quarta-feira, 13 de junho de 2012

27/05, Dia de encerramento – The Angel’s Share.



Comédia com uma boa dose de drama da vida real, The Angel’s Share (A Parte dos Anjos, em tradução livre) tem como personagem principal Robbie (Paul Branningan), um jovem violento que tenta mudar de vida para ser um bom pai para seu filho recém-nascido. Dirigido por Ken Loach, o filme ganhou o prêmio do júri, e conquistou o coração do público do festival.

Juntando-se a um grupo de desajustados que presta serviço comunitário como pena por crimes como tentativa de furto, invasão dos trilhos da ferrovia, embriaguez pública e outros delitos leves, Robbie encontra uma segunda chance ao conhecer Harry (John Henshaw), o fiscal responsável pela turma. Ao contrário de seus colegas, Robbie provavelmente deveria estar na cadeia. Após espancar um rapaz até deixá-lo inconsciente – em um episódio que não se tratou de sua primeira condenação por agressão, ele escapa da prisão por um triz. Harry, porém, não faz julgamentos e trata a todos com igualdade de gentileza.

Robbie (Paul Branningam) com a namorada Leonie (Siobhan Reilly) e o filho: a descoberta de uma razão para viver.


A salvação por meio do Uísque.

Harry, em um de seus melhores momentos paternos, leva o grupo a uma destilaria para conhecer o processo de fabricação do Uísque. Lá, Robbie descobre que tem um “ótimo nariz” para a bebida. A partir daí, a imersão do rapaz no universo do malte é cada vez maior.

O uísque como tábua de salvação não só de Robbie, mas também de seus amigos, é uma delicada ironia que o filme apresenta. Tendo cometido a maioria de seus crimes em estado de embriaguez, encontrar a saída justamente em uma bebida alcoólica tratada quase como uma verdadeira jóia por seus apreciadores não deixa de ser engraçado.

O contraste dos estragos que o álcool pode causar, representado pelo grupo de Robbie, com a quase reverência com a qual os especialistas tratam os uísques finos mostra apenas que cada ser humano tem seus vícios e dependências. Com a diferença de que uns são socialmente aceitos, outros não.

Um grupo de desajustados encontra uma salvação no Uísque. 


A parte dos anjos.

Em sua primeira visita a uma destilaria, o grupo descobre de que se trata a “parte dos anjos”. Segundo a guia do local, a expressão se refere à fração da bebida que evapora anualmente durante seu longo período de envelhecimento nos barris de madeira. Assim, quando Robbie pega para si uma parte de um precioso barril a ser leiloado, não está reclamando mais do que a sua parte dos anjos.

É claro que nenhum dos membros do grupo é particularmente um anjo. Todos eles são criminosos julgados culpados e condenados por seus delitos contra a sociedade. Mas o modo como Loach os apresenta, como garotos e garotas perdidos no mundo, desajustados, mas não essencialmente maus, imprime uma imagem de verdadeiros anjos caídos.

O próprio contraste entre o universo dos desajustados e excluídos com o dos ricos que estão dispostos a pagar mais do que o valor de uma casa em uma única garrafa de uísque é uma maneira de mover a simpatia do público na direção desejada por Loach. Construindo um filme que fala sobre a dura realidade da vida real, sem deixar de fazer piada da condição humana, mas sem cair na tentação de ser piegas, o diretor acerta em cheio. Não foi a toa que Cannes se encantou com os simpáticos anjos de kilt. 

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