segunda-feira, 16 de maio de 2011

O bom coração

O bom coração (The good heart), do diretor Dagur Kári, é um filme independente de 2009. Ancorada na relação entre um dono de bar rabugento e um rapaz morador de rua, a história é contada com uma direção de arte aliada à uma fotografia que “apaga” as cores, mergulhando o espectador em um ambiente sombrio e sujo. As cenas são secas e duras, não sei se herança da direção ou do roteiro. O que sei é que ri das falas engraçadas e não senti tanta comoção quanto imagino que o diretor tenha planejado para seu público.

Lucas (Paul Dano) torna-se pupilo de Jacques (Brian Cox)

A chegada de Jacques (Brian Cox) ao hospital após seu quinto infarto parece apenas uma visita rotineira, até que ele conhece seu colega de quarto, Lucas (Paul Dano). O rapaz é um morador de rua que sobreviveu a uma tentativa de suicídio. O dois se aproximam durante sua internação, e quando Lucas recebe alta, Jacques vai atrás dele e o leva para viver e trabalhar em seu bar.

A intenção de Jacques é que o bar continue a funcionar após a sua morte. Para isso, ele “treina” Lucas para o serviço. Segundo o velho, o garoto deve ser rude, algo totalmente contrário a sua natureza ingênua e gentil. Quando o coração de Jacques falha mais uma vez, o espectador tem a certeza de que suas suspeitas sobre o desfecho do filme, construídas antes mesmo que os primeiros doze minutos de projeção se completem, acontecerão.

Histórias de jovens pupilos de senhores de idade carrancudos não são novidade. Gran Torino (2008), de Clint Eastwood, é somente o exemplo mais fácil de lembrar quando o tema surge. Trata-se da história de um veterano de guerra que ensina um jovem garoto a se tornar um homem, superando as barreiras da idade e da etnia para construir uma amizade verdadeira. O bom coração não recebeu tantas críticas positivas quanto Gran Torino, pelo menos nos Estados Unidos. Alguns reclamaram que o filme não fez um retrato realista de Nova Iorque, cidade em que a história se passa, outros, que os personagens não são verossímeis. Não posso deixar de dar-lhes certa razão, mas acho que essas opiniões derivam de uma mentalidade muito fechada em relação ao cinema.

Em O bom coração, o duro ensina a ser rude, enquanto o ingênuo ensina a ser gentil.

Em primeiro lugar, o fato da história se passar em Nova Iorque é totalmente irrelevante. Não se trata de um retrato da cidade, e sim do retrato do encontro de duas pessoas. A cidade poderia ser qualquer uma. É qualquer uma. O problema não é o filme, e sim os americanos, que pensam que todo o filme que se passa em Nova Iorque deve retratar Nova Iorque. Não deve.

Em segundo lugar, os personagens são, apesar de tudo, envolventes. Com certeza as ótimas atuações de Brian Cox e Paul Dano são as maiores responsáveis pelo carisma dos dois protagonistas. Não acho, contudo, que a concepção dos personagens seja fraca em si. Que o tom do filme não é realista, isso fica evidente. A diferença é encarar isso como um erro ou como um estilo. Com certeza não é o melhor filme que eu já vi, mas a previsibilidade do roteiro me incomoda mais do que a falta de verossimilhança com que são tratados locação e personagens.

E uma coisa que eu não entendi: por que enforcaram o gato?

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