quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Um espião à moda antiga.


Baseado no romance homônimo de John Le Carré e dirigido pelo sueco Tomas Alfredson, Tinker Tailor Soldier Spy (que no Brasil virou Um espião que sabia demais) é um filme de espionagem como há muito não se via. Dispensando as cenas de ação, tiroteios e explosões, o diretor constrói uma atmosfera de suspense à moda antiga, em que cada silêncio e cada olhar valem mais do que mil balas.

No meio da guerra fria, o clima de tensão se intensifica entre ocidente e oriente. A espionagem e contra-espionagem são as principais armas dos Estados em oposição. George Smiley (Gary Oldman) é um dos principais integrantes do Circo, como o MI6 chama a cadeia de comando da inteligência britânica. Forçado a se aposentar juntamente com Control (John Hurl), o comandante geral, Smiley tenta seguir com sua vida. Control, contudo, é misteriosamente assassinado, e Smiley é chamado para investigar as suspeitas de seu antigo chefe de que haveria um agente duplo infiltrado no Circo.

Gary Oldman como o agente George Smiley
                                  
Alfredson acerta perfeitamente o tom da direção, harmonizando fotografia, direção de arte e direção de atores para criar o ambiente de suspense que o roteiro exige. Um aspecto interessante do roteiro, contudo, é a abordagem da vida pessoal dos espiões, sem perder tempo demais explicando contextos, mas também sem simplificar em excesso relações complexas de confiança, amor e traição. São situações que compõem os personagens e nos lembram que nenhum homem vive só para o dever, embora possa dedicar toda a sua vida a pô-lo em primeiro lugar.

Um Espião... desmitifica um pouco a figura do espião seguro de si, que vive uma vida glamorosa e sempre explode alguma coisa no final. Nesse filme, o espião é um homem que lê, escuta, pensa, tem medo e se arrisca, sim, mas dorme em um sofá puído com mais freqüência do que em uma cama king size de um hotel cinco estrelas. O espião é um homem que lida com sutilezas e desconfianças em um período de incertezas, e quando a investigação se torna em ralação a um dos seus, o trabalho apenas se complica. 


Para compor as nuances do filme, dois elementos foram essenciais: o elenco (aliado à direção de atores, é claro) e a montagem. O primeiro, com Gary Oldman liderando um time de grandes nomes, está afinadíssimo. John Hurl, Colin Firth, Mark Strong, Toby Jones, Benedict Cumberbatch, Tom Hardy, enfim, estão todos ótimos. A montagem, por sua vez, consegue transferir a atenção do espectador de um personagem ao outro, levando as suspeitas a mudarem de um a outro apenas por deixar o quadro em alguém por um frame ou dois a mais.

Alfredson mostra que a verdadeira espionagem é feita de sussurros e encontros secretos, e não de tiros e explosões.
                                        
O Oscar esse ano pode estar uma bagunça, mas acertou ao indicar Gary Oldman ao prêmio de melhor ator, além de nomear O Espião que sabia demais nas categorias de melhor roteiro adaptado e melhor trilha sonora. Faltou, é claro, reconhecer o trabalho da montagem e do diretor, Tomas Alfredson, que não ganharam indicações. Sem falar que O Espião... ficaria muito melhor na lista de melhores filmes do que, por exemplo, Cavalo de Guerra.

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