domingo, 14 de novembro de 2010

Uma impostora involuntária.

Breakfast at Tiffany’s é o famoso filme que, em português, virou Bonequinha de luxo. A imagem de Audrey Hepburn de vestido preto, colar de pérolas e coque no cabelo fazendo biquinho com uma longa piteira em mãos tornou-se ícone da cultura pop. O que realmente acontece no filme, no entanto, nem todo mundo sabe. E muito menos o que está por trás de seu enredo.

Em 1958, Truman Capote publicou Breakfast at Tiffany’s, que no Brasil ficou sendo Ao começo do dia. Atualmente, devido ao sucesso da adaptação cinematográfica de 1961, é possível encontrar o livro como homônimo da tradução do filme, Bonequinha de Luxo. É um livro bem pequeno, que nos apresenta Holly Golightly exatamente como vemos no filme: alegre, despreocupada e meio destrambelhada. O que o cinema fez, contudo, foi suavizar os aspectos que indicam que Holly é, na verdade, uma garota de programa.

No filme, é revelado que ela sobrevive saindo para jantar com cavalheiros e pedindo cinqüenta dólares para ir ao toalete – mais cinqüenta para o táxi. Já no livro, ela faz as suas contas e revela já ter tido pelo menos onze amantes. Não que isso a torne menos graciosa e cativante. Truman Capote escreve tudo com leveza, e é impossível não se juntar ao grupo de apaixonados por Holly Golightly.

Quanto a sua relação com o homem que no filme é Paul Varjak (George Peppard), mas no livro é apenas chamado de Fred por Holly – a história é narrada em primeira pessoa por ele, há algumas diferenças. Fred escreve em seu relato estar apaixonado por Holly,mas nenhum romance realmente existe entre os dois, e é possível perceber que o sentimento do rapaz é de um amor mais fraternal. Já me disseram que ele era, na verdade, gay, mas eu não encontrei nenhuma evidência óbvia desse fato na ficção. No longa, Paul e Holly se apaixonam, e Hepburn e Peppard protagonizam uma das cenas românticas mais bonitas da história do cinema.

Garota de programa ou não, a graça e a leveza da personagem envolvem tanto a quem lê sobre ela quanto a quem assiste a brilhante interpretação de Hepburn. É impossível pensar em outra atriz que faria uma Holly Golightly tão perfeita. E com o tempo, Audrey e Holly tornaram-se quase a mesma pessoa. A imagem da atriz na pele da personagem se fixou tão fortemente na cultura pop que muitos a admiram sem nem ao menos conhecerem a sua história. O que não é difícil, pois é uma imagem que transmite glamour e luxo, e que, somada a tradução em português do título, só pode gerar interpretações equivocadas.

Audrey como Holly. Existe imagem mais glamurosa?

Tenho certeza de que a popularização da imagem de Audrey como Holly começou devido ao sucesso do filme. E perpetuou-se pelo estilo transgressor da personagem. No passado, admirar Holly Golightly era admirar um estilo de vida boêmio, alternativo, era levantar-se contra a moral familiar tradicional. Mas o tempo passou, a foto ficou e a história por trás dela, em grande parte, se perdeu. Hoje não passa de uma garota bonita com uma gargantilha de pérolas e aparência de rica e mimada.

Eu amo Holly Golightly. Tanto a Holly do livro quanto a Holly do filme, mas fico imaginando se as adolescentes que atualmente se dizem “bonequinhas de luxo” realmente gostariam de viver aquele estilo de vida, se sabem o que a personagem representa – ou deveria representar. A imagem desvinculada da história fez dela quase um mito, mas a admiração sem o véu da ignorância é sempre mais sincera. E as pessoas deveriam conhecer de verdade o que admiram.

Um comentário:

  1. Essa história é tão linda (L)
    Concordo plenamente, as pessoas não sabem o contexto e admiram apenas pela estética né? Não acho tão válido...
    o que acontece com as pin ups também. É triste.
    Adoro a Audrey :D

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