terça-feira, 12 de abril de 2011

O mundo surreal de Zack Snyder

ATENÇÃO: Esse texto todo é um enorme SPOILER. Conto tudo o que acontece no filme MESMO.

Enfim, Sucker Punch. Difícil falar a respeito. Acho que eu ainda não consegui decidir se odiei ou se o filme apenas não atingiu as minhas expectativas.

A abertura, desenvolvida como se fosse um videoclip, começa com uma narração piegas sobre anjos, e em seguida mostra as tragédias da vida de Baby Doll, papel que Emily Browning interpreta no melhor estilo Bella Swan (Kristen Stewart, em Twilight). Após perder a mãe, ela tenta salvar a irmã mais nova dos abusos do padrasto e acaba matando acidentalmente a menina. Alegando que Baby Doll sofre de problemas mentais, o padrasto a interna em uma instituição e suborna um dos funcionários para que ela seja submetida a uma lobotomia. Ainda dentro do videoclip inicial, Baby Doll conhece seu fatídico destino, sendo também apresentada a suas companheiras na instituição. Ela encontra as garotas em um palco, em que as pacientes são postas a interpretar seus traumas como parte de seu tratamento. Os cinco dias que a separam de sua lobotomia se passam em uma elipse em meio a música, até que Baby Doll senta-se na cadeira à espera do procedimento. É nesse momento que o diretor Zack Snyder nos leva para dentro da mente dela.

Emily Browning como a frágil Babt Doll.

Em sua imaginação, Baby Doll é recém chegada a uma espécie de cabaré/prisão em que as garotas devem dançar em trajes mínimos para agradar aos clientes ricos. Nem um ínfimo passo de dança é mostrado. Snyder deixa para a imaginação do espectador determinar que dança é essa que – especialmente no caso de Baby Doll – prende tanto a atenção dos homens. A prostituição das garotas é algo insinuado, mas Snyder não insiste na idéia. O que é mais interessante é que, além de dançar, as garotas acumulam tarefas como lavar o chão e descascar batatas. A carga de fetiches que elas carregam sobre os ombros é enorme.

As garotas do cabaré.

Frágil e assustada, Baby Doll é “reservada” para um cliente especial que chegará em cinco dias. Quando dança em seus ensaios, Baby Doll entra em um segundo mundo imaginário, um lugar fantástico onde ela é uma guerreira habilidosa. Juntamente com Sweet Pea (Abbie Cornish), Rocket (Jenna Malone), Blondie (Vanessa Hudgens) e Amber (Jamie Chung), ela deve encontrar cinco itens que proporcionarão sua liberdade. É nesse ambiente que toda a ação acontece. Com uma estética de videogame, esse “mundo surreal” apresenta um novo cenário para cada desafio que as garotas devem enfrentar. Nesse universo imaginário, as garotas são guiadas por um homem que primeiro aparece como uma espécie de monge, em seguida como um general (Scott Glenn). Ele lhes fornece armas e instruções a cada “missão”.

No cabaré ou na guerra, sempre sensuais.

Os diálogos são mínimos e a ação toma conta do filme. Tiros, explosões, e Baby Doll realizando o mesmo salto lateral umas três ou quatro vezes. A semelhança de um videogame, cada “fase” que as garotas devem cumprir apresenta um cenário característico. E percebe-se que Snyder aproveitou alguns efeitos especiais guardados nos armários da Warner: estão lá os orcs da trilogia O Senhor dos Anéis e o dragão de Harry Potter e o Cálice de Fogo. Inclusive, a manobra que Amber utiliza para se livrar da perseguição do monstro, passando por baixo de uma ponte, é bem semelhante a que Harry usa em seu próprio filme.

O final do filme é coerente, pelo menos. Baby Doll não se salva, mas consegue fazer com que Sweet Pea escape. É coerente porque Sweet Pea tem uma família para quem voltar, é muito mais forte e não é lânguida como Baby Doll. Mas não pense que a frágil garota não obtém sua justiça. Sim, Sucker Punch é um filme de final feliz, acredite você ou não. O encerramento apresenta a continuação da narração inicial, completando a idéia de que o filme trata, na verdade, de anjos de bondade infiltrados entre as pessoas. Mas quem seria o tal anjo? Baby Doll ou o General? Ou ambos?

Baby Doll: doente mental, dançarina, guerreira ou anjo da guarda? Nem mesmo ela sabe.

Vamos elencar os diversos elementos que Snyder usa no filme, só para deixar claro: uma garota órfã condenada a uma lobotomia desnecessária, um cabaré/prisão que explora jovens meninas, um grupo de mulheres guerreiras que deve realizar missões em cenários que vão de um castelo medieval a um campo da batalha da II Guerra, e a idéia principal do filme: há anjos entre nós. Assimilou tudo? Eu também não.

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