahame-Smith enfiou zumbis nas vidas de Elizabeth Bennet e do Sr. Darcy foram finalmente sanadas, a princípio, me senti decepcionada. Ao ler: “Enquanto os convidados fugiam para todos os lados, a voz do Sr. Bennet sobrepôs-se ao pânico: - Meninas! O Pentagrama da Morte!”, eu soltei um sonoro e redondo “what the fuck?”, já imaginando que a experiência de ler aquela fanfiction mal escrita até o final seria muito mais penosa do que eu imaginara. Mas não foi assim.

No começo, a idéia de que a Inglaterra vem sofrendo com uma estranha praga de zumbis há mais de 50 anos e que as famílias abastadas estudam técnicas de artes marciais no Oriente para se defenderem – inclusive as damas – é muito, muito estranha. Com o desenvolvimento da história, porém, fica cada vez mais fácil perceber a intenção cômica do autor ao incluir mortos-vivos no romance de Austen.

O fato de Elizabeth agora utilizar uma adaga juntamente (ou até mais do que) sua língua afiada é extremamente simbólico. E há passagens em que, com suas armas mortais, ela realiza coisas que muitos dos leitores do romance original com certeza já desejaram que acontecessem. Além disso, as brincadeiras com a linguagem de Orgulho e Preconceito e com os costumes da época não são poucas. Com certeza quem ler o romance original antes dessa adaptação as compreenderá muito melhor.

A essência da história continua a mesma, mas a inclusão de tantas artes de luta orientais e de tantas proezas absurdas por parte das personagens gera a forte sensação de se estar “lendo” um animê (desenho animado japonês). Recomendo Orgulho e Preconceito e Zumbis para quem já leu o romance original. Rende boas risadas, passada a estranheza inicial.

O filme

Natalie Portman está produzindo a versão cinematográfica do livro, em que ela interpretará – adivinhem – Elizabeth Bennet. Parece, contudo, que a produção atrasou e o diretor David O. Russell abandonou o barco. Tudo indica que a produção não será cancelada, mas eu não consegui encontrar nenhuma data de produção, estréia, nada. É esperar pra ver.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2

Após o enorme sucesso do primeiro, e esse ano com um forte esquema anti-pirataria, o diretor e roteirista José Padilha trás às telas a seqüência de Tropa de Elite. Desde a sua estréia, na sexta dia 8, até a quarta dia 13, o filme já havia levado 2,4 milhões de pessoas aos cinemas.

Os ingredientes de todo esse sucesso já são bem conhecidos desde 2007: cenas de ação, situações de tensão e, principalmente, um herói durão, de moral questionável e bordões facilmente decoráveis. Tudo isso não faria sentido, é claro, se não fosse interligado por um bom roteiro e brilhantemente executado, tanto pela direção de Padilha, quanto pela atuação de Wagner Moura como o já consagrado Capitão Nascimento.

Wagner como Capitão Nascimento em Tropa de Elite...

Quinze anos separam a trama atual do primeiro longa. O Capitão agora é Coronel Nascimento, já não tem bordões que possam ser incluídos em qualquer conversa nem repetidos à exaustão por seus fãs civis do outro lado da tela, mas mantém a mesmíssima moral que sempre teve: bandido não merece respeito. Essa moral é questionada pelo deputado Fraga, defensor árduo dos direitos humanos. O encontro dos dois na abertura do filme, quando ambos interferem em uma rebelião de presos em Bangu, é só o começo de uma trama muito bem interligada.

Eu achei o filme extremamente bem feito. Talvez alguém com mais estudo e mais experiência em cinema do que eu consiga encontrar algum defeito. Eu não ouso procurar. Destaco, contudo, a qualidade do roteiro, da montagem e da direção. Foram os três aspectos do filme que mais chamaram a minha atenção. Ouvi gente que achou ruim haver menos cenas de ação e violência neste do que no primeiro. Acontece que Tropa de Elite 2 não é um simples filme de ação. Padilha claramente tem uma história para passar, uma mensagem. Na minha visão, todas as cenas estão em equilíbrio para que esse fim seja atingido.

... e em cena de Tropa de Elite 2

Wagner Moura está, novamente, irrepreensível como Coronel Nascimento. O personagem, agora mais velho e mais experiente, é um excelente planejador tático do BOPE, mas tateia no escuro quando se trata de se relacionar com o filho. Quando ele percebe que seu posto na secretaria de segurança é apenas um golpe político e que as milícias começam a tomar conta das favelas, ele parte para a guerra, mas dessa vez, é uma guerra pessoal. Sua caça aos políticos corruptos com certeza envolve a todos os brasileiros, principalmente na cena em que Nascimento espanca o deputado bandido, um verdadeiro exercício de catarse nacional.

Enfim, o sucesso de Tropa de Elite 2 me empolga. Como eu já havia dito no post sobre o longa As melhores coisas do mundo, o cinema brasileiro me parece estar voltando à boa forma. Eu espero que filmes como os de Padilha animem o público a ir ao cinema assistir a mais produções nacionais, e ao mesmo tempo aqueçam o mercado, que está realmente necessitado de incentivos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O Hobbit: agora vai!

Depois de muitos boatos, enrolações e bafafás, incluindo uma confusão com o sindicato dos atores da Nova Zelândia, a MGM finalmente anunciou que a produção de O Hobbit vai começar. E para a alegria maior dos fãs da obra de Tolkien, serão dois filmes dirigidos por Peter Jackson.

A história que conta como o anel do poder chegou às mãos do pequeno Bilbo Bolseiro – ainda que esse não seja nem de longe o mais importante dos acontecimentos dessa obra, era cogitada para ser rodada desde que O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel foi lançado. Agora, as datas começam a aparecer de forma mais definitiva: começo da produção em fevereiro de 2011, primeiro filme a ser lançado em 2012. Ainda não há nomes confirmados para o elenco, mas o fato de que Ian McKellen voltará a interpretar o mago Gandalf é dado quase como certo.

2012 subitamente pareceu ainda mais longe pra você? Pois é, pra mim também. Resta o consolo de rever vezes sem fim a saga do anel em DVD e reler O Hobbit, esperando que isso faça o tempo passar mais depressa.



Fonte: http://www.cinemaemcena.com.br/default.aspx

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Desfrutar, perdoar, evoluir.

Os seres humanos são movidos pelos mesmos interesses, problemas, e questões existenciais em qualquer lugar do mundo. É essa a verdade que abre o filme Comer rezar amar, baseado no livro homônimo de Elizabeth Gilbert.

Apesar disso, Comer rezar amar traz mais do que as verdades óbvias que estamos acostumados a ler nos livros de auto-ajuda. O fato de ser baseado na experiência real da autora nos leva a ver os problemas e as soluções por sua ótica. Não sei como isso ficou no livro, mas no filme, entender os problemas pela ponto de vista de Elizabeth (Julia Roberts) e caminhar com ela em busca das soluções é uma experiência envolvente e – por que não – iluminadora.

Julia Roberts e Javier Bardem em Comer rezar amar

Em relação aos aspectos técnicos, não há muito o que se falar. A fotografia e a direção de arte mudam para ressaltar as diferenças entra cada um dos países pelos quais Elizabeth passa. Primeiro, os Estados Unidos, sua terra natal, apresentado de forma mais acinzentada; é onde surgem os problemas. Em seguida, a Itália, apresentada em luzes amareladas e tons que remetem ao vinho; é onde ela encontra bons amigos e aprende a curtir a vida. Depois, a Índia, com destaque ao colorido das roupas; é onde ela aprende a perdoar. Por fim, Bali, em que predominam os tons de verde e azul; é onde ela aprende a amar, de novo.

Julia está linda no papel principal, mas sua atuação é regular, não é ruim (jamais, é Julia Roberts, pelamor de Deus), mas não chega a ser marcante. E Javier Bardem, apesar de incrivelmente sexy no papel de Felipe, tem dificuldades em convencer o público brasileiro de que, bem, é brasileiro. Nada disso, porém, diminui a beleza do filme.

Fica um aviso: Mulheres, cuidado ao levar seu namorado/marido/ amigo com você. Ele tende a dormir durante a sessão como uma maçã tende a cair no chão após ser arremessada para o alto. Eu acho que as lições de vida são válidas para ambos os gêneros, mas tente convencer a sua companhia masculina – e depois me conte como foi.

domingo, 3 de outubro de 2010

As coisas mais difíceis do mundo

Finalmente criei vergonha na cara e fui assistir ao novo filme da Laís Bodanzky, depois de semanas após semanas prometendo a mim mesma “agora eu vou”. A diretora foi premiada por Bicho de sete cabeças, e apesar de não tê-lo assistido, fiquei curiosa em relação a seu novo trabalho.

As melhores coisas do mundo foi inspirado na série de livros “Mano”, de Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto, mas para calibrar ainda mais o roteiro com a realidade dos adolescentes atuais, Laís e sua equipe realizaram entrevistas em colégios de São Paulo. O resultados positivos ficaram explícitos no festival de Recife, em que o filme foi o grande vencedor, com oito prêmios.

Com 15 anos, Mano (Francisco Miguez) é um garoto de classe média que vê seu mundo se transformar radicalmente a cada dia que passa, com a separação de seus pais, seu interesse não correspondido pela colega Valéria, suas aulas de violão, a atitude depressiva de seu irmão, Pedro (Fiuk), e o dia a dia em uma escola em que os alunos ridicularizam e oprimem uns aos outros. Parece muito para um garoto de 15 anos aguentar, e para um filme de pouco menos de 2 horas abordar? Com certeza. Mas Laís consegue que o peso desses assuntos não sobrecarregue o filme, e, tendo saído da adolescência há pouco, posso dizer que a vida de um garoto de 15 anos é assim mesmo.

E é justamente nessa fase, quando todo e qualquer problema que surge parece ser o fim do mundo, e tudo o que importa é o agora, que os adolescentes são forçados a “crescerem”, mesmo quando não sabem como fazê-lo. Esse é o conflito que move o filme: crescer e tomar sempre a melhor atitute quando você nem ao menos é capaz de controlar o que acontece a sua volta. Todos os que já passaram – ou estão passando – por isso vão se identificar.

Francisco Miguez como o protagonista Mano, e Gabriela Rocha como a meiga Carol.

Considerando a parte técnica, os cortes e transições me chamaram a atenção. Em diversos momentos, a fala de um plano seguinte é ouvida como um off momentâneo, como se um plano “chamasse” o próximo. A fusão da campainha do portão com a campainha da porta, quando Mano visita seu professor de violão pela primeira vez no filme, é um exemplo do tipo de transição que também se repete, em que os planos são interligados por um som em comum.

É fácil entender por quê o filme venceu as categorias de melhor direção, direção de arte, fotografia, roteiro, edição de som, entre outros, em Recife. Além disso, a qualidade do filme me anima em relação ao cinema brasileiro em geral, que parece estar voltando aos seus bons anos. O fato de a realidade de um grupo social nacional poder ser utilizada para a criação de um bom roteiro nos mostra que não precisamos seguir temáticas ou padrões estrangeiros na realização de um cinema próprio de qualidade. Eu sou uma entusiasta da velha “antropofagia cultural”, acho que devemos estar atentos ao que acontece em outros países e aproveitar o que há de melhor, mas também acredito que a nossa realidade deve ser valorizada, e para isso, filmes como As melhores coisas do mundo são um excelente impulso.

De certa forma, o cinema brasileiro é como Mano: precisa encontrar seu caminho em um mundo onde ele não escreve as regras. As conquistas, assim como é mostrado no filme, vem da superação dos obstáculos, mesmo que esses pareçam ser os mais difíceis do mundo.

sábado, 2 de outubro de 2010

Vampiros bonzinhos (que valem a pena).

Os vampiros que se mordam (Vampires suck) estreou no Brasil nesse final de semana. Eu já havia comentado sobre minha empolgação em relação a uma sátira cinematográfica de twilight há um tempo, mas ontem pude conferir mais do que apenas o trailer.

E não é nada mais do que o trailer promete: um besteirol com piadas toscas e sem o menor requinte cinematográfico. Ainda assim, um gasto de tempo muito mais produtivo do que os filmes originais nos quais foi inspirado. Misturando os enredos de Crepúsculo e Lua Nova, com um toque de Amanhecer, o filme mostra como a enrolação de twilight é desnecessária, já que em uma hora de filme é possível contar todos os fatos essenciais de metade da “saga” – e ainda fazer piada disso.

Para mostrar como o twilight original é ruim, a sátira utiliza alguns planos e falas exatamente iguais ao primeiro, com Jenn Proske fazendo uma Becca exatamente igual à Bella de Kristen Stewart. Não, as contorções faciais de Proske não são exageradas, são iguais às de Stewart, preste atenção. Sim, twilight por si só já é uma piada, Os vampiros que se mordam somente ajuda a explicitar esse fato, mesmo não sendo, sozinho, um bom filme.

As piadas com certeza não são das melhores. Eu, como sou uma pessoa que acha graça de tudo, morri de rir. Como cinema, a qualidade é baixíssima. Como experiência catártica, até vale a pena. Mas se você não conhecer nada do enredo original de twilight, nem perca seu tempo.

Jenn Proske como Becca Crane e Matt Lanter como Edward Sullen.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Resident Evil 4: Recomeço



Tentei não deixar spoilers no texto, mas se você não gosta de saber de NADA antes de ver o filme, não leia.


Dando seqüência à saga cinematográfica inspirada no vídeo game, Resident Evil : Recomeço, revela um pouco mais sobre a história de Alice (Milla Jovovich) e seu confronto com a organização Umbrella. Dirigido por Paul W. S. Anderson, o filme pode ser visto nos cinemas nas versões 2D e 3D.

Optei pelo 2D. Logo no início, a cena em câmera lenta da chuva em Tóquio, com aqueles guarda-chuvas de cores variadas, mas ainda assim sombrias, e aquele travelling vertical mostrando a mulher de sapatos vermelhos e meia-calça canelada chamou minha atenção. Foi como se aqueles planos me alertassem para o fato de que esse Resident Evil seria diferente dos outros. Considerando que Anderson somente não dirigiu o terceiro filme, apesar de tê-lo escrito, pode-se ver que ele aprendeu muito bem a utilizar os efeitos especiais que não estavam à mão em 2004, ano do segundo filme. O uso da câmera lenta é repetido em várias cenas de ação, o que, ao meu ver, gera imagens muito bonitas. Gosto muito mais do que daquelas cenas de luta em que a câmera treme tanto que você nem entende o que está acontecendo. Fora isso, esse filme é mais concentrado nas cenas de ação do que os demais, e aquela tensão típica dos filmes de terror, com escuridão e sustos, é deixada um pouco de lado.

Para renovar um pouco o enredo, Alice recebe um antídoto para o T-vírus que habitava seu corpo e lhe dava super-poderes. Isso a torna humana novamente, e por um momento, parece que a sua luta contra a Umbrella acabou. Ao buscar Arcadia, um lugar em que uma transmissão de rádio diz haver segurança contra a infecção que tomou conta do mundo, porém, Alice percebe que a Umbrella, mais do que os zumbis, está em toda a parte.

Milla Jovovich como Alice

Os fãs de filmes de ação certamente irão gostar, os fãs de filmes de terror, não sentirão medo algum, e os fãs da saga dificilmente se sentirão decepcionados. O que eu gosto em Resident Evil são as mulheres fortes, habilidosas, matando zumbis e outros monstros. Recomeço não deixa a desejar nesse quesito.

Sem mais, é muito bom encontrar pela primeira vez Alice limpa e usando roupas legais ao mesmo tempo. (Porque aquele vestidinho vermelho do primeiro filme é terrível, convenhamos). E morena, ela é muito mais bonita.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Criminal Minds - 6ª Temporada

Não é preciso me conhecer muito bem pra saber que eu adoro a série Criminal Minds. Eu falo muito a respeito, principalmente no twitter. Pra quem não conhece, trata-se de uma série policial que enfoca os casos investigados pela Unidade de Análise Comportamental do FBI, um grupo de elite que resolve crimes investigando o comportamento do criminoso, prevendo como serão seus próximos passos. Eu não faço idéia se essa unidade existe realmente, mas a forma como as histórias são contadas nos episódios é com certeza muito envolvente.

O fato de ser uma série voltada para o comportamento humano, faz com que os enredos dos episódios contenham criminosos motivados por questões psicológicas, e o que eles fazem com suas vítimas nem sempre é agradável de assistir. Considerando, porém, que eu sou uma pessoa que não assiste a filmes de terror – sim, morro de medo e tenho pesadelos-, mas acho tranqüilas as cenas de Criminal Minds, eu duvido seriamente que alguém com mais de 14 anos tenha algum problema ao assistir a série. O que sem dúvida é perturbador, contudo, é pensar no que o ser humano é capaz de fazer um com o outro. Mesmo que nenhum episódio, entre os que assisti, tenha anunciado claramente ter sido inspirado em fatos reais, em vários momentos as personagens citam casos verídicos de criminosos nada bonzinhos para ilustrar alguma situação. Ou seja, a ficção não é tão distante da realidade. Criminal Minds, porém, não é uma série depressiva. A mensagem de esperança no ser humano está sempre presente. E é como dizem, quanto mais negra for a personalidade do bandido, mas iluminada será a do herói.

Em termos de linguagem audiovisual, não apresenta nada fora do comum. O ritmo vai acelerando suavemente até o clímax, de forma a envolver o espectador. Muitas vezes, os planos e os cortes podem levar-nos a suspeitar de alguém, desviando a atenção até que a verdade nos surpreenda. Nas cenas de perseguição, a câmera na mão não treme tanto, o que eu acho ótimo, porque odeio aquelas cenas em que todo mundo corre e você não enxerga nada além de borrões, ficando tonto no processo.

Bom, escrevi tudo isso pra chegar a parte realmente importante: a sexta temporada da série estréia dia 22 de Setembro, nos EUA. Não encontrei informações sobre quando chegará ao Brasil, mas a estréia nacional costuma acontecer entre duas e três semanas depois da estréia americana.



Enquanto isso, o AXN reprisa as temporadas antigas de segunda a sexta às 17h (atualmente a segunda temporada), e domingo às 8h e às 22h (no momento, a quinta temporada).

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Zombieland 2

A data de estréia é vaga: 2011, mas já é o suficiente para animar os fãs do filme original. Zombieland 2 vai sair e será em 3D. Eu não sou uma grande entusiasta do 3D, mas a possibilidade de ver pedaços de zumbis ‘voando’ da tela até me anima.

Pra quem não conhece Zombieland, trata-se de uma comédia sobre a vida em um mundo pós... bom, em mundo em que – quase – todo mundo virou zumbi. Dirigido por Ruben Fleicher, conta com Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Emma Stone e Abigail Breslin no elenco.



Enquanto Zombieland 2 não chega, vale rever o primeiro, além de buscar outros filmes de estilo parecido...


Shaun of the dead (2004)

Trazida ao Brasil como “Todo mundo quase morto”, é uma comédia britânica de Edgar Wright sobre um ataque de zumbis sem causa conhecida. O protagonista, Shaun (Simon Pegg), deve proteger seus entes queridos - e sua própria vida, e no meio de toda a confusão, ainda fazer as pazes com a namorada, Liz (Kate Ashield).

Planet terror (2007)

De Robert Rodriguez, Planeta terror é um filme que faz homenagem ao estilo trash, muito mais nojento e violento do que Zombieland e Shaun of the dead. Apesar das cenas nojentas, contudo, rende boas risadas. Quem gosta de filmes como Kill Bill e Sin City, certamente vai gostar de Planeta terror.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Jolie e Depp. OMG!

É quase impossível não amá-los. Ambos são lindos, sexy’s e tem uma atuação cativante. E agora dividirão a telona. No longa O Turista (The tourist), Angelina Jolie e Johnny Depp atuarão juntos. O thriller tem estréia prevista para Dezembro, nos EUA, e para 14 de Janeiro de 2011, no Brasil.

Pelo que li sobre o enredo, Depp será um homem comum que viaja para a Itália, encontra Jolie e os dois iniciam um romance, mas acabam sendo perseguidos sabe-se lá por que. Tudo indica que a personagem de Jolie vai apenas usar o pobre Depp para uma investigação. E eu espero que seja isso, porque mesmo sendo louca pelo nosso querido Johnny, é muito difícil pra mim imaginar uma mulher estonteante como Angelina Jolie se apaixonando de verdade por um cara com aquele cabelo. Convenhamos.








Fontes:
http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_noticia=34845&id_filme=6528&aba=cinenews

http://www.imdb.com/title/tt1243957/

O que as rádios não tocam.

The Black Eyed Peas estão chegando a Brasília em Outubro, e isso me faz lembrar de quando eles vieram pela primeira vez, em 2006. Naquela época, eu era muito fã do grupo – ainda sou, mas nunca mais acompanhei seus passos como antes; e com toda a alegria do mundo, fui ao show. Esse ano, não pretendo ir. A ênfase eletrônica do último CD, The E.N.D., não me atraiu tanto quando as batidas e misturas de ritmos de Monkey Business e Elephunk. Ainda assim, pensar em Black Eyed Peas me faz lembrar que a maioria das pessoas só conhece os hits que tocam nas rádios, que é justamente onde as melhores músicas não estão.



É claro que eu não sou nenhuma especialista em música, e tudo o que escrevo se baseia nas minhas opiniões, mas após rodar por vezes sem conta Elephunk e Monkey Business no meu antigo CD player, posso dizer que conheço bem o som do BEP. Então vamos lá:

Elephunk
Primeiro álbum com a participação de Fergie, teve como grande sucesso “Where is the Love?”. Também ficaram famosas “Shut up” e “Let’s get retarded”.
Entre as boas desconhecidas, destaco “Latin girls” e, especialmente, “Sexy”, que usa uma melodia brasileira e cuja mistura de batidas gera um ritmo envolvente, literalmente, sexy.

Monkey Business
Famoso por “Pump it”, “Don’t phunk with my heart”, “Don’t lie” e, principalmente, “My humps”, Monkey Business tem muito mais oferecer em outras músicas, acredite.
Deixadas de fora pelas rádios, as melhores músicas do álbum são: “Like that”, “Audio delite at low fidelity” e “Union”, com a participação de Sting. Também com uma participação mais do que especial, “They don’t want music”, com o infelizmente já falecido James Brown, é excelente tanto em letra quanto em melodia.

The E.N.D.
Mais dançante e com uma batida muito mais eletrônica do que os anteriores, tem como destaque “I got a feeling”, “Boom boom pow” e “Imma be”.
Esse álbum, devo admitir, escutei dez vezes menos do os dois anteriores, mas gostei muito de “Alive” e “Meet me halfway”.


O show

22 de outubro, estacionamento do Mané Garrincha.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Orgulho e preconceito e as mulheres

Já perdi as contas de quantas vezes assisti ao filme “Orgulho e preconceito” (Pride and prejudice, 2005), de Joe Wright . Trata-se de uma das muitas adaptações audiovisuais do livro homônimo de Jane Austen, publicado originalmente em 1813. Até Colin Firth já foi o sisudo Mr. Darcy (e o papel é a cara dele, convenhamos), em uma produção da BBC. Foi a versão com Keira Knightley como a decidida Elizabeth Bennet, e com Matthew Macfadyene como o fechado Mr. Darcy, contudo, que trouxe a história novamente à tona e aos corações das mulheres mais românticas.


OMG Colin Firth como OMG Mr. Darcy!

Curiosa, após assistir pela décima vez (ou mais) Mr. Darcy confessar a uma perplexa Elizabeth: “I love you... most ardently!”,decidi ler o livro. Por ser um livro antigo, já muito publicado, é fácil encontrar aquelas cópias de bolso por 10 reais. Recomendo. Enfim, comecei o livro e me surpreendi ao perceber que estava “presa” à história como há muito não acontecia. Mesmo reconhecendo que o enredo que eu já conhecia do filme é extremamente semelhante ao que se passa no livro, eu não conseguia parar de ler. Sempre queria mais um capítulo, mais uma página. E é estranho pensar nisso, porque o livro inteiro gira em torno de garotas que observam pessoas se casarem, esperam que as amigas se casem, e esperam achar com quem se casar. E é isso. Então por que uma história sobre mulheres que nada mais tem a fazer a não ser enamorarem-se e casarem-se encanta tanto as mulheres atuais, que se orgulham de serem tão feministas, “modernas” e independentes? Investigaremos...

Em primeiro lugar, a escrita de Jane Austen é muito envolvente. Sua descrição das características psicológicas – muito mais do que as físicas - das personagens nos levam a conhecê-las como se convivêssemos com elas. E os diálogos são ricos em ironias e detalhes que envolvem o leitor. Já assistiu a um filme “de época” em que todos pareciam estar se ofendendo em todos os diálogos o tempo todo, mas ainda assim não deixavam de sorrir uns para os outros? Orgulho e preconceito tem essa característica. E essas “alfinetadas” que as personagens trocam entre si são muito divertidas, em especial as proferidas pela protagonista, Elizabeth.


Keira Knightley e Matthew Macfadyene no filme de Joe Wright


Além dos diálogos, o talento de Austen para descrever cenas do cotidiano e torná-las envolventes é incrível. É difícil não ficar na expectativa para ver se o Sr. Bingley irá se casar com a Srta. Bennet, ou não ficar apreensivo esperando o desfecho da fuga de Lydia com o Sr. Wickham, ou ainda não adquirir desprezo pelos modos do Sr. Collins. Não há nada de extraordinário nos acontecimentos. Não há um anel a ser destruído, não há um bruxo do mal a ser derrotado, há apenas afetos e desafetos gerados pela convivência das personagens. Para Orgulho e preconceito, porém, isso basta. E para seus leitores, também.

Por fim temos a história de amor em si. Darcy e Elizabeth se apaixonam, e o modo como isto acontece é cativante. As duas personagens jamais são mostradas como dois seres belos cheios de qualidades, muito pelo contrário, seus defeitos muitas vezes ganham o maior destaque. E é nesse processo de descobrir as qualidades por trás dos defeitos que eles se envolvem. Além disso, Lizzy é uma mulher forte, decidida, que quer se casar com o homem que gosta, não quer um casamento por dinheiro – ou teria se casado com o Sr. Collins e bye-bye Sr. Darcy. Aí está o elemento moderno do romance: um homem e uma mulher que não são perfeitos, mas são perfeitos um para o outro. Duas pessoas normais, com defeitos e qualidades normais, em seus encontros e desencontros. E é assim que o romance transcende sua época e torna-se eterno.

domingo, 5 de setembro de 2010

Corra, Angelina, corra.

Pode ser um pouco atrasado da minha parte falar desse filme agora, já que ele estreou nos cinemas brasileiros em 30 de julho, mas eu só assisti ontem à noite. E não pude resistir escrever sobre ele.

Dirigido por Philip Noyce, "Salt" mostra Angelina Jolie como a agente da CIA Evely Salt, que, após anos de dedicado serviço ao governo dos Estados Unidos, é acusada de ser uma espiã russa infiltrada. E a correria do filme começa.

Jolie corre, pula sobre caminhões, rouba motocicletas, salta com caminhonetes gigantes da polícia. A princípio, o espectador acredita que Salt está apenas tentando provar sua inocência, mas depois é provado que ela é, de fato, uma espiã russa muito bem treinada. E surge a dúvida: ela voltará para o lado de seus compatriotas para executar o plano a ela destinado, ou será fiel à América, que por tantos anos foi sua casa? Essa dúvida é fortalecida pela atuação quase robótica de Jolie, em que os sentimentos da personagem parecem quase inexistentes de tão sufocados por sua fachada fria e calculista.

Quase sem diálogos e com uma ação que se desenvolve muito rápido, o filme parece quase um videoclipe diante dos olhos do espectador. O roteiro é bom, o carisma de Angelina Jolie interpretando personagens femininas que “quebram tudo” já havia sido comprovado na série Tomb Raider, mas o filme carece de pausas. Mesmo nos momentos em que Salt se lembra do que viveu ao lado do marido são curtos, e mal deixam o espectador tomar fôlego entre um tiroteio e outro. Se Lara Croft parecia uma humana muito habilidosa, Evely Salt parece um robô, uma arma de guerra que quer ser humana.


Angelina em Salt.

Deixando esses aspectos de lado, como filme que propõe muito tiroteio, explosões e perseguições, “Salt” é um êxito. Sem contar que é sempre legal ver uma mulher em um papel como esse, ao invés de, sei lá, um Tom Cruise da vida.

Só mais uma coisa: se a intenção daquele cabelo preto da Angelina era parecer uma peruca, eles conseguiram. Eu passei o filme todo pensando “agora ela cai”. Alô, direção de arte?

sábado, 4 de setembro de 2010

Os twilighters que se mordam.

Não consegui aguentar, tive que vir postar isso ainda hoje. Acabei de chegar do cinema e adivinhem qual foi um dos trailers que passou antes do filme? Isso mesmo, "Vampires suck", trazido ao Brasil como "Os vampiros que se mordam".

Dirigido por Jason Friedberg e Aaron Seltzer, trata-se de uma sátira aos filmes da "saga" twilight, bem ao estilo "Todo mundo em pânico". Fazendo piada com o "universo" da autora Stephenie Meyer, o filme promete deixar muitas fãs radicais da saga bastante irritadinhas. Fiquei empolgada com isso porque, apesar de já ter visto o trailer no youtube, desconfiava que o filme não viria às telonas brasileiras. Ver o trailer no cinema indica que, sim, poderemos ê-lo em salas de todo o país, a partir de 1° de outubro.

Àqueles que criticam a validade de se gastar milhões de dólares (tá, na verdade eu não sei se o orçamento desse filme chegou a tanto, mas enfim) com um filme de comédia escrachada, eu digo: sim, é válido. Primeiro, fazer as pessoas rirem é uma coisa muito legal. Segundo, rir de twiligth é melhor ainda. Pois é, eu acredito que o cinema não deve ser somente a realização de grandes filmes artísticos, contestadores, etc. Há espaço para a produção estritamente comercial também. Por que não se divertir com isso?~


A ilha da origem.

Em que aspectos “A Ilha do medo” e “A origem”, ambos com Leonardo DiCaprio, são tão parecidos – apesar de tão diferentes – e por quê estão entre os melhores filmes do ano.

AVISO – se você não assistiu a nenhum dos dois filmes, melhor não continuar.

Em fevereiro de 2010, Martin Scorsese lançou o suspense “A ilha do medo” (Shutter Island), trazendo Leonardo DiCaprio como protagonista. Ao investigar o desaparecimento de uma paciente de um hospital psiquiátrico/prisão, o detetive Edward Daniels (DiCaprio) acaba descobrindo que a ilha guarda segredos muito mais sombrios do que ele imaginara.

“A origem” (Inception) é de lançamento mais recente, foi agora em Agosto, e acredito que ainda está em exibição em algumas salas. Assinado por Christopher Nolan, tanto no roteiro quanto na direção, o filme trata de um grupo que realiza um tipo diferente de espionagem empresarial, entrando no sonho das pessoas para descobrir seus segredos mais bem guardados. DiCaprio interpreta Dom Cobb, o especialista no processo de sonhos compartilhados, que permite que duas ou mais pessoas tenham o mesmo sonho, e líder da equipe.


A princípio, nada parecidos. “A ilha do medo” se passa em 1954, enquanto “A origem” não apresenta data definida, mas é visível que não se passa antes 2010. Então, o que conecta esses dois filmes, além de serem protagonizados pelo mesmo ator?

Não é preciso nem ao menos ser um espectador atento para responder de primeira: o trauma da personagem principal.

Tanto Daniels quanto Cobb são homens perturbados, assombrados pelo fantasma de seu passado. E, em ambos os casos, esse fantasma tem rosto e nome: Dolores (Michelle Williams), em “A ilha do medo”, e Mal (Marion Cotillard), em “A Origem”. Mulheres belas, também perturbadas, que aparecem em sonhos e delírios para os protagonistas. As duas eram seu grande amor, mas também seu amor tragicamente perdido. E as semelhanças continuam: as aparições das duas começam pontuais e crescem ao longo do filme, crescendo também a intensidade dramática de suas cenas e a confusão do espectador em relação ao quê aconteceu com elas – e qual a participação de seus amados em seus trágicos desfechos. No fim, o destino de Dolores fica muito mais claro em “A ilha do medo” do que o de Mal em “A origem”.


Marion Cotillard, em "A origem".

Apesar da semelhança do trauma pessoal de ter perdido a mulher amada e os filhos – de forma definitiva no filme de Scorsese, e de forma reversível no de Nolan – as personagens de DiCaprio nos dois filmes são mais diferentes do que parecidas. Enquanto Ted Daniels sucumbe progressivamente à loucura, Dom Cobb segue seguro de si, mesmo quando tudo indica que perderá o controle. Enquanto Ted Daniels vai de um homem de luto pela sua perda, mas seguro de si, à um homem que não sabe mais distinguir a realidade da loucura, Dom Cobb jamais questiona o que sabe ser real. É muito interessante verificar como DiCaprio resistiu à tentação de interpretar os dois papéis da mesma forma – e a direção de atores dos dois filmes entra com força nesse aspecto.


DiCaprio com Michelle Williams, em "A ilha do medo".

Voltando ao ambiente das semelhanças, tanto o filme se Scorsese quanto o de Nolan, trazem ao público aquela sensação angustiante de questionamento da realidade. Além de prenderem a atenção dos espectadores ao longo do filme – eu não sei quanto a vocês, mas eu passei longos minutos sem respirar em ambos -, os dois fazem com que o mundo exterior à sala de cinema pareça etéreo, inconsistente e irreal. São essas sensações, juntamente com toda a discussão que eles levantam, que faz deles ótimos filmes. Sem contar os aspectos técnicos de direção, fotografia, cenografia, direção de atores, efeitos especiais, entre outros. Mas ambos os filmes apresentam um grande defeito: as sensações de vê-los pela primeira vez nunca mais se repetem.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Apresentação

Escrever sempre foi como um impulso pra mim. As idéias surgem, as palavras brotam. E com facilidade crescem. Escrever e divulgar em blogs é algo que tento fazer desde meus 13 anos, aproximadamente. Nunca deu muito certo. Não sei se tem relação com o fato de que muito do que escrevo considero fraco, inacabado. Pode ser. O fato é que resolvi tentar mais uma vez, logo, criei um blog bastante literário, onde a falta de regularidade é a mais constante presença: http://reegomes.blogspot.com/.

Não pretendo parar com esse blog original. Suspendê-lo nunca fez parte da minha vontade. Decidi recentemente, contudo, criar outro espaço para meus textos na internet. Um blog em que a literatura fique um pouco de lado e minhas opiniões sobre os mais diversos assuntos fique em evidência. O foco será o cinema, analisado sob a ótica crítica que aprendi (ou não) na faculdade até agora. Mas não há como saber o rumo que essas idéias vão tomar.

Não imagino quem vá se interessar por minha opiniões, mas o experimentalismo faz parte de mim e não há como renegá-lo.

Sem mais, seja muito bem-vindo. Aproveite o que puder.