Drive teve
aprovação altíssima em Cannes, festival em que seu diretor, Nicolas Winding
Refn, foi premiado. Sua estréia oficial foi em setembro de 2011, e agora chega às salas do Brasil.
Um garotão solitário e caladão, que trabalha em uma oficina,
é dublê em filmes de ação e faz bico como motorista para criminosos. Esse é o
personagem sem nome de Ryan Gosling em
Drive. Com um visual anos 80 e um quê de Robert De Niro em Taxi Driver, o Motorista parece não
esperar muito da vida, não demonstrando praticamente nenhuma emoção a não ser
um ocasional minúsculo sorriso sem dentes a sua vizinha Irene (Carey Mulligan)
e ao filho dela.
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O Motorista: excelente atuação de Ryan Gosling. |
Irene, contudo, consegue quebrar a barreira de silêncio e
paciência comedida do rapaz, descobrindo seu lado mais amável. O modo como o
diretor constrói o envolvimento dos dois é delicado e tocante. Sem beijos
extravagantes e sem juras de amor, a conexão se constrói por meio da troca de
olhares e sorrisos contidos. Quando o marido de Irene saí da prisão, contudo,
um obstáculo surge entre os três, criado não pelo ciúme, mas pelo envolvimento
com o crime.
Três aspectos fundamentais se destacam em Drive: a atuação de Ryan Gosling, o
trabalho com a trilha sonora e, é claro, a direção. Como protagonista, Gosling
compõe um personagem silencioso, que não tem medo de longas pausas e não
economiza nos olhares significativos. Tudo isso perfeitamente equilibrado.
Tão famosa e aclamada no universo Cult quando o próprio filme, a trilha sonora entra em simbiose com
o que se passa na tela. Contribuindo para destacar o clima anos 80, Nigthcall,
por Kavinsky, traz ao filme um som eletrônico, mas calmo. Seguindo um estilo
parecido, Real Hero, da banda College, propõe a frase que define o
protagonista: “real human being and a real hero” (ser humano de verdade e herói
de verdade). O Motorista, movido por paixões humanas, abre mão de sua própria
segurança para salvar a quem ama. Mas vale o aviso para que ninguém se deixe
enganar pela descrição que dei até agora: Drive,
apesar de ser um filme sobre o amor, não é um filme de romance fofinho.
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Ryan Gosling e Carrey Mulligan em cena. |
Por fim, a direção. Nicolas Winding Refn é o grande
responsável por unir de forma tão bem-sucedida e harmoniosa os elementos que
compõem o filme. Roteiro, atuação, trilha sonora, arte, tudo contribui para uma
única atmosfera. A calma das cenas noturnas, enquanto dirige pelas ruas vazias
da cidade, reflete a personalidade do Motorista. As luzes dos outros carros e
dos postes passam por seu retrovisor embaçadas, desinteressantes. Nos dias em
que está com Irene, porém, o sol brilha e o ambiente é iluminado por uma luz
dourada. São esses jogos de iluminação que, aliados à atuação, revelam as
emoções que os personagens não põem em palavras.
Drive não é um
filme de muitos diálogos. Apenas o essencial é dito, deixando para todos os
outros elementos cinematográficos a tarefa de contar a história, e ao
espectador a tarefa de desvendar os personagens. Isso sim é cinema.