Um pouco sobre a mostra Brasília
de curtas-metragem.
Uma das melhores maneiras de
conhecer a produção cinematográfica local é assistir à mostra Brasília de
curtas-metragem. É nessa mostra que se pode encontrar os cineastas da cidade
que, por qualquer motivo, não fizeram um longa, mas que batalharam para dar
vazão às suas idéias e à sua expressão criativa no formato audiovisual. No
segundo dia da mostra, sábado (23), encontrei filmes com uma qualidade técnica
muito superior a que eu esperava, além de uma deliciosa criatividade em
roteiros de ficção e uma abordagem tocante, mas não piegas, nos documentários.
Cidadão de Limpeza Urbana, documentário de Lucas Madureira e
Thandara Yung, abriu a tarde de apresentações mostrando a rotina dos garis e
coletores de lixo. Os entrevistados falam sobre as horas de trabalho sob
sereno, chuva e noites frias, falam sobre o preconceito que sofrem – inclusive,
em alguns casos, de seus próprios filhos –, e do orgulho que sentem por exercerem um
trabalho honesto e de vital importância para a sociedade.
Cidadão de Limpeza Urbana: documentário sobre a rotina dos garis e coletores de lixo de Brasília |
Com Kinólatras, os roteiristas Tiago Belotti, Rodrigo Luiz Martins,
Gustavo Serrate e Ana Flávia fazem piada com o vício dos cineastas que, mesmo
diante das dificuldades de produzir cinema no Brasil, não desistem de filmar. Apresentado
na forma de uma reunião do “Kinólatras anônimos”, os personagens tentam se
livrar de seu vício seguindo oito passos. Sem muitas variações de enquadramento
e com uma fotografia dura, o curta compensa com as piadas, que encontraram na
platéia do Festival de Brasília o seu público-alvo ideal.
O terceiro curta da tarde foi Vida Kalunga, dirigido por Betânia
Victor Veiga. Impressionante principalmente pela escolha dos enquadramentos e
pela beleza da fotografia, que produzem um filme esteticamente muito marcante,
o documentário mostra a vida dos kalungas, comunidade que constitui o maior
território quilombola do Brasil. O curta é construído por depoimentos de
kalungas, que falam sobre seus antepassados escravizados, sua relação com a
terra e o orgulho que sentem pela história da comunidade.
Voltando ao âmbito da ficção, Meu Amigo Nietzsche, escrito e dirigido
por Fáuston da Silva, conta a história de como o estudante Lucas encontra o
famoso filósofo alemão. Ao encontrar no lixo o livro Assim falava Zaratustra, de Nietzsche, Lucas inicia uma jornada
para compreender o livro, o que acaba gerando grandes transformações em sua
vida. Outro filme que impressionou pela beleza estética, Meu Amigo Nietzsche também apresenta um roteiro afiado, que sabe
equilibrar comédia e reflexão social.
O menino Lucas conhece as idéias do filósofo alemão em Meu amigo Nietzsche. |
O último documentário da tarde, Jangada de Raiz, de Edson Fogaça, mostra
como o pescador artesanal Edilson Miguel da Silva constrói o principal
instrumento de seu trabalho com as próprias mãos. Último homem que conhece a
técnica da construção de jangada com raízes, Edilson decide realizar uma última
obra. Assim como os dois anteriores, Jangada
de Raiz é um filme com belíssimos enquadramentos e incrível fotografia.
Para fechar, O corpo da carne, de Marisa Mendonça, trouxe uma experiência
sensorial e intimista. Ivan é um açougueiro que vê sua relação com o trabalho
mudar após presenciar um acidente em que um operário da construção civil cai de
um andaime. Trabalhando cores e texturas na tela, a diretora transmite as
sensações e reflexões do personagem sem a necessidade de palavras.
O 45° Festival de Brasília do
Cinema Brasileiro termina amanhã, com a noite de premiação, evento restrito a
convidados.
Olá Rê Gomes, tomei liberdade de postar o trecho do seu texto sobre o Kinólatras no site onde publiquei o curta. Obrigado pelo comentário, é sempre bom saber que existem alguns guerreiros da platéia que realmente assistem e pensam sobre o que exibimos no festival.
ResponderExcluirhttp://www.cineasta81.com.br/curta-kinolatras/