domingo, 20 de novembro de 2011

A invasão de Amanhecer, ou o filme que nos estão enfiando goela abaixo.


Amanhecer – parte 1, final da “saga” Crepúsculo, que para imitar Harry Potter e ganhar mais dinheiro foi dividido em duas partes, fez sua estréia mundial sexta, dia 18. A qualidade duvidosa do roteiro, produção e realização de todos os filmes da série já foi amplamente discutida entre a crítica cinematográfica nos anos anteriores. E sim, eu infelizmente assisti a dois deles, até para saber do que falo: é ruim mesmo. Este ponto já foi estabelecido e já está mais do que passado. A questão que ganhou destaque esse ano, e que está fomentando protestos indignados, é a ocupação maciça das salas de cinema brasileiras com cópias do filme. São ao todo 1100 salas em um universo total de 2225 salas. Simplesmente METADE das salas do país estão exibindo Amanhecer. (Não é metade matemática, mas é metade, vai.)

Já vi uma crítica a isso exposta em um site especializado (http://www.clicaemcinema.com.br/) e já recebi um e-mail tipo corrente tão indignado quanto. E isso que nem procurei por mais, porque com certeza há por aí. Bem, não é de hoje que os blockbusters americanos invadem os cinemas brasileiros mensalmente como uma enxurrada, e também não é de hoje que muita gente reclama disso. Um único filme ocupando a metade das salas de um país de 8 514 876,599 km², com uma população de 194.946.470 de pessoas, porém, impulsiona ainda mais toda essa discussão.

Até Bella e Edward ficaram horrorizados com a baixa qualidade de Crepúsculo.

A grande reclamação dos realizadores e cinéfilos é que um filme só ocupando tantas salas tira o já reduzido espaço das produções menores. Isso é verdade. A lei de mercado favorece o que dá lucro, e isso têm sido durante décadas os blockbusters (salvo algumas exceções - alô, Padilha! Alô, Globo Filmes!). A escassez de filmes brasileiros em cartaz, a aparente falta de interesse do público pela produção nacional e as dificuldades que os nossos realizadores enfrentam, contudo, são questões impossíveis de serem explicadas ou resolvidas por uma só resposta.

Cinema é negócio.

Para começar, cinema nos Estados Unidos é sinônimo de negócios, e os americanos já se provaram excelentes comerciantes (discussões de capitalismo selvagem de lado. Os grandes estúdios de lá são bilionários, ponto). Só ganha a chance de sair do papel com um mega orçamento e ser exportando para diversos países o roteiro que tem potencial de venda. São esses roteiros que chegam até nós. Lá, as produções independentes e baratas são quase tão raras quanto aqui.

E o Brasil vai pelo mesmo caminho. A única grande produtora, a única capaz de colocar seus filmes em um número expressivo de salas é a Globo Filmes. Ela produz filmes bons, com certeza, mas também produz filmes medianos e ruins. Só que é um negócio, visa o lucro. São os blockbusters brasileiros. José Padilha conseguiu driblar esse monopólio um pouco, jogando a Globo Filmes para a co-produção e fazendo Tropa de Elite 2 com a sua própria produtora, a Zazen. Fora isso, contudo, só se faz e se exibe filme nesse país com o apoio do governo...

Cineasta brasileiro é dependente.

“Aqui no Brasil só se faz filme com o apoio do governo”. Posso dizer seguramente que essa foi a primeira lição que aprendi no meu curso de Audiovisual na Universidade de Brasília. Essa frase já virou mantra, repetido por professores, colegas, palestrantes, até entranhar. A equação é simples: cinema é negócio + filme custa caro + cinema brasileiro não dá dinheiro = ninguém quer investir. Sobra para o governo, essa grande Mãe de todos nós, estender seus braços misericordiosos e dispensar uma mesadinha pro filho cineasta, aquele que não escolheu tão bem a carreira como o filho dotor ou o filho adevogado, mas que afinal, é filho também.

O governo abre editais para o financiamento de produções, para a finalização, faz leis que obrigam os exibidores a apresentarem um número x de filmes brasileiros, entre outras medidas. Ainda assim, captar recursos para um filme não é fácil. É preciso um bom projeto e muita paciência para visitar mais de 70 empresas pedindo apoio. É este o testemunho dos cineastas com quem tenho convivido.

Filme brasileiro é gênero.

Numa conversa social em um evento social qualquer, uma garota comentou isso comigo: “filme brasileiro virou gênero”. O sujeito vai ao cinema com o amigo. “O que está passando?”. O outro explica: “tem esse aqui que é de ação, aquele outro que é romance e mais um tal que é filme brasileiro”. O tipo de filme é “filme brasileiro”. Taxado e julgado na porta do cinema pela nacionalidade. Vítima de xenofobia em seu próprio território.

Sei que é demais querer que de uma hora para a outra a coisa mude para “esse é de ação, aquele de romance e o outro lá é filme americano”, mas quem sabe um dia?

Filme brasileiro é ruim

Mentira. Mentira. Mentira. Que o cinema brasileiro está se recuperando de um período de baixa fertilidade, isso é certo, mas o país nunca deixou de ter sua parcela de bons frutos – que estão cada vez mais abundantes. O cinema brasileiro tem produzido grandes obras e a tendência é crescer. Precisa, contudo, receber mais apoio por parte de sua população. E por apoio não me refiro a aplaudir qualquer porcaria que venha pela frente só por ser nacional, mas ter o senso crítico para saber separar o que é bom do que não é, reconhecendo e aplaudindo o que for bom. Para saber, contudo, é preciso assistir ao máximo de produções, vindas de todas as partes do país, tendo ou não atores e diretores famosos. Assistir para formar opinião.

O Brasil tem poucas salas.

Poucas, caras e concentradas nas grandes cidades. E essas poucas salas ainda reservam metade de seu espaço para Amanhecer... Pois é. O cinema brasileiro não dá dinheiro porque o público não vai assistir, o público não vai assistir porque as opções são poucas. É um ciclo vicioso que está sendo quebrado. A passo de tartaruga, mas está.

A presença da Globo Filmes, dos poucos filmes que conseguem se lançar de forma independente e daqueles que contam com a mãozinha do governo está aproximando a produção do público. O caminho até que a procura se torne suficiente para que os filmes brasileiros sejam economicamente lucrativos e conquistem a maioria na programação é longo, mas possível de ser trilhado.

Quer tirar salas de Amanhecer? Vem pro fight!

E de volta a Amanhecer.

Cinema é negócio, requer investimento, e os grandes estúdios americanos tem condições de investir. As produtoras brasileiras, salvo algumas exceções, não tem. As empresas que dão apoio só se interessam em investir o mínimo para obterem vantagens fiscais. Na hora da exibição, o público não procura os filmes nacionais, vai atrás dos importados com altíssimos valores de produção e com propaganda maciça. Os distribuidores e exibidores querem ganhar dinheiro, logo, veiculam o que o público procura. Este é, de forma simplificada, o ciclo que temos vivenciado.

O que a invasão de Amanhecer nos cinemas mostra é um exagero de proporções monstruosas da política de ganhar dinheiro exibindo uma superprodução. Ocupar metade das salas de um país com um único filme é mais do que a ganância dos estúdios, produtores e exibidores em conseguir uma grande bilheteria, é enfiar um filme goela abaixo de uma nação inteira. Sim, Crepúsculo tem muitos fãs, mas nem tantos assim que precisem de 30 opções de horários diferentes para conseguir uma oportunidade de assisti-lo - isso somente em um dos cinemas de Brasília, para dar um exemplo.

Por mais que cinema seja um negócio e que vise o lucro, falta aos distribuidores e exibidores um mínimo de bom senso. Para se ter uma idéia, o filme mais bem sucedido de Crepúsculo até agora (Lua Nova) arrecadou menos do que o filme mais mal sucedido de Harry Potter (O Prizioneiro de Azkaban). (Isso em escala global, pois me faltam dados para uma comparação nacional). Nem mesmo os fãs de Harry Potter precisaram de tantas salas para saciar sua sede pela série e para render um bom lucro, então será que Crepúsculo precisa mesmo de tanto espaço, ou se estão, como já disse, enfiando o filme goela abaixo do público?

A discussão dos problemas que o cinema brasileiro enfrenta não surgiu hoje nem vai acabar tão cedo. A situação que estamos presenciando agora, entretanto, faz mais do que inflamar o debate: joga gasolina em indignações há muito acumuladas. Indignações recheadas de bons motivos e razões, diga-se de passagem.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Branca de Neve de volta à telona. Em dose dupla

2011 está chegando ao fim, e os anúncios de estréias do ano seguinte já estão surgindo. Entre elas, duas produções que revivem - e revisam - a fábula da bela princesa de pele alva, lábios vermelhos e cabelos escuros como a noite. Coincidência? Não dá pra saber.

Em ambos os filmes há uma rainha má, bela e invejosa, e Branca de Neve torna-se uma guerreira rebelde que se esconde na floresta para lutar contra o regime opressor de sua antagonista. As semelhanças, contudo, param por aí.

Apesar de serem os dois voltados para um público mais jovem, Mirror Mirror é claramente infantil, enquanto Snow White and the Huntsman (nenhum deles teve seu título oficialmente traduzido para português ainda) pega um público entre adolescentes e jovens adultos.

Mirror Mirror.
Com estréia marcada para 16 de Março nos Estados Unidos, traz um tom mais infantil, colorido e cômico à aventura. Julia Roberts interpreta comicamente a rainha má, mas a impressão que o trailer deixa é que o filme não terá nada de tão engraçado assim. Se no trailer, que comumente reúne as melhores partes do filme para chamar a atenção, o melhor que conseguiram foi um anão mandando um “Snow White? Snow way!”... não tem nem como completar a frase.


Snow White and the Huntsman.

Deixando Bella Swan um pouco de lado, Kirsten Stewart interpreta uma Branca de Neve guerreira como a de Mirror Mirror, mas longe da comédia. Mesmo apresentando elementos de fantasia como o corvo que se transforma em centenas, o soldado que se desfaz em milhares de pedacinhos negros e, é claro, o espelho falante, a produção aspira ao épico. Se chegará lá ou não, isso é outra história.
O filme tem estréia marcada para 1° de Junho nos Estados Unidos, mirando a summer season americana, e parece ter condições de fazer uma boa bilheteria.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A nova pele de Almodóvar.


O que se tem comentando amplamente a partir de A pele que habito (La piel que habito) é que Almodóvar tem se parecido cada vez menos com Almodóvar. E isso não é bom nem ruim, apenas diferente.
Pipocam por aí comentários de que o cineasta “amadureceu”. Ora, ele já não estava maduro ao filmar Fale com ela, Tudo sobre minha mãe e Volver? Com certeza que estava. Esse “novo Almodóvar” que os críticos têm anunciado trata-se apenas de uma nova faceta que o diretor começou a explorar com Abraços partidos. E que faceta!

As tramas mirabolantes e o exagero, que levam o enredo ao limite do verossímil, ainda estão lá. A diferença maior está no uso das cores (menos vermelho, ah, muito menos) e no tom do filme, deixando o melodrama para entrar no drama (com suspense, no caso de A pele).

Antonio Banderas e Elena Anaya em cena de A pele que habito.

Um famoso cirurgião plástico (Antonio Banderas) mantém presa em sua mansão uma paciente belíssima (Elena Anaya), com a cumplicidade de sua governanta (Marisa Paredes). Apesar de bizarra, a situação parece estar em equilíbrio, até que um sujeito vestindo uma esdrúxula fantasia de tigre (Roberto Álamo) lhes faz uma visita. A fantasia de tigre e os trejeitos do homem que a porta destoam do restante da concepção de direção de arte do filme. É como se Pepe, Luci, Bom visitasse Abraços Partidos, como se um toque do “velho Almodóvar” fizesse uma ponta no filme do “novo Almodóvar”.

A visita do homem-tigre desencadeia uma série de flashbacks que contam as tragédias pessoais do Dr. Robert (Banderas), como a perda da esposa e da filha. As pontas soltas vão se interligando até um desfecho surpreendente.

Almodóvar sabe compor enquadramentos maravilhosos, e as imagens que cria em A pele que habito são simplesmente magníficas. Essa habilidade visual aliada a um roteiro que cutuca o espectador, propondo-lhe questionamentos sobre a essência humana, tem como resultado um filme belíssimo tanto na forma quanto no conteúdo.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

12° Projeta Brasil no Cinemark.

Nesta segunda-feira, dia 07 de Novembro, o Cinemark abre suas portas ao cinema brasileiro. Diversos filmes serão apresentados sob o preço único de dois reais. A renda será revertida para festivais e prêmios.

A programação vai de filmes que já saíram de cartaz, como Bruna Surfistinha, a filmes que há pouco entraram no circuito, como O Palhaço. Sem dúvida, uma bela iniciativa de divulgar e valorizar a produção nacional.

sábado, 5 de novembro de 2011

Exercine no Tumblr



Para diversificar o conteúdo do blog e agradar aos adeptos do tumblr, agora o Exercine também está aqui: http://exercine.tumblr.com/

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