terça-feira, 5 de junho de 2012

26/05 – Uma multiplicidade de pontos de vista: Os Curtas-Metragem


Sexta-feira à tarde fui à sala Buñuel assistir a alguns dos curtas-metragem em competição. Nos cinco curtas que vi, cada um de uma nacionalidade diferente, pude perceber que o mundo tem diferentes formas de falar sobre uma gama bastante específica de assuntos: a situação do imigrante, a luta por uma vida melhor, a inadequação do sujeito ao mundo à sua volta, a busca pela paz – interior ou entre países. Apesar de diferentes entre si no formato, as cinco histórias não são tão diferentes assim no conteúdo.

Cockaigne

 Direção: Emilie Verhamme
País: Bégica

Segundo a Wikipédia, Cockaigne é um local imaginário de extremo luxo e facilidade onde o conforto físico e os prazeres estão sempre imediatamente ao alcance. Trata-se de uma utopia, um local dos sonhos.

No curta, um homem e seus dois filhos, já adultos, cruzam a fronteira da Bélgica clandestinamente em busca de seu próprio Cockaigne. Explorados no caminho e na chegada, trabalham por pouquíssimo dinheiro. Contratados para renovar a parede da casa de um marroquino, sofrem preconceito por parte deste.

Vivendo em um país em que nem mesmo os estrangeiros se apóiam entre si, a solução dos três é vingarem-se em pequenas coisas quando têm oportunidade, enquanto a solução final do filme é arrancar leves risadas com uma última ironia.

Com a fotografia um pouco estourada, principalmente nas cenas externas, um toque de câmera na mão e desfocagens ocasionais, Cockaigne transmite um ar de experimentalismo.

Cockaigne: a busca por uma vida melhor.

The Chair

Direção: Grainger David
País: Estados Unidos

Um garoto vê sua mãe morrer vítima de um misterioso fungo que logo se espalha por sua pequena cidade. Ele narra a tragédia com uma voz desanimada e ritmada, inserindo observações bastante maduras para a idade. Descrevendo como os cientistas de branco vieram a sua casa e levaram tudo, menos a cadeira de sua mãe, que fica abandonada ao lado de grandes containers de lixo.

O filme apresenta uma fotografia belíssima, principalmente nas cenas ao entardecer. Sem diálogos, a única voz que se ouve é a narração do garoto, que fala coisas muito interessantes, mas que em alguns momentos se revelam incomodamente incoerentes com sua idade.

The Chair: a busca pela compreensão.


Nigth Shift

Direção: Zia Mandviwalla
País: Nova Zelândia

Uma mulher por volta dos quarenta anos de idade prepara-se para iniciar seu turno como faxineira de um aeroporto à noite. Ao passar por um colega, este lhe pergunta “fazendo turno duplo de novo?”. E aos poucos os indícios de que ela vive no aeroporto se acumulam.

Recolhendo e guardando para si o que encontra, principalmente sobras de comida, ela está sempre série e concentrada em seu trabalho. Seus momentos de pausa são preenchidos por ligações que faz ao mesmo número que nunca atende. Do outro lado da linha, a voz de um homem não se cansa de repetir uma mensagem típica de secretária eletrônica.

Night Shift: a busca pela sobrevivência. 


Gasp

Direção: Eicke Bettinga
País: Alemanha

Entre Night Shift e Gasp, é difícil dizer qual seria o meu favorito. Enquanto o primeiro mexe muito com a emoção, o último é mais completo, mas atinge principalmente os sentidos da audição e da visão. Dotado de um design de som poderoso, o filme também explora o poder da imagem para passar sensações de textura: o plástico vermelho de uma sacola, a casca enrugada de uma árvore. Esteticamente maravilhoso.

O personagem principal de Gasp é um garoto prestes a sair do ensino médio e ingressar na faculdade. Apesar de bem-sucedido nos estudos, é apático e vive sob a coordenação de sua muito insegura e superprotetora mãe. A vida real passa por ele sem ser sentida. Buscando escapar da realidade e sentir algum prazer, ele se envolve em uma perigosa brincadeira de asfixiar-se.

Gasp: a busca por uma emoção. 


Waiting on P. O. Box

Direção: Bassam Checkes
País: Síria

Com um roteiro surrealista, Waiting on P. O. Box traz belas imagens e uma mensagem de paz em relação ao conflito entre Israel e Palestina. Com interessantes jogos de palavras, o filme propõe questões como: “Does the will make the real or the real make the will?” (A vontade faz o real ou o real faz a vontade?) e se seria “To make a new film or to make film new?” (Fazer um novo filme ou fazer o filme novo?). 

Waiting on P. O. Box: a busca pela paz.

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