Sexta-feira à tarde fui à sala
Buñuel assistir a alguns dos curtas-metragem em competição. Nos cinco curtas
que vi, cada um de uma nacionalidade diferente, pude perceber que o mundo tem
diferentes formas de falar sobre uma gama bastante específica de assuntos: a
situação do imigrante, a luta por uma vida melhor, a inadequação do sujeito ao
mundo à sua volta, a busca pela paz – interior ou entre países. Apesar de
diferentes entre si no formato, as cinco histórias não são tão diferentes assim
no conteúdo.
Cockaigne
Direção: Emilie Verhamme
País: Bégica
Segundo a Wikipédia, Cockaigne é
um local imaginário de extremo luxo e facilidade onde o conforto físico e os
prazeres estão sempre imediatamente ao alcance. Trata-se de uma utopia, um
local dos sonhos.
No curta, um homem e seus dois
filhos, já adultos, cruzam a fronteira da Bélgica clandestinamente em busca de
seu próprio Cockaigne. Explorados no caminho e na chegada, trabalham por
pouquíssimo dinheiro. Contratados para renovar a parede da casa de um
marroquino, sofrem preconceito por parte deste.
Vivendo em um país em que nem
mesmo os estrangeiros se apóiam entre si, a solução dos três é vingarem-se em
pequenas coisas quando têm oportunidade, enquanto a solução final do filme é
arrancar leves risadas com uma última ironia.
Com a fotografia um pouco
estourada, principalmente nas cenas externas, um toque de câmera na mão e
desfocagens ocasionais, Cockaigne transmite
um ar de experimentalismo.
Cockaigne: a busca por uma vida melhor. |
The Chair
Direção: Grainger David
País: Estados Unidos
Um garoto vê sua mãe morrer
vítima de um misterioso fungo que logo se espalha por sua pequena cidade. Ele narra
a tragédia com uma voz desanimada e ritmada, inserindo observações bastante maduras
para a idade. Descrevendo como os cientistas de branco vieram a sua casa e levaram
tudo, menos a cadeira de sua mãe, que fica abandonada ao lado de grandes containers
de lixo.
O filme apresenta uma fotografia
belíssima, principalmente nas cenas ao entardecer. Sem diálogos, a única voz
que se ouve é a narração do garoto, que fala coisas muito interessantes, mas
que em alguns momentos se revelam incomodamente incoerentes com sua idade.
The Chair: a busca pela compreensão. |
Nigth Shift
Direção: Zia Mandviwalla
País: Nova Zelândia
Uma mulher por volta dos quarenta
anos de idade prepara-se para iniciar seu turno como faxineira de um aeroporto à
noite. Ao passar por um colega, este lhe pergunta “fazendo turno duplo de novo?”.
E aos poucos os indícios de que ela vive no aeroporto se acumulam.
Recolhendo e guardando para si o
que encontra, principalmente sobras de comida, ela está sempre série e
concentrada em seu trabalho. Seus momentos de pausa são preenchidos por
ligações que faz ao mesmo número que nunca atende. Do outro lado da linha, a voz
de um homem não se cansa de repetir uma mensagem típica de secretária
eletrônica.
Night Shift: a busca pela sobrevivência. |
Gasp
Direção: Eicke Bettinga
País: Alemanha
Entre Night Shift e Gasp, é
difícil dizer qual seria o meu favorito. Enquanto o primeiro mexe muito com a
emoção, o último é mais completo, mas atinge principalmente os
sentidos da audição e da visão. Dotado de um design de som poderoso, o filme
também explora o poder da imagem para passar sensações de textura: o plástico
vermelho de uma sacola, a casca enrugada de uma árvore. Esteticamente
maravilhoso.
O personagem principal de Gasp é um garoto prestes a sair do
ensino médio e ingressar na faculdade. Apesar de bem-sucedido nos estudos, é
apático e vive sob a coordenação de sua muito insegura e superprotetora mãe. A vida
real passa por ele sem ser sentida. Buscando escapar da realidade e sentir
algum prazer, ele se envolve em uma perigosa brincadeira de asfixiar-se.
Gasp: a busca por uma emoção. |
Waiting on P. O. Box
Direção: Bassam Checkes
País: Síria
Com um roteiro surrealista, Waiting on P. O. Box traz belas imagens
e uma mensagem de paz em relação ao conflito entre Israel e Palestina. Com interessantes
jogos de palavras, o filme propõe questões como: “Does the will make the real
or the real make the will?” (A vontade faz o real ou o real faz a vontade?) e
se seria “To make a new film or to make film new?” (Fazer um novo filme ou
fazer o filme novo?).
Waiting on P. O. Box: a busca pela paz. |
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