Edgar (Fernando Alves Pinto) não faz nada da vida. Vive
confortavelmente às custas do pai, já que sua tentativa de trabalhar não deu
certo e a vida de vagabundo é muito mais atrativa. Ele divide seu tempo entre o
vídeo game e a pornografia, ou a pornografia e o vídeo game. Mas Edgar tem um
plano. E esse plano vai mais do que dar sentido à sua vida: vai consumi-lo por
completo.
Sem querer entregar muito o roteiro, pode-se dizer que o
plano de Edgar é no mínimo engenhoso. O melhor
do filme é ir juntando os pedacinhos que o autor e diretor Afonso Poyart vai
liberando aos poucos, envoltos em muitos tiros, slow motion e efeitos de animação.
2 Coelhos é o primeiro longa da
carreira do diretor, e seu background como
diretor de comerciais e videoclipes fica evidente em sua maneira de conduzir o
trabalho. Em 2 Coelhos cada frame
parece gritar por atenção, cada minuto parece construído como um comercial que
precisa fascinar rapidamente o público e vender seu produto. A importância dada
a aliança de música com imagem é altíssima, e a estética acelerada do
videoclipe marca forte presença. É quase impossível piscar.
Alessandra Negrini e Fernando Alves Pinto em cena. |
O que mais se destaca no filme, contudo, é a influência da
cultura pop. A presença das interferências de animação, da realidade digital do
vídeo game e dos bandidos que usam uma katana não deixa dúvidas quanto a isso. Os
figurinos também são um ponto importante, compondo discretamente os
personagens. É interessante notar a transição do figurino de trabalho da
promotora Julia (Alessandra Negrini) para suas roupas mais “dia-a-dia”.
Classificado como um filme de ação, 2 Coelhos não economiza balas, fogo ou explosões. Os efeitos
físicos foram muito bem executados pela equipe técnica, e a montagem contribuiu
bastante para o sucesso do resultado final.
Poyart também foi muito bem-sucedido na seleção do elenco e
na direção dos atores. Caco Ciocler dá aos silêncios e tiques nervosos de seu
personagem Walter todo o significado das palavras não ditas. Alessandra Negrini
conduz Julia, que sofre de ataques de pânico, de forma natural, sem cair no
exagero. Por fim, Fernando Alves Pinto faz do nerd folgado Edgar um cara levemente
psicótico, o anti-herói por quem adoramos torcer. Os personagens em si são
muito humanos. Nenhum bandido é simplesmente bandido, nenhum herói é
simplesmente herói. São todos seres humanos buscando seu caminho, por mais torto
que esse possa ser.
Juntando todas as pontas do quebra-cabeças que forma, 2 Coelhos é um grande êxito. Um dos
melhores filmes brasileiros da última década, se não de todos os tempos. E com
certeza o mais pop já feito.
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