quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Um herói de verdade.


Drive teve aprovação altíssima em Cannes, festival em que seu diretor, Nicolas Winding Refn, foi premiado. Sua estréia oficial foi em setembro de 2011, e agora chega às salas do Brasil.

Um garotão solitário e caladão, que trabalha em uma oficina, é dublê em filmes de ação e faz bico como motorista para criminosos. Esse é o personagem sem nome de Ryan Gosling em Drive. Com um visual anos 80 e um quê de Robert De Niro em Taxi Driver, o Motorista parece não esperar muito da vida, não demonstrando praticamente nenhuma emoção a não ser um ocasional minúsculo sorriso sem dentes a sua vizinha Irene (Carey Mulligan) e ao filho dela.

O Motorista: excelente atuação de Ryan Gosling.

Irene, contudo, consegue quebrar a barreira de silêncio e paciência comedida do rapaz, descobrindo seu lado mais amável. O modo como o diretor constrói o envolvimento dos dois é delicado e tocante. Sem beijos extravagantes e sem juras de amor, a conexão se constrói por meio da troca de olhares e sorrisos contidos. Quando o marido de Irene saí da prisão, contudo, um obstáculo surge entre os três, criado não pelo ciúme, mas pelo envolvimento com o crime.

Três aspectos fundamentais se destacam em Drive: a atuação de Ryan Gosling, o trabalho com a trilha sonora e, é claro, a direção. Como protagonista, Gosling compõe um personagem silencioso, que não tem medo de longas pausas e não economiza nos olhares significativos. Tudo isso perfeitamente equilibrado.

Tão famosa e aclamada no universo Cult quando o próprio filme, a trilha sonora entra em simbiose com o que se passa na tela. Contribuindo para destacar o clima anos 80, Nigthcall, por Kavinsky, traz ao filme um som eletrônico, mas calmo. Seguindo um estilo parecido, Real Hero, da banda College, propõe a frase que define o protagonista: “real human being and a real hero” (ser humano de verdade e herói de verdade). O Motorista, movido por paixões humanas, abre mão de sua própria segurança para salvar a quem ama. Mas vale o aviso para que ninguém se deixe enganar pela descrição que dei até agora: Drive, apesar de ser um filme sobre o amor, não é um filme de romance fofinho.

Ryan Gosling e Carrey Mulligan em cena. 

Por fim, a direção. Nicolas Winding Refn é o grande responsável por unir de forma tão bem-sucedida e harmoniosa os elementos que compõem o filme. Roteiro, atuação, trilha sonora, arte, tudo contribui para uma única atmosfera. A calma das cenas noturnas, enquanto dirige pelas ruas vazias da cidade, reflete a personalidade do Motorista. As luzes dos outros carros e dos postes passam por seu retrovisor embaçadas, desinteressantes. Nos dias em que está com Irene, porém, o sol brilha e o ambiente é iluminado por uma luz dourada. São esses jogos de iluminação que, aliados à atuação, revelam as emoções que os personagens não põem em palavras.

 Drive não é um filme de muitos diálogos. Apenas o essencial é dito, deixando para todos os outros elementos cinematográficos a tarefa de contar a história, e ao espectador a tarefa de desvendar os personagens. Isso sim é cinema. 

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