sábado, 30 de julho de 2011

Mais do mesmo. De novo.

Seguindo as tendências da Summer Season americana, estreou ontem o blockbuster Capitão América, nos cinemas de todo o país.

Essa onda de filmes de Super Heróis que começou com Spider Man em 2002, e seguiu com Batman Begins (2005) e Superman Returns (2006), já está começando a saturar. Os filmes são basicamente sempre os mesmos: um bom garoto descobre que tem (ou ganha) super-poderes e decide usá-los na luta contra o mal, vivendo seus dilemas pessoas no processo. Exceto, talvez, no caso do Batman e do Homem de Ferro, que não possuem super-poderes e não são totalmente bons meninos. Enfim, esses filmes têm toda a qualidade técnica de uma típica superprodução hollywoodiana, com efeitos especiais incríveis e lutas até a morte entre o bem e o mal, sempre com muitas explosões. Há também um romance complicado, ou impossível, que faz o herói sacrificar-se pela amada. Capitão América não foge à regra, e ainda vem com o adicional nacionalista estampado no nome e no uniforme.

Até mesmo quem não sabe nada sobre o Capitão – exatamente o meu caso – sabe pelo menos que foi um personagem criado durante a Segunda Guerra para exaltar a luta dos americanos contra o nazismo e para incentivar o patriotismo. Pela história original, logo após a guerra, o grande herói da nação é congelado, preservando-se para eventuais necessidades futuras. O filme volta à década de 1940 para mostrar como o franzino Steve Rogers (Chris Evans) tornou-se o musculoso e habilidoso Capitão América graças a uma experiência científica bem sucedida.

Capitão América, apenas mais um super-herói americano.

Após servir como garoto-propaganda do exército americano, Rogers finalmente consegue realizar seu sonho de lutar na linha de frente. Seu inimigo é Johann Schmidt (Hugo Weaving), o líder da Hidra, divisão nazista de ciência. A ambição de Schmidt por artefatos míticos remete o público imediatamente à série do arqueólogo Indiana Jones, cujos inimigos nazistas também buscavam poderes ocultos da antiguidade. Schmidt, transformado por uma experiência mal sucedida, torna-se o Caveira Vermelha, que como super-vilão sinceramente não assusta muito. Por mais que Hugo Weaving seja um ator habilidoso, é muito difícil não esperar que ele solte um “hello, mister Anderson” a qualquer momento. Infelizmente, o melhor papel que Weaving já fez foi sob uma máscara (V for Vendetta).

Peggy Carter (Hayley Atwell), par romântico de Rogers, personifica a mocinha durona e boa de briga, mas que não deixa o charme feminino de lado, que virou padrão no cinema atual. Percebe-se que ela simpatiza com o garoto frágil que quer ser um soldado, mas é quando ele se torna alto e musculoso que a tensão sexual entre os dois surge. Enquanto isso, Howard Stark (Dominic Cooper), pai de Tony Stark (aquele mesmo do Homem de Ferro), tem uma participação interessante como o gênio playboy parecidíssimo com o filho, mas com limitações tecnológicas muito maiores.

Capitão América é um filme visualmente bonito, com um roteirinho básico de bem versus mal, romance e algumas piadas. No fim, é apenas mais do mesmo. Serve como preparação para Os vingadores, a ser lançado em 2012, que vai unir Thor, Homem de Ferro, Viúva Negra, entre outros, ao Capitão. Ou seja, em 2012 tem mais filme de super-herói pela frente. Já dá pra ir imaginando o roteiro, não?

P.S.: Assim como em Homem de Ferro 2, em Capitão América também há uma cena pós-créditos, mas diferente do primeiro, no caso do segundo vale muito mais a pena esperar as letrinhas passarem para assistir.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O apaixonante cinema de Pedro Almodóvar.

Começou Terça, dia 26, no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, a mostra "El Deseo: o apaixonante cinema de Pedro Almodóvar". Além de mostrar a filmografia do diretor na telona, a mostra conta com alguns dos filmes favoritos do espanhol, como Janela Indiscreta e Cinderela em Paris. Há também um documentário na programação: Tudo sobre o desejo – O apaixonante cinema de Pedro Almodóvar.



Almodóvar é conhecido por seus enredos mirabolantes, em que as coisas mais absurdas acontecem com uma normalidade tranquila. Mas não é a vida, afinal, o maior dos absurdos? Sua paleta de cores, recheada com um vermelho intenso e com muito verde, também é sua marca registrada. Suas personagens são intensas, e muitas vezes parecem saídas de um melodrama dos anos 20. Vale a pena conferir.

A mostra vai até 14 de Agosto. Confira a programação completa no site do . CCBB

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Tudo termina.

A mais famosa saga cinematográfica de todos os tempos chegou ao fim. Fãs do mundo inteiro lotaram os cinemas na pré-estréia da meia-noite, uma cena que com certeza se repetirá durante todo o final-de-semana. Não há como negar que Harry Potter influenciou a toda uma geração. A fez rir, torcer, se emocionar, chorar de tristeza e de felicidade, se encantar... sonhar. Não posso negar que faço parte dessa geração que cresceu com Harry e que deve aos livros de Joanne Kathleen Rowling a vivência de belos e inesquecíveis momentos.

Sim, tenho várias ressalvas em relação a Relíquais da Morte parte II como fã, sendo a principal delas a duração curta do filme, mas prometo deixar as reclamações de fã de lado, já que este texto é, afinal, sobre cinema. Relíquias da Morte parte I já havia trazido à saga elementos cinematográficos muito mais sofisticados do que a rigidez hollywoodiana dos primeiros filmes, e isso é algo que a parte II não apenas continua, mas amplifica e intensifica – e nisso consiste seu grande mérito.

Harry, Rony e Hermione enfrentam sua última e mais difícil batalha.

O filme começa exatamente no ponto em que o anterior termina: Voldemort (Ralph Fiennes), tendo violado o túmulo de Dumbledore (Michael Gambon), apodera-se da Varinha das Varinhas, enquanto Harry (Daniel Hadcliffe) enterra Dobby (Toby Jones) nas proximidades do Chalé das Conchas. Quem esperava um flashback para dar uma refrescada na memória ficou desapontado. Essa, inclusive, é uma característica dos filmes da saga dirigidos por David Yates: ele não perde tempo com muitas explicações, o que me faz pensar que a parcela do público que não conhece os livros talvez não entenda tudo. Após se despedir de Dobby, Harry parte com Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) para o banco bruxo Gringotes, em busca de mais uma horcrux.

Hermione se transfigura em Bellatriz Lestrange, cena em que Helena Bonha Carter arranca risadas como a Hermione delicada e educada tentando agir como a bruxa arrogante e má que é Bellatriz. Após enfrentarem um tesouro que se multiplica, um dragão e uma dúzia de guardas, – que apesar dos costumes bruxos de usar capas, vestem-se com estranhos uniformes azuis de guardas de museu - Harry e seus amigos fogem montados no já mencionado dragão. Assim que pousam, eles decidem ir a Hogwarts.

Para não entrar em muitos detalhes sobre o enredo, Voldemort organiza um ataque à escola e logo os preparativos para a batalha começam. Aqui, o único comentário de fã que farei (juro): não achei compatível com a personagem da professora Minerva Mcgonagall (Maggie Smith) mandar os alunos da Sonserina para às masmorras na eminência de um ataque ao castelo. McGonagall, tanto nos livros quanto nos filmes, sempre colocou o bem-estar dos alunos em primeiro lugar, fossem quem fossem. Nesse ponto do filme, uma frase que comandasse os menores de idade a saírem em segurança e os maiores a escolher: sair, ou ficar e lutar, seria ao mesmo tempo mais adequada a personagem e seria um melhor indicativo do começo dos preparativos para a batalha.

McGonagall reforça as proteções de Hogwarts.

O exército de Voldemort se alinha em frente aos portões, e é imenso. Os defensores de Hogwarts são poucos, mas dedicados – e isso é o que conta mais, como destaca Arthur Weasley (Mark Williams). A batalha toma quase todo o tempo do filme, e os intervalos em meio à ação são tristes, marcados pela morte de personagens queridos e grandes descobertas por parte de Harry.

Relíquias da Morte parte II segue o tom sombrio da primeira parte. A fotografia é escura e os ambientes cinzentos. O 3D foi feito a partir da versão original em 2D, o que apresenta vantagens e desvantagens. A vantagem é que, não sendo um filme feito especialmente para ser exibido em 3D (além de ter sido pensado por um diretor maduro), não há efeitos de coisas saltando da tela em direção ao espectador a todo o tempo. A desvantagem é que o 3D escurece ainda mais a fotografia e gera o desconforto visual de “perder” as laterais da imagem, já bem conhecido do público que assiste a filmes com essa tecnologia. O grande mérito do diretor, David Yates, é inovar nos ângulos e movimentos de câmera. O plano detalhe dos olhos de Neville (Matthew Lewis) que vem logo após um plano médio de Hermione é particularmente interessante.

Harry enfrenta Voldemort pela última vez.

A leveza dos primeiros filmes é apagada de vez. A magia do desfecho de Harry Potter é escura e cruel, mas nunca sem esperança. Yates, contudo, imprime na tela imagens belíssimas, mesmo quando sombrias. O diretor transformou o que era uma bonita história infantil em A pedra filosofal em Cinema. Um êxito memorável, independente de qualquer chiação por parte dos fãs.

Não se pode falar de Relíquias da Morte parte II, contudo, sem dar o devido destaque ao personagem Severus Snape e a brilhante atuação de Alan Rickman. É ponto comum entre os críticos de cinema, tendo lido o livro ou não, que Snape revela-se como o personagem mais complexo de toda a série nesse último longa. Sim, Snape é isso e muito mais: é o personagem sem o qual nada teria sido possível, é o personagem que revela o cerne da história de Rowling: o amor como a força mais poderosa que existe. Mesmo antes de a verdade ser revelada, Rickman dá pistas da verdadeira natureza de Snape em sua atuação. Sua relutância em pedir aos alunos que entreguem Harry e seu receio de machucar McGonagall ao duelar com ela são indícios explícitos, apesar de sutis. Um paradoxo que o talento de Rickman torna possível.

Alan Rickman como Snape: o personagem mais surpreendente da série se revela.


Dez anos depois, a saga chega ao fim. Mais do que uma adaptação de oportunidade para atingir altos índices de bilheteria, porém, Harry Potter firmou-se como uma gigantesca realização cinematográfica. Uma história redonda, com personagens ricos e complexos, dentro de um universo cheio de detalhes e situações mirabolantes, mas verossímil, realizado sob as diferentes visões de quatro diretores e com os melhores recursos técnicos disponíveis. É esse conjunto, e não apenas o fervor dos fãs, que vai garantir que a história do menino que sobreviveu viva ainda por muitas décadas mais.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Ah, Paris!

Eu sei que estou super atrasada, mas meu tempo para ir ao cinema tem sido tanto quanto o que tenho para fazer compras na galeria Lafayette, então...


Não conheço muito o trabalho de Woody Allen. Adorei Vicky, Cristina, Barcelona, mas ainda tenho que voltar à Annie Hall, que larguei pela metade quando os diálogos começaram a me cansar. Apesar disso, Meia-noite em Paris, mesmo ciente de todos os elogios recebidos em Cannes, me surpreendeu: é muito melhor do que eu imaginava.

Após uma longa sequência de imagens de Paris ao som de uma música instrumental que quase me fez deitar e dormir, o filme realmente começou e só que eu conseguia pensar era como aquele figurino de chemise com cinto caído deixava a Rachel McAdams gorda. Como sempre, o forte de Woody Allen são os diálogos, e o filme já começa massacrando o espectador com toneladas dele.

Gil (Owen Wison) com a noiva Inez (Rachel McAdams): um par nada perfeito.

A história fica mais interessante quando Paul (Michael Sheen), o amigo pedante de Inez aparece. À essa altura, sabemos que Inez (Rachel McAdams) é noiva de Gil (Owen Wilson), um roteirista de Hollywood e candidato a romancista, que vê Paris e a literatura com olhos românticos e despretensiosos. Enquanto Gil gostaria de ter vivido na Paris dos anos 1920, a ambição de Inez é uma vida moderna e prática em Malibu. Paul, por quem Inez admite ter tido uma “queda” nos tempos de faculdade, é um pseudo-intelectual que pensa ser seu dever dar verdadeiras palestras sobre tudo o que encontra, chegando inclusive a discutir com uma guia turística (Carla Bruni). Inez logo passa a aceitar a todos os convites de Paul, por quem Gil tem clara aversão, deixando o noivo sozinho para vagar pelas ruas de Paris. É justamente durante seu primeiro passeio noturno que o inusitado acontece.

Após ouvir um relógio badalar meia-noite, Gil vê um carro antigo se aproximar. Os ocupantes do carro o convidam a entrar e o levam a uma festa dos anos 1920. Lá, ele conhece Zelda e Scott Fitzgerald, e vê Cole Porter tocar ao piano. Ao ser levado a um bar onde conhece Ernest Hemingway, Gil percebe que está nos anos 20. Nas noites seguintes ele conhece Gertrude Stein, Pablo Picasso, Luis Buñuel e Man Ray. Conhece Também Adriana (Marion Cotillard), amante de Picasso por quem Gil se apaixona.


Gil divide-se entre o presente que vive durante o dia, tempo em que ele presencia sua noiva agindo como a patricinha egoísta e mimada que é, inclusive desprezando-o: “escute ao Paul, Gil, você talvez aprenda alguma coisa”; e o charme da Paris dos anos 20, pela qual ele passeia todas as noites, na companhia dos artistas mais proeminentes da época. Atraído pelo jeito doce e romântico de Adriana, e cego para a verdadeira personalidade de Inez, Gil fica indeciso. É somente quando ele volta mais ainda no tempo – para 1890 – com Adriana, que ele percebe o que tem que fazer.

Adriana (Marion Cotillard) caminha com Gil (Owen Wilson) pelas ruas da mágica Paris após a meia-noite.


Allen não explica em parte alguma do filme como essa “viagem no tempo” é possível, o que somente a torna mais interessante. No começo, o expectador fica em dúvida se Gil não estaria imaginando coisas, mas depois aceita-se que Gil visita os anos 20 porque sim, ponto. Qualquer tentativa de explicação apenas prejudicaria o filme.

Woody Allen não investe em planos incomuns ou movimentos de câmera mirabolantes. Em seus filmes, tudo gira em torno do diálogo, deixando os planos e movimentos bastante convencionais. Cabe à fotografia e à direção de arte tornar os quadros bonitos. A luz torna Paris ainda mais encantadora durante o dia, e mais glamorosa à noite. À recriação dos anos 1920 nos cenários e figurinos é primorosa.

Michael Sheen está ótimo como o pedante Paul, enquanto Rachel McAdams é bem sucedida em angariar a antipatia do público como a noiva chata. Marion Cotillard coloca toda a sua leveza e todo o romantismo de seus olhos à serviço de sua personagem sonhadora. Owen Wilson, por sua vez, parece imitar a atuação do diretor, Woody Allen, tanto no gestual quanto no modo de pronunciar as palavras. O que, a meu ver, não é algo necessariamente ruim, mas que talvez incomode a alguns Allen-maniácos.

Por fim, o filme que começou como uma ode à Paris estabelece sua temática como sendo um sentimento comum ao ser humano: o de que seríamos mais felizes em outra época. O presente, porém, é tudo o que temos, e o segredo da felicidade é fazer o melhor com o tempo que nos cabe. O romantismo, o glamour, também podem ser vistos no presente, basta a vontade de enxergar.